Professor: uma profissão que transforma vidas
Pedreiro Antônio Agaci Fernando, de 52 anos, viu sua vida mudar ao voltar a ler e a escrever com a ajuda da professora Paula Ribeiro
Quem se alfabetizou no período convencional e hoje lê e escreve naturalmente, muito provavelmente, não tem noção do obstáculo que é para uma pessoa não ter o domínio dessas habilidades. Pode-se dizer que não saber ler é como uma cegueira cognitiva em que a pessoa não consegue entender o que vê. Tarefas corriqueiras, como pegar um ônibus, preencher uma ficha de emprego ou fazer um pagamento no banco acabam virando motivo de grandes constrangimentos.
Até pouco tempo, o pedreiro Antônio Agaci Fernando, de 52 anos, sofria com algumas dessas dificuldades. Mas hoje essa realidade está mudando, com a ajuda da professora Paula Ribeiro no projeto Ensino Consciente – conduzido pela Consciente Construtora e Incorporadora em Parceria com o Sesi no canteiro do Nexus Shopping & Business. Natural do Rio Grande do Norte, Antônio cursou somente até a antiga 5ª Série, aprendeu a ler e escrever, mas as habilidades foram se perdendo com o tempo. “Tive minhas oportunidades e deixei passar. Quando larguei a escola para procurar emprego descobri que tudo sem estudo era difícil. Além de desaprender, não conseguimos bons empregos”, afirma.
A história de Antônio é um exemplo de como vidas podem ser transformadas por meio da educação, assunto que ganha ainda mais apelo no Dia do Professor, celebrado neste domingo (15). Do ponto de vista de quem ensina, essa “metamorfose” é ainda mais evidente e gratificante.
“A parte mais gratificante do meu trabalho é ouvir: professora, consegui escrever sozinho. Fazer a diferença na vida de alguém é algo sensacional. Embora seja recompensador, o trabalho de ensinar é árduo, por isso é imprescindível que toda a sociedade repense a valorização dessa profissão”, afirma Paula.
Segundo ela, quando a proposta se destina aos adultos, o desafio é dobrado. “É necessário que o professor se apresente como uma figura, ao mesmo tempo, paciente, criativa, empática e instigadora. Identificar e compreender as dificuldades dos alunos não são uma tarefas fáceis e devem ser aprimoradas dia após dia”.
Oportunidade
As dificuldades com a falta de estudo fizeram com que Antônio valorizasse a educação e desse a suas três filhas as oportunidades que ele não teve. “Deixei minha oportunidade passar e tive que enfrentar muitas dificuldades. Me arrependo e por isso incentivei minhas filhas. Hoje eu me espelho e aprendo com elas”. Hoje, Maria Aline, de 26 anos, e Maria Agacilene, 32, já estão formadas respectivamente em pedagogia e administração. Já Maria Alletia, 25 anos, está finalizando o curso de fonoaudiologia.
De acordo com Antônio, apesar de não ser um exímio leitor e escritor, sabe se virar. “Sei o mínimo, consigo ler itinerários de ônibus, placas e coisas simples. Mas isso não é suficiente. Penso em estudar, crescer na vida. Me tornar um mestre de obras ou, quem sabe, fazer uma faculdade um dia. Trabalhei com um sujeito que estava fazendo Direito com 75 anos de idade. Então sei que tudo é possível”.
Antes do curso, ele revela que não praticava muita escrita e leitura. Deixava mesmo apenas para as necessidades do dia a dia. Agora a coisa mudou. “Hoje tenho mais ideias, tenho acesso a livros, escrevo algumas coisas. Isso me deixa animado, estou evoluindo. Eu e toda a turma. Isso é fruto dos ensinamentos da professora Paula, que é sempre muito cuidadosa, educada e paciente com a gente. Isso nos estimula a sempre querer aprender mais”.
Números
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE 2015), 8% da população brasileira ainda sofre com o analfabetismo, ironicamente, na Era da Informação. Um dos setores econômicos com mais presença de pessoas analfabetas, a construção civil vem lutando para melhorar as estatísticas com a adoção de projetos de estímulo à retomada escolar.
As perspectivas são positivas. Dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais/MTE) mostram que entre 2000 e 2010, a taxa de analfabetismo entre os trabalhadores diminuiu mais de 60%. Em 2009, 23 mil dos 2,2 milhões de trabalhadores não sabiam ler ou escrever. Comparando com 2000, de 1,1 milhão de trabalhadores, 29 mil eram analfabetos. Entre 2000 e 2010, o número de operários que concluíram o ensino médio aumentou 4,5 vezes, totalizando 561 mil trabalhadores.
Ensino Consciente
Um dos projetos que ajudam a mudar essa realidade é o Ensino Consciente. Com escola implantada no canteiro do Nexus Shopping & Business, 15 alunos/operários cursam alfabetização e outros 13 estão no ensino médio. Desde 2015, o projeto idealizado pelo Departamento de Responsabilidade Socioambiental da construtora formou 35 alunos no Ensino Fundamental. “Investir em educação é investir no futuro, proporcionando novas possibilidades de crescimento profissional e intelectual para os colaboradores”, observa o coordenador de Responsabilidade Socioambiental da empesa Felipe Alvarenga.