INVESTIGAÇÃO

Polícia e Ministério Público investigam vereador do Rio acusado de assédio

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro abriram investigações contra o vereador e…

A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro abriram investigações contra o vereador e ex-policial militar Gabriel Monteiro (sem partido). Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, cinco pessoas o acusaram de cometer abusos sexuais e morais e de manipular vídeos. As acusações foram a público no último domingo (27).

A polícia afirmou que instaurou um inquérito para apurar denúncia de assédio sexual na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá, na zona oeste carioca, mas não confirmou o nome da vítima referente a esse caso, porque ela não quis se identificar.

A Promotoria abriu um inquérito civil para apurar uma possível violação de direitos de uma criança que aparece em uma das gravações do político e pediu que ele retire o vídeo do ar. Também vai analisar se investigará o suposto uso indevido de funcionários públicos para fins privados.

No caso dos abusos sexuais, o órgão diz que “aguarda iniciativa de apresentação das denúncias por parte das supostas vítimas de assédio e estupro, citadas na reportagem, para atuação nos casos”. Nesse tipo de crime, é necessário que as próprias vítimas prestem queixa.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal também se reúne na tarde desta terça (29) para analisar o caso de Monteiro.

As acusações partiram de uma funcionária que trabalhou para ele, de três servidores que são ou foram lotados em seu gabinete na Câmara Municipal e de uma mulher que já teve relações sexuais com o vereador, que teve sua identidade preservada.

O vereador, que ficou famoso principalmente no Facebook e no YouTube postando gravações do que ele chama de fiscalizações, nega qualquer abuso e diz que é vítima de uma máfia. Ele foi o terceiro mais votado no Rio de Janeiro nas eleições de 2020, com mais de 60 mil votos então pelo PSD.

Segundo a reportagem do Fantástico, uma das mulheres afirmou que inicialmente a relação foi consensual, mas depois terminou em estupro.

Dois ex-assessores disseram ao programa que recebiam pedidos para fazer carinho no vereador. Uma ex-assistente de produção também afirmou ter sido assediada e que precisou procurar um psiquiatra porque se sentia culpada e pensou em se matar.

Um quinto funcionário contou que Gabriel se masturbava na frente de toda a equipe. Outra acusação feita contra o vereador é a de que ele manipulou vídeos de um suposto tiroteio e outro em que aparece com uma criança.

A abertura do inquérito civil do Ministério Público é referente a esse caso e cita o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata da “inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.

“Tal vídeo vulnera, a um só turno, os princípios da proteção integral da criança e do adolescente e da finalidade social da internet”, diz a portaria, que também pede que o gabinete do vereador informe os dados da menina para avaliar se será necessária a aplicação de medidas protetivas.

Ainda de acordo com a reportagem, o gabinete do vereador tem 25 servidores, mas no dia a dia o local fica vazio.

O ex-policial chegou a ser expulso da Polícia Militar em agosto de 2020, acusado de deserção por ter faltado ao trabalho por oito dias, mas depois foi reintegrado dizendo ter sido licença médica. Uma semana depois, deixou a corporação para ser pré-candidato a vereador.

Na época, ele também respondia a um procedimento interno na Comissão de Revisão Disciplinar por quebra de hierarquia.

Vereador nega acusações

Nas redes sociais, o vereador fez postagens se defendendo e publicou partes da entrevista concedida ao programa da TV Globo.

“Desde que eu combati essa máfia dos reboques prometeram acabar não só com a minha vida, mas também com a minha reputação. Falar que eu estou abusando sexualmente das pessoas… Toda a minha vida é gravada”, disse ele ao repórter em trecho que não foi ao ar.

Ele se refere à empresa JS Salazar, que era responsável pela administração dos pátios e dos reboques do Rio de Janeiro, mas teve o contrato rompido pela prefeitura após Monteiro divulgar que seu dono, Jailson dos Santos Salazar, teria tentado suborná-lo, oferecendo R$ 200 mil por mês.

Sobre a mulher que disse ter sido estuprada, ele afirmou: “Se a pessoa foi estuprada, não tentaria voltar na minha casa de forma consensual, entrar na minha casa mesmo sem um convite, levar as amigas dela até mesmo sem eu chamar […] ​Tenho todas as provas de que ela me procurou muito depois de ter ficado comigo duas vezes”.

Ele diz que a mulher é amiga de uma funcionária que teria procurado sua assessoria, via advogado, pedindo R$ 100 mil para não acusá-lo “de algo” na televisão. Mostrando um suposto áudio, ele afirma que ela disse ter licença médica para não trabalhar, mas que continuou trabalhando por fora.

Quanto às denúncias de assédio moral, xingamentos e jornadas exaustivas, ele rebateu que nunca obrigou ninguém a dormir em sua casa e que tem “praticamente uma relação familiar com os funcionários. Que foge totalmente à relação de trabalho. A gente joga futebol, luta, sai junto”, declarou.

Quanto ao vídeo do tiroteio que teria sido manipulado, ele falou que sua equipe foi atacada durante uma festa que organizou para uma criança da comunidade. “Não houve nada ficcional”, afirmou, inserindo fotos de marcas de tiros em um carro num boletim de ocorrência —não é possível checar a data.

Já sobre a menina que filmou, ele argumentou que a família tinha conhecimento da gravação, que sua equipe já havia lhe passado as informações sobre seu histórico e que só lhe pediu para falar que seu pai era alcoólatra, por exemplo, para que os seguidores entendessem a realidade da criança.

O vereador citou que as doações renderam R$ 70 mil aos parentes e postou um vídeo com a mãe em que ela fala que nada que sua filha disse era mentira, que ela não tinha almoçado naquela tarde. Ele não comentou sobre sua escolta particular.