Porteiro demitido após socorrer vítima de acidente recebe ofertas de emprego
Porteiro foi desligado da empresa após deixar a guarita do condomínio para socorrer uma vítima de acidente de trânsito
O homem que trabalhava como porteiro e foi desligado após deixar a guarita do condomínio para socorrer uma vítima de um acidente de trânsito em Marília, no interior de São Paulo, se prepara para a recolocação profissional após receber quatro ofertas de emprego, desde que sua história ficou conhecida. Juliano Amaro da Silva, 44, também decidiu que vai processar a empresa para a qual trabalhava, que justificou que a demissão se deu pelo fato dele ter ficado ausente por 2h21 após o resgate, deixando o edifício “absolutamente vulnerável”.
“Desde que o caso explodiu, recebi umas quatro ofertas de emprego para a área de segurança. Uma delas, inclusive, de um lugar onde eu já trabalhei anteriormente”, explicou ele ao UOL. Segundo o profissional, a ajuda também veio de um deputado estadual de São Paulo, que publicou um ofício para as empresas de Marília a fim de ajudá-lo na busca por um novo emprego. No entanto, até o momento, Juliano não conseguiu firmar nenhum contrato.
Ele afirmou que a família do acidentado ainda busca manter contato com ele e que não se arrepende de ter socorrido a vítima de 41 anos. “Faria outra vez”, afirmou. Juliano ainda revelou que está muito “agradecido” pela mobilização que surgiu após a repercussão da história. Ele recebeu diversas doações em dinheiro e promessas de cestas básicas. No entanto, disse ainda estar abalado com a situação. “Nunca passei por isso antes. É muita coisa para a minha cabeça e ainda estou chateado com tudo o que aconteceu”, diz.
Ao UOL, o porteiro informou que pretende mover uma ação contra a empresa. “Ainda estamos esquematizando uma boa defesa para ele, mas já sabemos que vamos pleitear danos morais”, afirmou à reportagem a advogada Rubia Alves Lopes Jardim, que representa Juliano ao lado do advogado Artur Mechedjian.
Rubia afirmou que, no termo de rescisão de Juliano, não havia a informação de que o desligamento era por justa causa. “A empresa chamou ele no escritório e deu essa situação para ele: ou pedir demissão, ou ser demitido por justa causa. E ele não pediu demissão. A gente entende que o motivo, portanto, foi o fato dele ter abandonado o posto para salvar a vida do rapaz e, por isso, vamos pleitear danos morais.”
A advogada ainda criticou a nota divulgada pela empresa para explicar a ocorrência. “A empresa não pode divulgar informações sobre o funcionário. Ele está transtornado porque se dispôs a ajudar uma pessoa que corria o risco de morrer e depois a vida dele foi destruída. Além de demitirem um pai de família, que ajudava a manter a casa, ele ainda teve a identidade difamada. E isso no interior é muito ruim porque atrapalha a busca por outro emprego.”
Na ocasião, o Grupo IF3 alegou que a demissão teria diversos motivos, incluindo múltiplas advertências verbais, ausência da guarita além do tempo necessário e o que classificou como “condutas inapropriadas”. Juliano prestou serviços no Edifício Spot por um total de nove meses e nega ter recebido qualquer advertência, apontando, inclusive, ausência de supervisão no turno da noite.
“Obtivemos alguns depoimentos de moradores do condomínio entristecidos pelo fato dele ter sido demitido. Pelo o que ouvimos, ele era o porteiro mais querido de lá. As pessoas não acreditaram que ele tinha sido demitido por ter prestado socorro no acidente. Não temos nenhuma prova de que ele tinha condutas inapropriadas, nenhum registro. São apenas argumentações”, defendeu a advogada Rubia Alves.
A ação ainda não foi protocolada e, segundo a advogada, Juliano ainda está realizando entrevistas e em trâmites de seleção antes de fechar um novo contrato de trabalho.
O UOL entrou em contato com o Grupo IF3 que informou que “não haveria porque constar ‘Demissão por Justa Causa’ porque a dispensa de fato não foi por justa causa, apesar da falta grave cometida.”
“O Grupo IF3 reitera ainda que segue rigorosamente a legislação trabalhista vigente e, portanto, não tem mais nada a declarar sobre os fatos já esclarecidos”, informou a empresa em nota.