Prefeitura do Rio tem milhares de frascos de álcool em gel vencidos há meses
Especialista diz que fora do prazo e nas condições de armazenamento encontradas, eficácia do produto, primordial na prevenção ao coronavírus, não pode ser garantida; município pediu troca do lote
Em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus, com aumento de casos e pressão por leitos, a prefeitura do Rio de Janeiro tem em estoque milhares de frascos de álcool em gel com o prazo de validade vencido há dois meses, amontados num galpão, como antecipou a colunista Berenice Seara, do Extra. Também chamam a atenção centenas de aparelhos médicos comprados da China, ainda lacrados em caixas.
— Eram prateleiras e mais prateleiras (de caixas de álcool em gel), boa parte fora da validade. E tive a informação de que frascos já tinham sido distribuídos para profissionais de saúde — relatou o futuro secretário de Saúde, Daniel Soranz, que não soube precisar a quantidade exata do material.
Eficácia em risco
Presidente do Conselho Regional de Química do Rio, o professor Rafael Almada destaca que, além da questão da validade, a forma como os frascos de álcool em gel ficam armazenados pode diminuir a eficácia do produto, primordial na prevenção da Covid-19, principalmente nos hospitais. Os rótulos de alguns frascos que estão estocados pela prefeitura mostram que o produto foi fabricado em abril de 2020 e tem validade de seis meses.
— Fora da validade, o produto pode oferecer problemas de eficácia, como menor aderência. E, quando ouço que o produto foi encontrado num galpão, em caixas de papelão, é algo que assusta ainda mais. O álcool tem uma forma específica de ser armazenado, e a temperatura e a umidade são fatores que influenciam. Se não for guardado dentro dos cuidados, há possibilidade de evaporação, de reduzir a concentração. Certamente não tem eficácia garantida — alertou.
O subsecretário executivo da Secretaria municipal de Saúde, Jorge Darze, afirmou que foi publicada nesta terça-feira no Diário Oficial uma notificação para que a empresa ZI Comercial e Distribuidora de Cosméticos Ltda fizesse a troca do lote com validade vencida num prazo de 48 horas. Em nota, ele diz que as informações divulgadas pelo futuro secretário são inverídicas. “Como gestor que foi — e que será em breve —, deveria Daniel Soranz preocupar-se com o cidadão e não em fazer política fora de hora e com base em mentiras”, diz o texto.
Daniel Soranz diz que no galpão, em Duque de Caxias, há equipamentos avaliados em cerca de R$ 100 milhões, que chegaram da China entre maio e julho. Documentos sobre o estoque, obtidos pelo futuro secretário, mostram que estão ali 616 peças, entre as quais 48 aparelhos de anestesia, 107 desfibriladores e 57 monitores. O relatório destaca, por exemplo, que entraram no depósito 154 aparelhos de raios X digitais e que foram retirados 63, restando 91 no espaço. Além de estar sem uso, o material guardado ainda representa um custo para os cofres públicos: esse documento mostra que a Milano, a quem pertence o galpão, cobra R$ 82.758,19 da prefeitura pelo armazenamento.
— São R$ 100 milhões em equipamentos comprados pela Secretaria municipal de Saúde que não têm previsão para serem instalados. Todos com foco cirúrgico: hemodiálise, monitores. Não há nem uma relação de unidades de saúde com previsão de recebê-los — disse Soranz.