Polícia desarticula esquema de liberação irregular de presos em Aparecida de Goiânia
52 pessoas, entre servidores do sistema prisional e advogados, foram presos suspeitos de cobrar até R$ 150 mil para garantir a liberdade a criminosos de alta periculosidade
Um esquema criminoso que teria beneficiado com a liberdade 26 presos de alta periculosidade que cumpriam pena ou aguardavam julgamento no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia foi desarticulado pela Polícia Civil. Durante a Operação Livramento, 52 pessoas, entre advogados e servidores da agência prisional foram presas.
Em uma investigação que durou seis meses, agentes da Delegacia Estadual de Repressão ao Crime Organizado (Draco) descobriram que, nos últimos 12 meses, presos estariam pagando de R$ 50 mil a até R$ 150 mil para serem liberados da Casa de Prisão Provisória, da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG) ou do Presídio Semiaberto, unidades que ficam dentro do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Segundo o delegado Breynner Vasconcelos, titular da Draco, agentes prisionais e vigilantes penitenciários temporários falsificavam documentos, atestados médicos e até assinaturas de presos.
“Eram vários os esquemas, que iam desde a alteração da ficha criminal de presos que estavam na POG ou na CPP para que eles pudessem ser beneficiados com progressão de pena, como também a confecção de falsas propostas de emprego para que condenados que estavam no semiaberto conseguissem o direito à liberdade”, destacou. Há casos também, ainda de acordo com o titular da Draco, de servidores que recebiam para assinar a presença de presos que tinham que dormir no semiaberto, mas que passavam até três meses sem retornar ao presídio. “No caso do semiaberto detectamos que agentes cobravam até mesmo favores sexuais de companheiras de detentos como pagamento para que eles pudessem ser liberados”, contou o titular da Draco.
Os casos mais graves detectados, porém, foram os de cinco condenados por crimes como roubos a bancos e tráfico de drogas colocados em liberdade após os servidores enviarem documentos falsificados para o juiz de execuções penais, que então concedeu a eles o alvará. “Os advogados instruíam os agentes e ajudavam na falsificação destes documentos. Um deles, inclusive, fazia questão de afirmar para os agentes e familiares de condenados que tinha carta branca com o juiz, o que, descobrirmos durante as investigações, não era verdade”, pontuou Breynner Vasconcelos.
Entre os 52 presos na operação, 13 são servidores efetivos e 17 temporários da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), cinco advogados, e 17 condenados que já cumprem pena em Aparecida de Goiânia. O nome dos presos não foi divulgado, mas o titular da Draco informou que entre eles há dois ex-diretores da SAP e o atual diretor do presídio semi-aberto.
Somente um cinco dos advogados preso preventivamente, Thiago Hauscar Santana Vidal, teve o nome divulgado. Há dois anos ele ficou conhecido por ter sido o primeiro defensor do vigilante Thiago Henrique, apontado como o Serial Killer que matou mais de 30 pessoas em Goiânia.
Dos 26 presos que foram liberados com o esquema fraudulento, segundo a Polícia Civil, apenas três ainda não foram recapturados. A grande maioria dos servidores suspeitos de participação no esquema, afirmou o titular da Draco, mantinham uma vida de alto padrão.