CPI DA COVID

Prevent e médicos do ‘gabinete paralelo’ fizeram ‘pacto’ para validar cloroquina, diz advogada

Bruna Morato citou profissionais que, segundo a CPI, faziam aconselhamento paralelo do presidente Jair Bolsonaro na pandemia

Prevent e médicos do 'gabinete paralelo' fizeram 'pacto' para validar cloroquina, diz advogada (Foto: Agência Senado)

Em depoimento à CPI da Covid do Senado na tarde desta teça-feira, a advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos da operadora de saúde Prevent Senior, disse que a empresa fez um pacto com médicos do suposto “gabinete paralelo” da presidência da República para tentar validar a a hidroxicloroquina como remédio contra a doença e, assim, tentar evitar um “lockdown” (confinamento como forma de evitar a propagação da doença).

A advogada falou em depoimento à comissão na condição de responsável por ajudar médicos a elaborar um dossiê com denúncias envolvendo a Prevent Senior. Morato compilou material, já entregue à CPI que elenca uma série de irregularidades cometidas pelo plano de saúde durante da pandemia, entre os quais a ocultação de mortes pela doença e a prescrição de remédios sem eficácia – como a cloroquina.

A Prevent já negou as acusações. No último dia 22, também em depoimento à comissão, o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior, admitiu que a operadora usou remédios ineficazes contra a Covid, como cloroquina, mas somente com o consentimento de pacientes ou de seus parentes, e que os médicos tinham autonomia para prescrevê-los ou não. Ele negou que a empresa tenha omitido óbitos.

Porém, a advogada apresentou informações diferentes das de Pedro Benedito: “Existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo. Eles desenvolveram uma estratégia: através do aconselhamento de médicos, esses médicos eu posso citar de forma nominal – Anthony Wong, Nise Yamaguchi, Paolo Zanotto – e que a Prevent Senior ia entrar para colaborar com essas pessoas. É como se fosse uma troca, a qual chamamos na denúncia de pacto, porque assim me foi dito”, disse a advogada.

“O que eles falavam eram em alinhamento ideológico. Tinha que dar esperança para as pessoas irem às ruas, e essa esperança tinha um nome: hidroxicloroquina”, continuou Morato.

De acordo com a advogada, cada médico teria uma atribuição específica dentro desse “pacto”. A Anthony Wong caberia “desenvolver um conjunto medicamentoso atóxico”, enquanto a médica Nise Yamaguchi “deveria disseminar informações a respeito da resposta imunológica das pessoas”.

Já o virologista Paolo Zanotto deveria trabalhar na comunicação, falando a respeito do vírus e do tratamento “de forma mais abrangente” e “evocando notícias”.

A advogada afirmou ainda que a “aliança” com esse conjunto assessores transferiu “certa segurança” à Prevent Senior de que não sofreria fiscalizações por parte do Ministério da Saúde ou de órgãos vinculados à pasta.

“Foi essa segurança que fez o interesse de iniciar um protocolo inicial certos de que não seriam investigados pelo ministério”, disse Morato.

Tentativa de aproximação com Mandetta

Aos senadores, Morato também afirmou que o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, tentou se aproximar do Ministério da Saúde após as críticas feitas pelo então ministro Henrique Mandetta sobre a alta quantidade de óbitos nos hospitais da operadora.

“O ministro Mandetta não deu essa abertura, fazendo com que eles procurassem outras vias. Segundo informações, o dr. Pedro foi informado de que existia um conjunto de médicos assessorando o governo federal e que esse conjunto de médicos estaria totalmente alinhado com os interesses do Ministério da Economia”, afirmou.