Um surto psicótico-etílico e mania de perseguição motivaram o atentado cometido pelo servidor público Gilberto do Amaral contra o candidato a prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha, e do cabo da Polícia Militar, Vanilson João Pereira, ocorrido em 28 de setembro deste ano. É o que conclui relatório da Operação Paranaíba, da Polícia Civil, em apresentação realizada no Fórum de Itumbiara, nesta sexta-feira (25).
A Polícia Civil também concluiu que o autor do atentado agiu sozinho. As investigações apontaram que não houve rixa por conta de disputa de terras, nem agressão ou perseguição a Gilberto por parte do então candidato à Prefeitura de Itumbiara, Zé Gomes.
Duas pessoas ficaram feridas no atentado, entre elas o vice-governador e secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás (SSPAP), José Eliton e o ex-secretário de comunicação de Itumbiara, Célio Rezende.
O delegado Douglas Pedrosa, responsável pela operação, afirma que a Polícia Civil acredita “que, dentro da mente do Gilberto, ele se sentia perseguido, independente de ter ou não motivo para isto”, afirma. “Ele era uma pessoa conturbada e de caráter duvidoso, que cometeu um ato de barbárie contra pessoas de bem”, diz. “As provas que nós coletamos durante o período de investigação nos apontam para este desfecho”, conclui.
O prefeito eleito de Itumbiara, Zé Antônio, destacou os esforços das investigações, mas observa que “infelizmente, não trará de volta o Zé Gomes e o cabo Vanílson ao nosso meio”, afirma. “O traço psicótico, estimulado pela ambientação em que o Gilberto vivia, o estimulou ao extremo, à barbárie, que ceifou a vida de pessoas importantes para a nossa sociedade”, diz.
De acordo com a PC, Gilberto do Amaral tomava o remédio Anfepramona, utilizado para emagrecimento desde 2004, e o misturava com álcool. O delegado Douglas Pedrosa afirma que “isto fazia com que ele ouvisse vozes”. O surto, aliado a uma série de circunstâncias variadas, também motivou o atirador a cometer a barbárie, aponta o comandante da força-tarefa.
Motivações
A primeira peça deste complexo quebra-cabeça que culminou no atentado em Itumbiara foi iniciada anos antes, quando Gilberto ouviu um boato de que seria transferido para ser coveiro no cemitério municipal. As investigações apontam que esta situação não ocorreu, mas que, na lógica de Gilberto, seria orquestrada por Zé Gomes.
Em sequência, anos após, em fevereiro de 2016, Gilberto começou a trabalhar com um político adversário de Zé Gomes. Em julho, este candidato foi vítima de um assalto na cidade. Na época, surgiram boatos de que o crime teria sido orquestrado por Zé Gomes. “Isto foi desmentido, mas o Gilberto, com a sua mania de perseguição, acreditava que o assalto foi encomendado pelo ex-prefeito”, analisa Douglas.
Mais uma peça surge em agosto, quando Gilberto foi trabalhar com a camiseta de um adversário político, e o seu chefe imediato pediu para que trocasse de roupa, devido ao impedimento legal em repartição pública. No dia seguinte, de acordo com Douglas Pedrosa, o autor do atentado faltou ao emprego na prefeitura e teve o ponto cortado. Nesta situação, Gilberto pediu para ser transferido da pasta.
Posteriormente, ele se arrependeu da transferência e pediu para seguir no mesmo cargo e local. “A partir dali, já havia sido iniciado o trâmite legal do pedido, o que irritou o Gilberto”, diz Douglas Pedrosa. Esta situação foi mais uma peça para que o autor do atentado seguisse acreditando que era perseguido por Zé Gomes.
Em 15 de setembro, em conversa com amigos em um bar de Itumbiara, ele afirmou que, mesmo que Zé Gomes fosse eleito, ele não assumiria a prefeitura, causando estranheza para quem ouviu o desabafo. Em 27 do mesmo mês, um dia antes do atentado, confidenciou que poderia cometer um crime e fugir para o Tocantins, mas sem especificar quem seria a vítima.
No mesmo dia, ele foi até Araporã, cidade mineira e vizinha de Itumbiara, e testou sua pistola, adquirida de maneira ilegal. Na manhã do dia 28, às 7h, Gilberto saiu para comprar remédios, mas não conseguiu o produto, o que o frustrou profundamente. Por volta das 14h20, teve outra discussão com um aliado político do Zé Gomes. “Foi dito para ele que a eleição já estava ganha e que a carreata seria da vitória”, conta o Douglas Pedrosa.
Após o incidente, Gilberto seguiu até o comitê de campanha do candidato em que trabalhava na época. Lá, conversou com integrantes no local e partiu para sua residência, aonde pegou o Siena, propriedade de seu filho, veículo utilizado para cometer a barbárie.
A Polícia Civil destaca que Gilberto agiu, naquele momento, por impulso, já que deixou o celular em casa e carregando, tinha pouco dinheiro no bolso e o tanque do carro não estava cheio – todos indícios de que não poderia fugir. “Esta situação também denota que agiu como suicida. Ele sabia que não iria sair vivo daquela situação”, conclui Douglas Pedrosa.
Zé Gomes não agrediu
A linha de investigação também descartou duas possíveis motivações. A primeira seria uma suposta briga e agressão contra Gilberto, cometidas por José Gomes da Rocha e um segurança. “Este boato se tornou forte dias após o atentado. Não há nenhuma prova que isto tenha acontecido”. O outro entrevero seria por conta de uma suposta briga por terras, que também foi descartado por não haver nenhum indício
No atentado, José Eliton levou tiros na região do abdômen, passou por cirurgia no Hospital Municipal de Itumbiara, foi transferido para o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage Siqueira (Hugol), em Goiânia, onde recebeu alta dias depois.
À época, o vice-governador afirmou que “a atuação dos demais policiais foi fundamental”. Segundo observa, “eles foram para o enfrentamento, inclusive, colocando a sua vida na proteção dos demais que estavam ali”. Para ele, “se os policiais não tivessem conseguido abater aquele homem insano, teria tido uma tragédia muito maior naquele episódio”.
A força-tarefa da Operação Paranaíba envolveu 14 delegados de polícia da especializada e de delegacias circunscricionais, além de agentes policiais de várias unidades, totalizando aproximadamente 80 profissionais. Em quase dois meses de investigações, mais de 90 oitivas e 20 laudos periciais foram realizados para descobrir as causas do atentado do dia 28 de setembro que levou à morte o então candidato à prefeitura de Itumbiara. Num inquérito, as investigações buscaram a materialidade, a autoria e a motivação do crime. No caso do atentado de Itumbiara, a materialidade e a autoria já estavam definidas no momento de instauração do inquérito. Por isso, as investigações buscaram a motivação do atentado.