Primeiro dia de desfiles no Rio tem homenagem a Paulo Gustavo e celebração à cultura negra
Público se emociona com volta das escolas do grupo especial após dois anos de pandemia
Após dois anos suspenso em razão da pandemia, o desfile das escolas de samba do grupo especial na Marquês de Sapucaí, no Rio, foi marcado pela emoção do público, celebração à cultura negra e homenagem ao ator Paulo Gustavo, morto em 2021 por complicações da Covid-19.
A primeira escola a entrar no sambódromo foi a Imperatriz Leopoldinense, que foi recebida pelos foliões de forma calorosa. Segurando bandeirinhas com as cores da escola —verde, branco e ouro—, eles dançavam nas arquibancadas enquanto entoavam o samba-enredo da agremiação.
Em seu enredo, a escola homenageou Arlindo Rodrigues, carnavalesco que ajudou a Imperatriz a conseguir o seu primeiro título, em 1980. Intitulada Trem das Lembranças, a comissão de frente recriou o trem que se tornou símbolo do desfile de 1981, que também levou a assinatura de Rodrigues e valeu à escola o segundo título no Carnaval carioca.
Coreografada pelo renomado bailarino Thiago Soares, a comissão de frente foi formada majoritariamente por mulheres. “Eu quis falar desse DNA feminino da Imperatriz. Então, decidi usar um elenco quase todo de mulheres”, afirma ele.
Um momento de emoção ficou por conta da São Clemente, que decidiu homenagear o ator Paulo Gustavo. Déa Lúcia, mãe do comediante, apareceu logo na comissão de frente e foi aplaudida pelos foliões.
A escola, porém, enfrentou problema técnico. O carro abre-alas ficou cerca de cinco minutos parado, sem conseguir ultrapassar o primeiro setor da avenida. Equipes se mobilizaram para fazer o carro andar, integrantes foram retirados para o chão da avenida. O atraso provocou um buraco entre setores.
Problemas técnicos também foram vistos na Beija-Flor, última escola a desfilar. Um carro da agremiação emperrou e houve lacuna entre alas no início do desfile. A azul e branca de Nilópolis levou ao sambódromo o enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, que celebrou a contribuição de pessoas negras para a construção do Brasil.
O Salgueiro também tratou sobre a questão racial e apresentou o enredo “Resistência”, que empolgou já de primeira.
Antes mesmo de o desfile começar, o público já gritava pela escola, euforia que só fez aumentar quando o cortejo começou. Os foliões cantavam a plenos pulmões o samba-enredo da vermelha e branca, cujo refrão não saiu da boca das pessoas. “Salgueiro, Salgueiro / Amor que bate no peito da gente / Sabiá me ensinou: sou diferente”, entoava o público.
A exemplo do que fez a Imperatriz, a Mangueira também decidiu se voltar para sua história e homenageou três dos seus mais celebrados nomes: o cantor e compositor Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Delegado (1921-2012).
O enredo, que tem como título os primeiros nomes dos baluartes —Angenor, José & Laurindo— é assinado por Leandro Vieira, 38. A julgar pela reação do público, a verde e rosa tem grandes chances de levar mais um campeonato. Isso porque, no setor 13, ouviram-se gritos de “é campeã” direcionados à agremiação.
Já a Viradouro decidiu contar na avenida a história do primeiro Carnaval depois da gripe espanhola, comemorado em 1919. Campeã do último Carnaval, a escola chamou atenção pelos carros alegóricos suntuosos e pelo samba-enredo que também não saiu da boca dos foliões.
No entanto, em meio ao clima de festa, o acidente que tirou a vida da pequena Raquel Antunes da Silva, 11, se fez lembrar. No fim do desfile da Viradouro, carros alegóricos da escola saiam da Marquês de Sapucaí escoltados por funcionários da agremiação. Guardas municipais e policiais militares acompanhavam o trabalho.
A medida foi adotada após a Justiça determinar que todas as escolas de samba façam a escolta de seus carros alegóricos até os barracões, garantido a segurança durante a dispersão. Raquel teve as penas prensadas por um carro alegórico na quarta-feira (20), quando teve início os desfiles da série ouro.