Quase eleito, Caiado pode ser candidato natural em 2018
Líder de todas as pesquisas de opinião, ele pode quebrar um paradigma: a ideia de que não ganhava eleições proporcionais.
Ronaldo Caiado, em 1989, foi candidato à presidência da República. Até então era um bem sucedido médico com diploma de pós-graduação na parisiense Sorbonne e escalado para falar pela União Democrática Ruralista (UDR). Postulante nanico, ele fez muito barulho.
O partido não tinha penetração em todos colégios eleitorais e Caiado era um novato na disputa. Mesmo assim foi um dos líderes que mais incomodava, por exemplo, o petista Lula. Ele pediu em público na época o impedimento da candidatura do PT e disse: “Senhor Lula está me chamando por aí ultimamente de homem do cavalo branco. Quero dizer que é muito mais honroso ser dono de um cavalo comprado honestamente do que ser homem do jatinho branco, pago pela corrupção do PT. E tem mais uma coisinha: meu cavalo pasta na minha fazenda, nunca comeu propina na mão de empreiteiros”.
Cabeleira negra, olhar curioso ainda para a câmera de TV, Caiado participou dos debates da época. Em um deles, organizado pelo SBT, o jornalista questionou: “Mas o senhor se preparou. Isso significa que o senhor vai mais se preocupar em apresentar suas ideias do que atacar outros candidatos, certo?”.
Caiado olha para a lente da câmara e devolve: “Veja, meu povo, dizer a verdade no Brasil hoje em dia chama ataque. Nós não sabemos apelidar as coisas. Temos que ter coragem para dizer o que precisa ser dito”.
O jornalista tentava contemporanizar as críticas de Caiado à Lula. Mas ele se mostrava irredutível: não alisaria seu discurso. De 22 candidatos, Caiado ficou em décimo lugar, com 488 mil votos – bem menos do que ele terá agora na disputa ao Senado.
Médico, líder rural e um dos principais nomes da direita no Brasil, Ronaldo Caiado (DEM) caminha para ser a pedra no sapato da política brasileira. Não importa se seja Dilma Rousseff (PT) ou Marina Silva (PSB). A exceção seria Aécio Neves (PSDB), companheiro que chegou a sondar Caiado para que ele disputasse sua vice.
Eleito ao título de senador em outubro, ele terá como papel pela frente moderar uma casa quase sempre dada a fazer o que bem manda o presidente. Com o andar da carruagem, a tendência é que Caiado se transforme no maior nome da oposição brasileira em 2015, quando assumir uma nova cadeira. E terá que optar: ou volta os olhos para o Brasil, o que se espera dele, ou se atente para Goiás, com a possibilidade de disputar o governo em 2018.
SENADO
Em Goiás, o deputado federal estabeleceu alguns temas de campanha: ações de combate à intervenção excessiva do governo nas tarifas (caso das placas do Detran) e propagandas em demasia. Determinado e decidido – o contrário de alguns dos seus adversários – Caiado vez ou outra pauta a campanha com suas críticas.
Líder de todas as pesquisas de opinião, ele pode quebrar um paradigma: a ideia de que não ganhava eleições proporcionais. Ainda não ganhou. Mas apenas o fato de liderar já demonstra que a teoria de que não tem fôlego eleitoral caiu por terra.
Mas foi Caiado que se adaptou para vencer em outubro? Ou melhor: ainda hoje Caiado pensaria como em 1989? As pessoas podem não acreditar, mas o político continua o mesmo após o exercício de cinco mandatos como deputado federal.
NÃO MUDOU
Daí que a única opção é de que o eleitorado é que mudou, em busca de um político mais determinado e com pautas polêmicas – caso da defesa da diminuição da idade penal.
“Não sou seguidor de pessoas. Tenho a coerência das ideias. Se amanhã você está contra o aborto, ok. Nós estaremos juntos. Mas se amanhã você está contra, não estaremos juntos. Não vou seguir você. Fico com as ideias”, diz o parlamentar.
Da coligação com o PMDB, Caiado ocupa a posição de centro-avante. Nem mais disputa bola travada com Marina Sant´Anna (PT) e Vilmar Rocha (PSD), seus concorrentes.
O debate de Caiado é como se ele fosse candidato ao governo, muitas vezes se sobrepondo ao que tem dito Iris Rezende (PMDB). “Hoje um jovem não tem coragem de ficar em um pit dog devido a violência”, diz, ao comentar sobre violência.
CELG
Sobre energia, um das deficiências de Goiás, ele relata que vai “enfrentar esse absurdo que é tentar destruir a Celg”.
Para Caiado, o Governo Federal quer comprar a estatal a “preço de banana podre”.
E para destacar o que Goiás pode sofrer com as intenções do Governo Federal, ele recorre às figuras de linguagem do campo: “Além da queda, o coice…Quer dizer: vamos ter que arcar com o passivo da Celg por 30 anos?”.
As bandeiras históricas do político, na verdade, são outras, caso da defesa do agronegócio. Mais recentemente, Caiado abraçou os médicos – rejeitados pela política do Governo Federal, que decidiu importar doutores a melhorar aspectos da carreira. “Tenho lutas, como a de instituir a carreira médica no Estado. Para o interior ter realmente acesso às especialidades”.
Com uma política certeira, mas perfeitamente criticável, Caiado é o candidato ao governo que melhor acertou o alvo. Ele e Marconi Perillo (PSDB), em lados opostos, seguem incólumes fazendo uma campanha profissional.
PERFIL
Ronaldo Caiado: médico e mestre (melhor qualificação dos candidatos ao Senado), além de produtor rural
Natural: Anápolis
Idade: 64 anos
Mandatos: 5
Ações mais conhecidas como parlamentar: relatoria da Reforma Política, impedida de acontecer, segundo ele, por conveniências do PT e PMDB
Frases polêmicas: “Se não tivesse tido essa atuação à época da constituição da UDR, o Brasil poderia caminhar quase para um processo de guerra da secessão”
Posturas: Caiado foi o primeiro a apresentar escandâ-los do PT nacionalmente, como o caso Lubeca, que envolvia o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos primeiros petistas a ser afastado do grupo político de Lula.