GUERRA NA UCRÂNIA

Primeira-dama da Ucrânia publica vídeo com festa nas ruas de Kherson: ‘Imagens que fazem chorar’

Rússia concluiu nesta semana remoção de todos os seus soldados e equipamentos militares de Kherson

Primeira-dama da Ucrânia publica vídeo com festa nas ruas de Kherson: 'Imagens que fazem chorar' (Foto: Reprodução)

A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, publicou nesta sexta-feira imagens dos moradores de Kherson comemorando nas ruas a retirada das tropas russas da cidade. A Rússia concluiu nesta data a remoção de todos os seus soldados e equipamentos militares da localidade considerada estratégica.

“‘Nosso’. Quanto poder há nesta palavra. Milhares de pessoas nas ruas de Kherson encontram seus defensores com bandeiras azuis e amarelas – imagens que trazem lágrimas aos olhos de todos os ucranianos hoje”, escreveu Olena na legenda da publicação, no Twitter.

“Os nossos estão em casa. Kherson está livre. Em breve, toda a Ucrânia estará livre”, acrescentou a primeira-dama ucraniana.

As imagens mostram carros passando pelas ruas de Kherson com centenas de pessoas com bandeiras da Ucrânia na calçada. Os veículos são saudados pelos moradores.

Retirada russa

Horas depois da retirada russa, a Ucrânia anunciou que suas forças entraram na cidade, que antes da guerra tinha cerca de 300 mil habitantes e fica na margem direita do Rio Dniéper — que a separa do restante da região, ainda sob controle russo.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, celebrou a retirada, afirmando que Kherson é “nossa”.

— Hoje é um dia histórico! — afirmou Zelensky em seu pronunciamento diário via redes sociais.

Já no Telegram, o líder ucraniano escreveu que os habitantes da cidade “nunca abandonaram a Ucrânia”, afirmando: “Nosso povo. Nossa. Kherson”, com um emoji da bandeira nacional e um vídeo que parecia mostrar soldados ucranianos com residentes locais.

Moscou anunciou os planos de desocupar a capital provincial depois de dois meses de pressão das forças ucranianas, que cortaram rotas de suprimento vitais para as tropas inimigas. A retirada é considerada um revés simbólico para o Kremlin, que em março, no início da guerra, ocupou toda a província, que tem ligação por terra com a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. No entanto, analistas militares avaliam que, embora o recuo seja uma derrota, a retirada também indica a estratégia do novo comandante militar russo na Ucrânia, Sergei Surokivin, de reforçar as frentes russas no resto da região.

“Hoje, às 5h em Moscou (23h de quinta-feira no horário de Brasília), a transferência das tropas russas para a margem esquerda do Rio Dniéper foi concluída”, postou o Ministério da Defesa russo nas redes sociais. No total, 30 mil soldados e 5 mil peças de artilharia e veículos militares foram retirados da capital provincial, disse a pasta.

Segundo o ministério, as forças ucranianas tentaram interromper a retirada lançando múltiplos mísseis com o sistema Himars, fornecido pelos Estados Unidos, sobre os cruzamentos do Dniéper. Apesar disso, ainda de acordo com a pasta, as tropas da Ucrânia foram detidas por fogo antiaéreo e de artilharia entre 30 e 40 quilômetros da margem do rio e não houve vítimas ou perda de equipamentos durante a operação.

No meio da tarde, no horário local, autoridades ucranianas divulgaram vídeos que mostram moradores da cidade hasteando bandeiras ucranianas e saudando a chegada das primeiras tropas do país. “Kherson está voltando ao controle da Ucrânia, e unidades das Forças Armadas da Ucrânia estão entrando na cidade”, disse um comunicado do serviço de inteligência militar ucraniano.

Em setembro, Kherson foi uma das quatro regiões ucranianas cuja anexação à Federação Russa foi anunciada pelo presidente Vladimir Putin e aprovada pelo Parlamento russo, numa medida considerada ilegal pelo direito internacional. O Kremlin afirmou que, apesar da retirada, a Rússia continua a considerar que toda a província lhe pertence.

— A província é um assunto da Federação Russa. Isso é fixado e definido por lei, e não há e não pode haver nenhuma mudança — disse o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, garantindo que o território é inegociável e respondendo com um breve “não” quando perguntado se a retirada é uma humilhação para o presidente.

Kiev, por sua vez, classificou a retirada como mais uma importante vitória em um território que Moscou reivindicou como seu. “A Ucrânia conquista outra importante vitória agora e prova que não importa o que a Rússia faça, a Ucrânia vencerá”, disse o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, no Twitter.

Segundo moradores da região, a retirada ocorreu em meio a explosões na Ponte Antonov e sua ponte auxiliar sobre o Rio Dniéper. Imagens postadas nas redes sociais mostram a infraestrutura parcialmente destruída, supostamente por forças russas buscando proteger sua retaguarda na margem esquerda. Na província de Kherson, a única ponte sobre o Dniéper que continua em pé é a da cidade de Nova Kajovka, de onde os russos também estão se retirando.

A Ponte Antonov estava sob fogo ucraniano há meses, com o lançamento de mísseis de longo alcance para danificar a extensão e limitar a capacidade dos russos de reabastecer suas forças que estavam na capital. Contudo, os militares ucranianos tiveram o cuidado de não a destruir, aparentemente querendo preservá-la para perseguir as forças russas que partiam.

Por sua vez, depois de ordenar que todos os civis deixassem a cidade de Kherson e vilarejos próximos no mês passado — 70 mil pessoas foram retiradas —, as forças russas explodiram pontes e colocaram uma vasta rede de minas para retardar o avanço ucraniano sobre suas antigas posições.

Na quinta-feira, as forças ucranianas passaram por cidades e vilarejos abandonados pelos russos após meses de ocupação, encontrando pouca resistência à medida que avançavam em direção à cidade de Kherson. Segundo Zelensky, os militares recapturaram vastas áreas de território na região e trabalham para desminá-lo.

Novos ataques

Enquanto as tropas se retiravam de Kherson, ataques russos destruíram grande parte da infraestrutura de energia de outras regiões ucranianas nesta sexta-feira, deixando várias partes do país sem energia, incluindo Kiev. Na noite de quinta-feira, pelo menos sete pessoas foram mortas em um ataque com mísseis a um prédio residencial na cidade de Mykolaiv, no Sul da Ucrânia, disseram autoridades regionais nesta sexta.

Os combates também continuam em Bakhmut, na província de Donetsk, no Leste, cidade que Moscou tenta conquistar há meses e é o principal campo de batalha onde o Exército russo, apoiado por homens do grupo paramilitar Wagner, continua na ofensiva. De acordo com a Presidência ucraniana, 14 civis foram mortos na quinta-feira, oito na região de Donetsk e seis em Mykolaiv.