HOMOFOBIA

Policial gay do DF é punido após falar sobre orientação sexual no Youtube

O policial militar do Distrito Federal, Henrique Harrison, foi punido com um repreensão após publicar um…

O policial militar do Distrito Federal, Henrique Harrison, foi punido com um repreensão após publicar um vídeo no seu canal do Youtube comentando sobre como lidou com a sua orientação sexual dentro do ambiente de trabalho. Assumidamente gay, ele foi alvo de comentários homofóbicos durante a formatura após postar uma foto em que dá um beijo no marido comemorando a conquista.

O conteúdo foi publicado por Harrison no ano passado, após a cerimônia em que foi alvo de ofensas. No vídeo, o policial militar relata como foi a sua experiência ao assumir a sexualidade na corporação e comenta o triste episódio que ocorreu na formatura. “Nesse vídeo tinha um simulacro na minha cômoda. Então me imputaram por portar arma de fogo institucional em atividade estranha a policial militar”, explicou ele ao UOL.

Harisson disse que foi abordado na véspera do casamento para que a sua arma fosse retida. Ele sofreu restrição de utilizá-la e ia para o trabalho desarmado.

“Quando pegaram minha arma eu fiz uma denúncia na Câmara do Distrito Federal pedindo esclarecimentos do fato e por conta disso abriram outra sindicância por eu ‘faltar com a verdade'”, afirmou.

A decisão da Corregedoria da Polícia Militar saiu na última segunda-feira (5). A repreensão diz respeito a infrações dos artigos 40, que fala sobre “portar-se de maneira inconveniente ou sem compostura” e do artigo 59, que repreende “discutir ou provocar discussão, por qualquer veículo de comunicação, sobre assuntos políticos ou militares, exceto se devidamente autorizado.”

Contudo, Harrison contesta essa versão. “Policiais têm canais no YouTube, eles falam de armas, e não há aplicação de repreensão. Eles querem prejudicar minha sexualidade”, defendeu o policial. Ele disse que a opinião é pessoa, como cidadão civil, e que ela não necessariamente representa a corporação.

A sindicância a respeito da denúncia na câmara, por sua vez, ainda está em aberto. “Todos os policiais cometem coisas piores e não são investigados. Os policiais que cometeram crime de homofobia contra mim está com o processo sem andar. Comigo o procedimento anda e sou punido.”

O policial disse que está afastado do cargo com laudo psiquiátrico por conta do episódio. “Depois que eu recebi a segunda sindicância, eu realmente não conseguia trabalhar porque eu ficava com medo de receber mais punição, ficava com medo de trabalhar.”

Foto em que Harisson foi alvo de comentários homofóbicos (Foto: divulgação)

Apoio de colegas de farda

Apesar do triste episódio, Harisson afirma que recebeu apoio de outros colegas diante da situação. “No meu privado, eu conheço muitos policiais que me enviaram mensagens de apoio, mas publicamente eles não fazem isso. Eles postam fotos sempre sozinhos, mesmo namorando, levam uma vida mais discreta, deixam de viver muita coisa”, comentou.

“Eu nunca quis deixar de fazer isso porque eu tenho os mesmos direitos, porque se os outros policiais podem eu também posso. Eu não faço nada que os outros policiais não façam”, pontuou.

O policial disse que uma das motivações em entrar na corporação foi o fato de já ter sido destratado em uma abordagem pelo fato de ser homossexual. “Se eu sofresse homofobia na rua, eu tenho que ligar para a polícia. Como eu vou ter esse respaldo que se o policial que está na rua pode ser alguém que luta contra a minha existência? Então quando eu entrei na polícia eu pensei nisso.”

O que diz a PM

Em nota ao UOL, a Polícia Militar do Distrito Federal informou que a corporação “sempre seguirá o devido processo legal dentro do arcabouço legislativo, respeitando sempre os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.”

“Todo processo administrativo realizado pela Polícia Militar também seguirá os preceitos da ampla defesa e do contraditório. Todos os procedimentos ora citados, até o presente momento, não foram findados em suas decisões, não tendo, portanto, até a presente data, qualquer tipo de solução, seja ela publicada para punir, arquivar ou tombar em Inquérito Policial Militar”, diz comunicado.

Além disso, a corporação defendeu que, no caso de divergências ou dúvidas, “qualquer policial militar poderá solicitar junto à Corregedoria, por meio de seu defensor, o andamento das apurações.”