Protesto de servidoras marca início dos trabalhos na Assembleia Legislativa
A primeira sessão de 2019 na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) ocorreu na manhã desta…
A primeira sessão de 2019 na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) ocorreu na manhã desta sexta-feira (15), marcada por protestos. Servidoras da Casa manifestaram contra as declarações polêmicas do deputado estadual Amauri Ribeiro (PRP) e pediram “menos rótulo, mais respeito”. Este foi o início dos trabalhos da 19° legislatura.
O parlamentar que afirmou que algumas servidoras pareciam modelos e “serviam aos deputados”. Em repúdio a esta fala, as funcionárias acompanharam a sessão da galeria do plenário, com camisas escritas “sou servidora da Alego, me respeite”.
O presidente da casa, Lissauer Vieira (PSB), quebrou o protocolo da sessão parlamentar e concedeu a palavra à bancada feminina da Alego, que foi representada pela deputada Lêda Borges (PSDB). “Tradicionalmente esta Casa concede a palavra a dois parlamentares [situação e oposição]. Porém, em diálogo com o líder do Governo, Bruno Peixoto (MDB), concedemos a palavra somente ao decano da Casa, Álvaro Guimarães (DEM), que falou em nome de todo o Parlamento e abrimos espaço à manifestação das mulheres”, disse.
A deputada pediu respeito às servidoras. Ao Mais Goiás, afirmou que a atitude de Amauri foi impensada. “As servidoras foram colocadas em uma situação vexatória. Muitas mães, esposas, noivas e namoradas estão sendo alvo de brincadeiras de mau gosto devido às declarações. É preciso ter cuidado com essas questões que envolvem a Assembleia”.
A deputada estadual Adriana Accorsi (PT) afirmou que o movimento marca uma luta antiga das mulheres. “A presença feminina nos espaços de poder sempre foi manchada por um extremo machismo, ironias e falta de respeito. Nossa manifestação cobra a fala de um deputado que nos feriu enquanto mulheres e trabalhadoras, mas também protesta contra todas essas atitudes recorrentes no dia-a-dia”, disse.
Haveria, ainda, uma ação a ser proposta na Justiça. O documento, que deve ser assinado por mais de 200 servidoras e por uma procuradora da Alego, cobra respostas de Amauri. “É necessário aferir a real extensão das declarações, pois, alcançando a dimensão aventada pela rede mundial de computadores, configurado está o crime de difamação”, diz trecho da interpelação.
A deputada tucana explica que apesar a bancada feminina ser pequena, composta por apenas duas deputadas. Contudo, elas estão engajadas e pretendem dar mais notoriedade às lutas por respeito e dignidade. “A partir desse movimento, nós esperamos conseguir que todos os deputados, servidores e toda a sociedade respeite as mulheres”, disse.
O Mais Goiás tentou contato com o deputado Amauri, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno.”Foram acusações vagas e muito generalistas que ofenderam às mulheres servidoras da Casa. É preciso que ele seja mais pontual e detalhe as afirmações. Por isto estamos propondo a ação”, finaliza Lêda Borges.
Servidoras
Carina Oliveira, de 39 anos, servidora da Assembleia desde setembro de 2018, afirmou que as declarações causaram sentimento de revolta, indignação e vergonha. “Gerou uma situação muito complicada aqui porque passamos a ser alvo de piadas e brincadeiras de mau gosto. Ficamos perplexas diante das afirmações do deputado”, disse.
Segundo ela, as acusações generalizadas e sem provas fizeram com que muitas mulheres omitissem que trabalham na Casa. “Quando a gente fala que é servidora da Assembleia, as pessoas já perguntam se somos uma das que sentam com os parlamentares, se somos prostitutas ou se estamos lá de enfeite, apenas para bater ponto”, contou.
A servidora Fernanda Maria, de 28 anos, também criticou Amauri e espera uma retratação. “Nós estamos sofrendo por conta das declarações. Ele precisa ser responsável com o que diz. Se retratar é o mínimo que ele pode fazer”, afirmou a funcionária que atua há dois anos no local.
Mais protestos
Além da manifestação das servidoras, professores e profissionais da rede estadual de educação ligados ao grupo Mobiliza Goiás, que atua à parte do Sindicato dos Professores (Sintego), protestaram durante todo o pronunciamento do governador Ronaldo Caiado (DEM).
Com gritos de “pague dezembro” e “respeite o professor”, os manifestantes interromperam o chefe do executivo por diversas vezes. O presidente da Casa, Lissauer Vieira (PSB), propôs a suspensão da sessão por cinco minutos, mas o democrata preferiu dar continuidade ao discurso.
Após as interrupções, as portas da Assembleia chegaram a ser fechadas para impedir a entrada de novos manifestantes. Ao término da fala de Caiado, os profissionais presentes no plenário ainda vaiaram o governador e cobraram respeito aos profissionais da educação.