OCUPAÇÃO

Prédio do governo é ocupado por cerca de 300 mulheres indígenas em Brasília

Marcha composta por 110 povos busca pressionar governo de Jair Bolsonaro por melhorias na saúde indígena

Índias ocupam prédio da Funasa, em Brasília, onde fica a Secretaria de Saúde Indígena (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Cerca de 300 mulheres indígenas ocuparam na manhã desta segunda-feira (12) um prédio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em Brasília. O ato é uma forma de pressionar o governo Jair Bolsonaro por melhorias na saúde indígena, sobretudo das mulheres —elas esperam uma reunião hoje para tratar o tema.

Líderes indígenas estão reunidas desde sábado (10) em Brasília para a Marcha das Mulheres Indígenas. Organizada pela Abip (Articulação Brasileira dos Povos Indígenas), a marcha tem o objetivo de discutir o que é ser mulher nas comunidades indígenas. As atividades seguem até esta quarta-feira (14).

O tema do protesto é “Território: nosso corpo, nosso espírito”. A organização estima a participação de 1.500 pessoas de 110 povos.

O grupo chegou em marcha ao local, no Setor de Rádio e TV Norte, por volta das 10h. Seguranças tentaram conter a manifestação mas as indígenas ingressaram no prédio, onde também funciona a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).

A maioria das mulheres está no térreo e no 4° andar do prédio, onde fica a Sesai. Elas dizem que irão dormir no local caso não haja diálogo com representantes do governo.

Segundo Celia Xakriabá, da comissão organizadora, o grupo tentou um encontro com a chefe da secretaria, Silvia Waiãpi, mas ela não atendeu as indígenas. “A notícia que se tem é que ela estava aqui e esvaziou o setor quando chegamos”, disse.

Silvia é indígena e militar, e foi escolhida para o cargo pelo governo Bolsonaro. O movimento indígena acusa o governo de usar a secretária para dividir os povos. Uma das maiores preocupações é a ameaça de mudança na política da saúde indígena, como a municipalização das ações.

A atuação histórica de Bolsonaro contra os movimentos e direitos indígenas e recentes medidas do governo, relacionadas à demarcação de terras e à Funai, aumentam a tensão.

“Tem muitas mulheres que nunca saíram das suas terras e estão aqui. Não é só um ato simbólico. A guerra do século 21 é pelo território, e querem adoecer nosso corpo e nossa alma”, diz Celia.

“Não estamos aqui porque é bonito ou fácil. Se não tem lugar para as mulheres indígenas, não vai ter pra ninguém”, diz. “E falar de saúde das mulheres não é desconectado dessa luta. Temos medo de permanecer vivas sem dizer quem a gente é. A nossa herança sempre vai ser a luta.”

Indígenas reclamam que as condições do atendimento de saúde nas comunidades têm provocado aumento de doenças e mortes. Cunllunh Teiê Xokleng, 61, diz que no polo de saúde de sua comunidade, em José Boiteux (SC), há falta de insumos básicos até para limpeza. “Onde está o dinheiro da saúde indígena?”, questiona.

A programação da Marcha prevê debates sobre violação de direitos e empoderamento político, entre outros temas, e um encontro com autoridades, como ministros do STF (Supremo Tribunal Federal)

As indígenas montaram também um acampamento no gramado da Funarte (Fundação Nacional das Artes). A Funasa foi procurada, mas até a publicação deste texto não havia se pronunciado.

*Com informações da Folha de São Paulo