Produção de remédio contra câncer para em 2 semanas se governo não liberar mais verba, diz ministro
Na Câmara, Marcos Pontes culpa Economia e Congresso pela falta de recursos federais
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, afirmou nesta segunda-feira (27) que os R$ 19 milhões liberados para a retomada da produção de insumos para tratamento de câncer só garantem duas semanas de trabalho. A previsão do governo Jair Bolsonaro é de que os serviços sejam retomados no dia 1º.
A produção dos radiofármacos foi interrompida no dia 20 deste mês por falta de recursos do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). O órgão enviou ofícios informando a interrupção da produção no dia 14.
Mas somente na quarta (22) o governo publicou o remanejamento dos R$ 19 milhões para retomar a produção. Há no Congresso um projeto, desde agosto, para abertura de crédito extra de R$ 34 milhões, mas a base do governo não se mobilizou para sua aprovação até agora.
“Volta a produção mas a situação ainda é crítica, pode parar de novo se não entrar o recurso [novo]”, disse o ministro em audiência na Câmara.
Esses elementos químicos radioativos são essenciais para a medicina nuclear. São usados principalmente para tratamento de câncer, em sessões de radioterapia, mas também são úteis para outras enfermidades, como doenças cardiológicas e epilepsia.
Produção de remédio contra câncer para, mas tratamentos não
Hospitais brasileiros indicaram que vão cancelar ou adiar procedimentos por causa do desfalque na produção de radiofármacos gerado pelo corte de verba federal. A maior parte dos afetados é de pacientes que fazem tratamento contra câncer.
Marcos Pontes falou na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara sobre a situação na tarde desta segunda. Ele culpou o Ministério da Economia e o Congresso Nacional pela falta de recursos federais que provou a suspensão da produção de insumos.
Deputados afirmaram que o ministro tenta repassar para o Parlamento a responsabilidade do governo, uma vez que a insuficiência dos recursos já estava prevista no orçamento inicial elaborado pela gestão. Além disso, o executivo teria demorado para encaminhar aberturas de créditos extras, segundo os parlamentares.
O ministro disse que levou a preocupação sobre os recursos do Ipen para a área econômica do governo desde junho de 2020. Mas, em sua fala, deu maior ênfase na responsabilização do Congresso.
Primeiro, indicou o impacto na situação pelo atraso na aprovação do Orçamento 2021, que só foi votado pelo Parlamento em abril deste ano. Depois, criticou os congressistas pela demora em aprovar o PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) 16/2021 —esse é o texto que abre créditos extras para o Ipen, com a previsão de R$ 34 milhões para os radiofármacos.
O PLN 16/2021 foi levado ao Congresso pelo governo em 26 de agosto. Segundo Pontes, o problema já estaria resolvido se o Congresso o tivesse aprovado. “Houve a parada [na produção] e não foi por falta de aviso, e até agora o PLN não foi votado”, disse. “Não estou tranquilo, é importante deixar claro”.
O ministro disse que foi voto vencido dentro do governo sobre a previsão orçamentária inicial já deficitária. “Que a partir do orçamento de 2022 [a Economia] inclua o valor completo para produção de radiofármacos, sem provocar restrições em outra parte do orçamento [da pasta]”.
Somente após o anúncio de paralisação na produção por parte do Ipen é que o governo Bolsonaro determinou o remanejamento de R$ 19 milhões para o Ipen. O recurso foi retirado de outras ações da pasta, que ficam por ora desfalcadas.
A medida dá um fôlego para a situação de apenas duas semanas. A necessidade do Ipen é de um total de R$ 89,7 milhões.
Dessa forma, até o PLN já encaminhado ao Congresso não é suficiente. Os R$ 34 milhões previstos nesse projeto seriam suficientes para menos de dois meses de produção, disse o ministro.
Marcos Pontes afirma esperar que a área econômica encaminhe um novo PLN, de mais R$ 55 milhões. Ele prometeu que falaria com Bolsonaro nesta semana sobre o encaminhamento desse novo projeto.
Parlamentares reagiram após a fala inicial do ministro. Para a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), é complicado quando o ministro “muda o eixo” da responsabilidade do governo para o Congresso.
“Não dá para o orçamento vir com valores menores do que o necessário”, disse. Zanotto ainda ressaltou que, embora soubesse dos riscos, o governo nunca ressaltou que o PLN 16/2021 tinha a previsão para esses recursos (o projeto traz previsões de créditos também para outros temas).
Também não houve movimentação da base do governo, disse ela, para priorizar a matéria na agenda de votações. A previsão é de que esse projeto seja votado somente na próxima semana.
O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) pontuou que o próprio governo já previu recursos insuficientes desde o projeto inicial, demorou quase seis meses para encaminhar o PLN e, além disso, só fez o remanejamento dos R$ 19 milhões após a suspensão da produção.
“O Ministério da Economia esperou hospitais ficarem sem produtos para tomar uma atitude”, disse ele, ressaltando que, caso fosse interesse do governo, o crédito extra já teria sido votado. “Estamos solicitando votação imediata (…) Não foi incluído na pauta porque os membros do governo disseram que não precisava.”
“Se o PLN não for votado hoje não é por culpa da oposição”, disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS)
O deputado Osmar Terra (MDB-RS), da base do governo Bolsonaro, elogiou a atuação do ministro e disse que o remanejamento emergencial já dá fôlego para a situação. “Problemas orçamentários como esse podem acontecer, temos uma maquina muito grande, e tivemos o problema da pandemia que puxou orçamento muito grande”.
Pontes afirmou que a produção desses insumos exigiram complementações orçamentárias desde 2012. “A diferença agora para 2021 é que, o orçamento sendo votado até dezembro do ano anterior, dá período maior para toda burocracia de liberar o recurso.”
Ele disse também que não houve maior remanejamento, além dos R$ 19 milhões, porque esse é o valor máximo autorizado pela legislação.