Policial que pediu para casar fardado na Parada LGBT é alvo de ameaças; sargento é suspeito
“Vou te caçar e vou te ensinar a virar homem na porrada”. Essa é apenas…
“Vou te caçar e vou te ensinar a virar homem na porrada”. Essa é apenas uma das dezenas de ameaças recentes sofridas pelo soldado da Polícia Militar Leandro Prior, 28, gay e militante pelos direitos da população LGBT em São Paulo.
A mensagem acima de tom homofóbico contra Prior teria sido escrita e enviada pelas redes sociais por um colega de farda da vítima, um sargento aposentado da Polícia Militar. Nas quatro mensagens escritas pelo mesmo autor –todas elas imersas entre muitas palavras de baixo calão–, Leandro é convidado a “dar baixa” da corporação e é ameaçado de ser espancado, um corretivo para ele “não desonrar a minha gloriosa PM”.
O soldado não pode dar entrevistas sobre o caso sem autorização de seus superiores. Por meio de uma carta aberta publicada na internet, o PM disse que vai buscar reparação na Justiça. “Quanto às ameaças e injúrias recebidas, seja por membros da instituição ou não, todas elas já estão encaminhadas e sendo rigorosamente acompanhadas. Para os que destilam todo o seu ódio com seus discursos moralistas na internet, contando com a boa e velha impunidade à brasileira, aguardem o que está por vir, pois a Justiça virá”, escreveu.
A reportagem aguarda uma manifestação da Polícia Militar sobre o caso de Leandro Prior. Prior vem sendo alvo de um ataque homofóbico orquestrado desde que tentou em público pedir o seu namorado em casamento na avenida Paulista durante a 23ª edição da Parada do Orgulho LGBT, realizada no dia 23 de junho na capital paulista.
Na ocasião, o soldado foi impedido pela corporação de fazer a surpresa fardado porque as normas da instituição “não preveem o uso do fardamento por policial militar em folga durante manifestações”, segundo trecho de nota da Polícia Militar.
Na mesma nota encaminhada à imprensa, a instituição ressaltou que também negou, há cinco anos, o pedido do grupo “PMs de Cristo”, que queria utilizar o uniforme na Marcha para Jesus. Bem distante da Parada, Leandro cumpriu o seu plano e, no mesmo dia do evento, pediu a mão do olheiro de agência de modelos Elton da Silva Luiz, 26, na Praça Largo Coração de Jesus, no centro da capital paulista. No local, há uma base comunitária da PM, inaugurada em junho de 2014, sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).
Em frente à base da PM, o pedido de casamento foi feito de forma clássica. O soldado se aproximou, ajoelhou e, mostrando uma aliança, falou o nome completo do futuro marido e lhe fez o pedido. A data do casamento ainda não foi marcada pelo casal.
Após a repercussão do gesto, o militar diz que as ameaças só aumentaram. Em uma das mensagens, um internauta escreveu: “você é uma vergonha para a organização da PM. Farei de tudo para destruir sua vida dentro dela.”
Em outra, um homem desejou que o soldado fosse expulso da instituição apenas por ser gay. “Esse cara tem que ser expulso da corporação. Como eu conheço bem a PM, a cama dele tá pronta. É só a poeira baixar”.
Antonio Alexandre Dantas de Souza, advogado do soldado, disse que comunicou a Polícia Civil sobre as ameaças sofridas pelo seu cliente. “A polícia vai identificar, por meio de seus canais de inteligência, os autores das ameaças e, partir daí, apurar as responsabilidades cabíveis num inquérito policial.”
Na denúncia, o advogado quer que a autoridade policial investigue o crime como homofobia, equiparada no mês passado pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal como crime de racismo. Sobre a ameaça feita por um sargento aposentado da PM, o advogado afirmou que já sabe o nome completo do suspeito e que as mensagens escritas por ele também foram levadas ao conhecimento da Polícia Militar.
“O ambiente militar sempre foi machista e predominantemente masculino. O fato de ter um militar dentro do estado de São Paulo atuante na causa gay gerou uma comoção para ambos os lados”, afirmou Souza.
Não é a primeira vez que Leandro Prior é alvo de ataques homofóbicos. Em junho de 2018, após ser filmado fardado em um vagão do metrô beijando um rapaz, que não é o seu atual noivo, foi alvo de uma série de ofensas e até ameaça de morte.
O soldado também respondeu a processos administrativos da própria Polícia Militar por transgressões como usar fone de ouvido fora do quartel, demonstrar intimidade com outra pessoa fardado em local público e estar com coldre desabotoado e desatento à sua própria segurança.
Na época, Prior chegou a pedir afastamento e ficou fora do serviço por cerca de 60 dias. O soldado tem quase cinco anos de serviços prestados à Polícia Militar e é coordenador nacional de segurança pública da Ong Aliança Nacional LGBTI+.
“Eu tenho orgulho de ser um LGBTI+ que veste a farda da Policia Militar de São Paulo. Se, de algum modo, a instituição ou qualquer dos seus membros, por razões de preconceito tendem a discriminar [pessoas dessa população], deverão ser punidos no rigor da lei desta sociedade que juramos proteger. Mais uma vez reforço, jamais permitirei que suprimam a minha dignidade”, escreveu Prior em carta aberta.