Polícia de SP prende suspeito de participar de incêndio à estátua de Borba Gato
Também foi presa a mulher do suspeito e foram cumpridos três mandados de busca e apreensão, segundo a polícia
A Polícia Civil de São Paulo prendeu na tarde desta quarta-feira (28) o entregador de aplicativos Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, uma das pessoas suspeitas de participação do incêndio da estátua de Borba Gato, no dia último dia 24.
A prisão temporária de Lima foi comunicada primeiro na página oficial do próprio entregador no Instagram, quando ele chegava à delegacia esponteamente para depor. Na nota à imprensa, Galo, que admite participação no incêndio, reclama de a prisão ter sido estendida à mulher dele, Gessica.
“Gessica [nem] sequer estava presente ao ato político do dia 24/07 e tem uma filha de 3 anos de idade com Paulo, também detido nesta data”, diz nota.
Galo, também fundador do Movimento dos Entregadores Antifascistas, disse que participou do vandalismo à estátua do bandeirante paulista para “abrir o debate”.
“Para aqueles que dizem que a gente precisa ir por meios democráticos, o objetivo do ato foi abrir o debate. Agora, as pessoas decidem se elas querem uma estátua de 13 m de altura de um genocida e abusador de mulheres”, disse o entregador, conforme nota, a respeito do ataque à estátua.
A prisão temporária do casal é pelo prazo de cinco dias. Além dos pedidos de prisão, foram cumpridos ainda três mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos suspeitos, segundo a polícia.
As investigações continuam.
Ainda no comunicado à imprensa, a assessoria de Lima informou que a prisão temporária dele foi expedida pela Justiça momentos antes de ele se apresentar espontanemente ao 11º DP (Santo Amaro), onde prestaria esclarecimentos sobre o incêndio.
O advogado André Lozano Andrade disse considerar a prisão do entregador e da mulher dele “absolutamente desnecessária”, até porque o rapaz se apresentou e está colaborando com as investigações, como ter confessado a participação dele no incêndio.
No depoimento de mais de quatro horas, ainda segundo o defensor, Lima contou como planejou o ataque e que o objetivo dele não era o de apagar o passado, mas promover o debate sobre o tratamento dado a uma pessoa que matou e escravizou pessoas no Brasil.
“É impossível a gente negar a importância que o Hitler tem para a história da Alemanha e para história mundial. Isso não quer dizer que vamos deixar uma estátua de Hitler numa praça de Berlim. Seria absolutamente incabível. Hitler tem sua importância histórica, deve ser lembrado, inclusive para que não cometamos esse erro novamente. Assim como os bandeirantes”, disse Andrade.
O entregador de aplicativos afirmou aos policiais que decidiu realizar uma ação mais drástica contra a estátua do bandeirante porque as ações anteriores, como colocação de caveiras e banho de tinta, não tiveram quase nenhuma repercussão na opinião pública e entre as autoridades.
“Mas não foi uma ação violenta, ninguém ficou ferido nessa. Ele disse para o delegado: ‘As pessoas se importaram mais como o fogo em um bloco de concreto do que com o fogo numa mulher trans’”, disse.
Andrade disse que Lima não citou o nome dos colegas que participaram da ação. “Preservou o nome das outras pessoas. Se essas outras quiseram vir à delegacia para dar o nome, ele não se opõe, mas não incentiva ninguém a fazer isso. Vai de cada pessoa”, disse ele.
Quanto a Gessica, ele disse que devem pedir à Justiça a prisão domiciliar para ela. Já para Lima, as medidas ainda serão estudadas.
Outro representando do casal, o advogado Jacob Filho, critiou a prisão decretada pela Justiça paulista, em especial da mulher de Paulo, por ter uma criança sob os seus cuidados. Para ele, o Judiciário teria outras formas para resolver a questão sem precisar mandar prender uma mãe, com um filho pequeno.
“Mas o Judiciário hoje, que anda nessa situação extremamente caótica e sombria, vivendo num estado policialesco e circense, que é o que de fato tem acontecido, decreta a prisão de uma mãe sem sequer questionar nada. Para dizer o mínimo, é uma prisão ilegal”, afirmou ele.
Além do pedido de prisão, ainda de acordo com nota à imprensa, a Justiça também concedeu ordem de busca e apreensão de endereços ligados ao suspeito. “O mandado de busca e apreensão para a residência de Paulo havia sido expedido para o local errado e Paulo apresentou seu endereço correto, autorizando e possibilitando a entrada em sua residência”, diz a nota.
Além de Lima, também se apresentou espontaneamente à polícia Danilo Oliveira (Biu), que também assumiria sua participação no ato, segundo a nota. A polícia confirmou que Oliveira seria ouvido e liberado na sequência.
A polícia já tinha indiciado Thiago Viera Zem, dono do caminhão que foi usado para o transporte de pessoas e pneus até o monumento de Borba Gato.
Os advogados do entregador tentaram evitar a prisão apresentado uma petição informando que Paulo Lima queria colaborar com as investigações.
Eles também pediam acesso ao inquérito para poder exercer o direito de defesa. E afirmam que, mesmo ciente do risco de prisão, o entregador “não irá se furtar de seu dever cívico frente à autoridade policial e o poder Judiciário”.
No último dia 24, um grupo desembarcou de um caminhão e espalhou pneus na avenida Santo Amaro e em torno do monumento, ateando fogo logo depois. O movimento Revolução Periférica assumiu a autoria do incêndio.
Policiais militares e bombeiros chegaram na sequência, controlaram as chamas e liberaram o tráfego. O ato terminou sem feridos nem detidos.
Em um vídeo postado nas rede sociais no dia 14 de julho, um dos integrantes do grupo afirmava que Borba Gato contribuiu ativamente para o genocídio da população indígena.