Quinta noite de protestos nos EUA tem uma morte e toque de recolher em 25 cidades
Mesmo com toque de recolher, a ordem foi desafiada em muitas regiões, onde lojas foram saqueadas, carros queimados e prédios atacados
A quinta noite de protestos nos Estados Unidos se estendeu pela madrugada deste domingo e terminou com mais uma morte, além de pelo menos menos três pessoas terem sido baleadas. Uma multidão foi às ruas de diferentes cidades do país em manifestações pela morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por um policial branco, em Minneapolis, na última segunda-feira.
Ao menos 25 cidades em diferentes estados determinaram toques de recolher diante da situação. Mesmo assim, a ordem foi desafiada em muitas regiões, onde lojas foram saqueadas, carros queimados e prédios atacados. Em vários casos, a polícia de choque usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes.
A morte de uma pessoa e o ferimento por bala de outras três foram registrados, durante a madrugada, em Indianápolis, no estado de Indiana, segundo a polícia local. Ainda no sábado, um jovem de 19 anos e um agente federal morreram e centenas de pessoas foram presas durante os protestos.
Dois homens também morreram nas manifestações da noite de sexta-feira contra o assassinato de Floyd. Em Detroit, no estado de Michigan, um manifestante de 19 anos foi atingido depois que uma pessoa passou atirando de dentro de um carro contra uma multidão que protestava no centro da cidade. Em Oakland, na Califórnia, um oficial do Serviço de Proteção Federal morreu depois de ser baleado durante as manifestações.
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse, no mesmo dia, que manifestantes teriam sido recebidos com “cães cruéis” e “armas ameaçadoras” caso a cerca da Casa Branca tivesse sido violada. Ele também afirmou, pelo Twitter, que estados e cidades precisam agir de forma “muito mais dura” contra os protestos, senão o governo federal intervirá.
Grandes manifestações foram registradas em pelo menos 75 cidades americanas ao longo do sábado. Até o fim da tarde, a maior parte seguia de foram pacífica, mas a violência explodiu ao final do dia. Segundo o site da BBC, uma das cidades mais afetadas foi Los Angeles. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, declarou estado de emergência e acionou a Guarda Nacional – a força militar de reserva que pode ser chamada a intervir em emergências.
A cidade é uma das que determinaram toque de recolher das 20h às 5h30m. Muitas lojas foram saqueadas, inclusive nas famosas avenidas de varejo, Melrose e Fairfax, enquanto imagens aéreas mostravam diferentes focos incêndio. A polícia disparou balas de borracha e atingiu os manifestantes com cassetetes. Centenas de prisões foram feitas.
Em entrevista à BBC, o major Eric Garcetti disse que este foi o momento mais crítico que já viveu, desde os distúrbios de 1992, provocados pela absolvição da polícia pelo espancamento de Rodney King.
Carros da Polícia incendiados em Nova York
Cerca de 20 carros da polícia foram queimados e dezenas de prisões foram feitas em Nova York, onde um vídeo também mostrou um carro da polícia dirigindo-se contra uma multidão de manifestantes. O prefeito Bill de Blasio disse que a situação não foi iniciada pelos policiais, mas a representante do Congresso, Alexandria Ocasio-Cortez, disse que seus comentários eram inaceitáveis e que ele não deveria dar desculpas aos policiais.
Pelo segundo dia consecutivo, uma grande multidão de manifestantes se dirigiu aos portões da Casa Branca, em Washington, onde insultou oficiais da Guarda Nacional. Em Atlanta, onde um toque de recolher entrou em vigor às 21h, a polícia prendeu 70 pessoas durante noite de sábado, segundo o porta-voz do Departamento de Polícia, John Chafee, relatou à rede CNN. A cidade também registrou saques e confrontos entre manifestantes e policiais.
A prefeita de Chicago Lori Lightfoot também determinou toque de recolher, das 21h às 6h, e disse estar “enojada” pela violência.
– Vi manifestantes atirarem projéteis em nosso departamento de polícia… Garrafas de água, urina e sabe-se lá o que mais – comentou.
Já Minneapolis, cidade onde George Floyd foi morto pelo policial, houve menos violência na última noite. Cerca de 700 oficiais da Guarda Nacional ajudaram a polícia e fazer com que a população cumprisse o toque de recolher.
Imprensa sob ataques
Conforme a onda de manifestações avança, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas enfrentam ataques e prisões, durante a cobertursa dos protestos, em diferentes cidades. Pelo menos dez episódios dessa natureza foram relatados na sexta-feira, começando com a prisão ilegal de uma equipe da CNN, em Minneapolis, e terminando com a prisão de dois fotógrafos em Las Vegas.
Outro caso ocorreu no sábado, quando Ian Smith, um fotojornalista da KDKA TV, em Pittsburgh, disse que foi “atacado” por manifestantes no centro da cidade. “Eles pisotearam e me chutaram”, escreveu num tuíte. “Estou machucado e sangrento, mas vivo. Minha câmera foi destruída. Outro grupo de manifestantes me retirou e salvou minha vida. Obrigado!”
Incidentes como esses têm causado preocupação entre vários grupos de defesa. Em Louisville, Kentucky, onde os manifestantes pediram justiça pela morte de uma mulher negra que foi alvejada a tiros pela polícia em março, um policial disparou o que parecia ser bolas de pimenta contra um repórter da emissora de TV. O incidente foi transmitido ao vivo. “Para quem eles estão mirando?”, a âncora perguntou. “Para nós”, respondeu o repórter Kaitlin Rust.