Polícia prende 16 investigados por sumiço de meninos no Rio de Janeiro
Operação mirou suspeitos de serem traficantes, mas desaparecimento ainda não foi solucionado
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu temporariamente 16 pessoas que estão sendo investigadas pelo desaparecimento de três meninos desde dezembro em Belford Roxo, na região da Baixada Fluminense. Não se sabe, porém, se eles têm relação com o caso, que continua sem solução após quase cinco meses.
Os detidos são suspeitos de integrarem uma facção criminosa que comanda o tráfico de drogas no Complexo do Castelar e de realizarem uma espécie de tribunal do crime na região, além de diversos roubos de veículos e cargas, segundo a corporação, que não divulgou seus nomes.
A pista mais concreta divulgada até agora sobre o sumiço dos garotos é a gravação de uma câmera de segurança que mostra Lucas, Alexandre e Fernando andando normalmente em uma rua de um bairro vizinho naquele dia 27 de dezembro. O horário da filmagem marca 13h39min.
As crianças foram reconhecidas nas imagens no início de março, após limpeza e análise feitas pelo Ministério Público estadual com um programa mais sofisticado. Os policiais já haviam colhido gravações de dezenas de câmeras, mas como a qualidade estava ruim não haviam identificado os meninos.
As famílias criticam a lentidão na resolução do caso e dizem que a polícia demorou a agir. “Naquele dia em que fomos na delegacia, se tivessem puxado as câmeras, ido atrás das crianças, tenho certeza de que teríamos tido uma resposta”, disse Tatiana Ribeiro, mãe de Fernando, à Folha no mês passado.
As mães ouviram de agentes que só poderiam registrar o sumiço 24 horas depois, sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê buscas imediatas. “Eles demoraram e ainda está demorando, porque o caso do Henry [Borel, 4, espancado e morto em março] em menos de um mês teve resultado. Me sinto humilhada porque não tenho dinheiro, meu filho não é branco”, afirmou na ocasião.
A corporação diz que já fez mais de 80 diligências, além de buscas em diversos bairros do Rio e de cidades da Baixada, onde imagens foram coletadas e apresentadas às famílias. Também rebate que começou a apuração “imediatamente após a comunicação” do fato, com o registro da ocorrência e um primeiro depoimento formal.
Para a defensora pública Gislaine Kepe, que acompanha as mães, há um despreparo em geral da Polícia Civil na busca de pessoas desaparecidas: “Ela é equipada para investigar crimes, e nem sempre há crimes envolvidos nessas ocorrências, por isso é preciso criar grupos especializados, como já existe na cidade do Rio”.
A Baixada Fluminense tem um problema crônico de desaparecimentos, com cerca de 15 registros diários, segundo Bruno Dauaire, secretário estadual de Direitos Humanos. A taxa foi de 32 casos a cada 100 mil habitantes na região em 2020, contra 28 no estado todo.
Para se ter uma ideia, o RJ registrou quase tantos sumiços (3.350) quanto homicídios dolosos (3.544) no ano passado, de acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública).