Queda da temperatura aumenta riscos para a população de rua
Cresce o número de pessoas que buscam um lugar mais protegido
A queda da temperatura registrada nos últimos dias na capital paulista aumenta os riscos a que a população em situação de rua está exposta. Segundo o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio Lancelotti, o frio já está aumentando a demanda por abrigos.
“Nós já estamos vivendo madrugadas muito frias”, enfatizou em entrevista à Agência Brasil. Ele disse que cresceu o número de pessoas que buscam um lugar mais protegido entre os que são atendidos no centro de acolhimento mantido na Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona leste paulistana. “Só ontem, eu tinha uma lista de 40 ou 50, e hoje vários pediram novamente lugar de acolhida”, disse.
Mortes
Em julho de 2019, pelo menos quatro pessoas em situação de rua morreram devido ao frio na capital paulista. Neste ano, a situação pode se agravar com a pandemia do novo coronavírus (covid-19). As últimas informações da prefeitura de São Paulo indicam que 22 pessoas em situação de rua morreram devido à doença. Existem, segundo o censo divulgado pela prefeitura em janeiro, mais de 24 mil pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo.
De acordo com o padre Lancelotti, a prefeitura abriu vagas em abrigos para pessoas identificadas ou com suspeita da covid-19. No entanto, os locais, segundo o padre, não permitem o isolamento das pessoas. “Eles ampliaram o número de vagas nos chamados abrigos emergenciais. Mas são todas vagas em lugares grandes, lá no Pelezão [espaço esportivo na zona oeste da capital], no Centro Esportivo da Mooca. Em lugares específicos para pessoas que estejam com confirmação ou suspeita de covid”, disse.
Hoteis
Seria importante, na avaliação do padre Lancelotti, a possibilidade de essas pessoas fazerem o isolamento social. “Uma das reivindicações que nós temos apresentado é a utilização da rede hoteleira, porque é uma estrutura que já existe, que está ociosa e que poderia resolver duas questões: a ociosidade da rede hoteleira e a necessidade do atendimento à população de rua não massivamente, em lugares onde possa garantir o isolamento social”, defendeu.
A prefeitura chegou a anunciar, na semana passada, a abertura do credenciamento de hotéis e pousadas para oferecer vagas para pessoas em situação de rua acima de 60 anos e mulheres vítimas de violência. A medida, entretanto, ainda não foi colocada em prática.
Falta ainda, na opinião do padre, a oferta de serviços dentro dos equipamentos de acolhida oferecidos pela administração municipal, como forma de evitar que as pessoas continuem andando pela cidade. Lacelotti diz que nesses locais não existe sequer a possibilidade de que os atendidos façam o cadastro para solicitar o dinheiro do atendimento emergencial oferecido pelo governo federal. “A maior parte deles circula, porque os espaços não oferecem nada. Como ficar 24 horas em um lugar que não tem nada?”
Outros problemas antigos também permanecem, segundo o padre, como as ações da Guarda Civil Metropolitana, que leva cobertores e pertences das pessoas que dormem nas calçadas. “Eles continuam relatando ação do ‘rapa’, que é essa operação da chamada limpeza urbana. Hoje, me relataram que tinham perdido todas as coisas, os alimentos e as roupas, em ação do ‘rapa’”, disse.
Portaria
Na portaria com as diretrizes do plano de contingência para baixas temperaturas na cidade, publicado na semana passada pelo prefeito Bruno Covas, estão previstas várias medidas para serem tomadas quando as temperaturas atingirem os 13 graus centígrados (ºC) ou menos do que isso.
Segundo a portaria, os agentes municipais passarão a identificar os locais onde há pessoas em situação de rua e providenciar o encaminhamento para os centros de acolhida. Há também a previsão de abertura de novas vagas nesses espaços, caso seja necessário.
A reportagem da Agência Brasil entrou em contato com a prefeitura de São Paulo para comentar as declarações do padre Lancelotti, mas ainda não obteve resposta.