Derivado da Maconha

Professor discute o uso do canabidiol no tratamento de autistas em evento em Goiânia

O canabidiol é um feixe de esperança para pais de crianças e adolescentes que sofrem…

O canabidiol é um feixe de esperança para pais de crianças e adolescentes que sofrem com problemas associados ao autismo, mas que ainda resvala em entraves burocráticos. O componente, um extrato da maconha, tem grande potencial para tratamento de casos de epilepsia, distúrbios do sono, ansiedade e problemas de concentração, fenômenos comuns para quem convive com o autismo. Por isso, pais se mobilizam em todo o País em busca de uma solução.

Em Goiás, a Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Goiás (AMA Goiás), foi fundada no ano 2000 visando a lutar pelo acesso a saúde, educação e lazer para os autistas e suas famílias, proporcionando qualidade de vida a eles, como explica a presidente, Cássia Gouveia. Nesta sexta (2), a entidade traz a Goiânia o professor Paulo Fleury Teixeira, médico especialista em medicina preventiva e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para discutir o assunto.

Cássia relata que o objetivo do evento é promover discussões multiprofissionais referente ao tema “Uso do canabidiol no tratamento do autista”. Durante sua palestra, o médico mostrará os resultados preliminares da pesquisa realizada sobre os sinais, sintomas e distúrbios do uso do canabidiol, com e sem THC (Tetraidrocanabinol), em pessoas com transtorno do espectro autista.

No Brasil, estima-se que o número de indivíduos com autismo ultrapasse os 2 milhões. Segundo a ONU, seriam mais de 70 milhões no mundo. A condição não tem um marcador biológico e exames específicos que determinem seu diagnóstico, sendo de suma importância a participação de equipe multiprofissional para o diagnóstico precoce. Geralmente, os sintomas já estão presentes antes dos três anos de idade.

Ao Mais Goiás, o professor Paulo ressaltou que pesquisas realizadas na UnB pelo professor Renato Malcher indicaram melhoras significativas em pacientes autistas quanto a crises convulsivas, distúrbios do sono, hiperatividade, déficit de atenção e concentração e, inclusive, alguns tipos de comportamento, como a agressividade. “Os extratos de maconha fariam isso porque atuariam controlando a hiperexcitabilidade neuronal que seria caracteristicamente presente em autistas assim como em epiléticos. Os agentes ativos da canabis (CBD, THC) atuariam regulando, portanto, a atividade neuroelétrica beneficiando a criança autista em todos os principais aspectos relacionados aos transtornos do espectro do autismo (TEA)”, explica o especialista.

É justamente por sua abrangência no tratamento de diversos fatores que o canabidiol se torna tão importante. Ao contrário dos óleos de canabis, nenhum dos medicamentos “convencionais” atua em todos os aspectos mais graves do autismo, revela Paulo. Além disso, ele pontua que o derivado da maconha ainda promove o desenvolvimento da criança autista, com o baixíssimo índice de efeitos colaterais relevantes.

Apesar de todos os benefícios, são muitos os entraves para os pais que esperam tratar seus filhos com o canabidiol no Brasil. E a situação persiste mesmo depois de a Anvisa, em 2015, ter retirado o canabidiol e a THC da lista de substâncias proibidas no País, autorizando a prescrição médica e importação, em caráter de excepcionalidade por pessoa física, para uso próprio, para tratamento de saúde. Nem mesmo a oficialização da Cannabis sativa como uma planta medicinal pela própria Anvisa, em maio deste ano, retirou todas as barreiras.

“O primeiro empecilho é a resistência e aceitação dos médicos em prescrever a medicação. O outro empecilho é que não é comercializado e nem produzido no Brasil”, comenta Cássia, que é mãe de um menino de 7 anos diagnosticado com transtorno do espectro autista, tratado desde janeiro com o derivado da maconha. “Na Paraíba existe uma associação que produz e fornece o canabidiol para 115 associados, no entanto, essa produção e fornecimento é via liminar. Pelo fato de não se produzir e comercializar no Brasil, a medicação tem que ser importada e é cara, girando em torno de 200 dólares por frasco, fora as taxas de frete e importação”, acrescenta. Atualmente, cerca de 1.500 pessoas têm autorização da Anvisa para tratamento com Canabidiol, mas muitas outras se tratam com óleos artesanais, sem amparo legal.

É justamente para mudar essa realidade e tornar o tratamento mais acessível para quem depende dele que a AMA promove o evento desta sexta-feira, no auditório da Área 2 da PUC. “A nossa intenção é que o tema seja discutido de forma mais aberta, sem preconceitos. O autismo não tem cura, mas saber que o canabidiol pode ajudar a melhorar a qualidade e o convívio social dos autistas é uma grande conquista, e este é nosso objetivo”, diz. “Acredito que o canabidiol é para o século 21 o que a penicilina foi para o século 20”, complementa.

Serviço:
Evento: “Uso do canabidiol no tratamento do autista”.
Data: Sexta-feira, 2 de junho
Horário: 19h30
Local: Auditório da Área 2 da PUC
Informações: (62) 9 9116-6297 e (62) 9 8204-4201