ELEIÇÕES

Próximo a Bolsonaro, Skaf lidera movimento por renúncia do presidente da Fiesp

Uma crise política nos bastidores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)…

Uma crise política nos bastidores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) opõe o ex-presidente da entidade Paulo Skaf, nome próximo ao bolsonarismo, e o atual, Josué Gomes da Silva. Um grupo de dirigentes empresariais ligado a Skaf prepara um abaixo-assinado em que pressiona Josué a renunciar. O documento, que já conta com mais de 60 assinaturas, critica o atual presidente da federação por uma suposta “gestão ideológica” da Fiesp, em tese mais próxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A articulação atende a interesses de Skaf e expõe a ruptura entre o ex-presidente que comandou a entidade patronal mais importante do país por 17 anos e Josué, que teve o apoio de Skaf e seu grupo político. O documento deve ser entregue a Josué nesta sexta-feira.

Como pano de fundo da ruptura, está a eleição. Parte significativa dos diretores e presidentes de sindicatos patronais é bolsonarista ou politicamente neutra, enquanto Josué é visto por esse grupo como mais alinhado ao ex-presidente Lula, visto que seu pai, José Alencar, foi vice-presidente do petista.

O documento articulado pelo grupo de Skaf defende a convocação de uma assembleia extraordinária da Fiesp, nas palavras de um dirigente empresarial, “para lavar roupa suja” e pressionar Josué a renunciar. A avaliação é a de que sua saída poderia pacificar a entidade. O vice-presidente do atual mandatário da Fiesp, Rafael Cervone Netto, é tido como mais próximo de Skaf do que de Josué.

O jornal O Globo conversou com dirigentes empresariais que relatam, sob anonimato, ter sido procurados para assinar o documento por emissários de Skaf, entre eles Nicolau Jacob Neto, hoje delegado do Sindicato da Indústria de Móveis e Vassouras de São Paulo (Simvep). Procurado, Jacob Neto negou e disse não saber nada sobre o assunto.

Pessoas familiarizadas com o tema afirmam à reportagem que o ex-presidente bolsonarista da Fiesp estaria incomodado com o fato de ter perdido influência junto à presidência da entidade. Skaf também seria especialmente contrário ao fato de a Fiesp ter articulado o manifesto a favor da democracia em agosto deste ano. O texto foi visto pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como um ato de oposição ao seu governo, ainda que o documento não o mencionasse diretamente.

Skaf tem tentado se aproveitar de um sentimento de insatisfação por parte de dirigentes de sindicatos de menor porte filiados à Fiesp, que se queixam de falta de interlocução com Josué. Até aliados do atual presidente da entidade admitem que seu estilo mais reservado lhe rendeu rusgas com alguns representantes setoriais.

Um dos argumentos usados pelo grupo de Skaf é de que Josué não tem canais com o atual governo de Jair Bolsonaro, que poderia vencer a eleição no dia 30 de outubro.

Pelo seu lado, o presidente da Fiesp tem articulado com empresários de maior porte numa contra-ofensiva ao movimento de Skaf. Não há intenção, por parte de Josué, de renunciar ao cargo que assumiu em janeiro deste ano.

Segundo uma pessoa a par do assunto, Skaf já teria promovido ao menos três jantares com dirigentes de sindicatos patronais em sua residência para articular o texto contrário à gestão de seu ex-aliado Josué Gomes da Silva.

Uma outra hipótese do grupo de Skaf relatada à reportagem por dois executivos é a de que, durante a assembleia extraordinária da Fiesp a ser convocada, um número significante de membros da atual diretoria da entidade renunciasse coletivamente. Se esse número fosse majoritário, poderia levar à realização de uma nova eleição, que poderia até ser disputada pelo próprio Paulo Skaf. O ex-presidente da entidade nutria expectativas de ser o nome do bolsonarismo ao governo de São Paulo, mas foi preterido quando o presidente da República escolheu Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio dos Bandeirantes.

Synésio Batista da Costa, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), afirmou ao GLOBO ter sido procurado por dirigentes para falar sobre o documento, mas diz que não vai assiná-lo. Crítico histórico de Skaf, ele fez parte de um grupo de dirigentes que apoiou José Ricardo Roriz Coelho contra a chapa de Josué e Cervone, que tinha o endosso de Skaf à época. Na ocasião, Roriz Coelho não conseguiu montar uma chapa para disputar as eleições da Fiesp.

— Nós da oposição não vamos assinar a carta. Nunca fui chamado (à discussão por dirigentes da entidade) quando o momento era bom e não vou trair o Josué, que eu nem conheço pessoalmente, porque não quero trair a Fiesp. Não acredito que o regimento da entidade deva ser rasgado. Se tem assunto para debater, que se chame a gente no plenário, não para conspirar contra pessoas — afirmou.

Synésio diz ter críticas à atuação de Josué à frente da Fiesp e que a postura política do dirigente pode trazer constrangimentos à entidade a depender do resultado das eleições presidenciais, mas ressalta que não endossa qualquer movimento que não tenha respaldo no estatuto da entidade.

Procurada, a presidência da Fiesp disse que não vai se manifestar sobre o caso. A reportagem procurou Paulo Skaf, mas não obteve resposta.