Recifes do litoral brasileiro podem ser tomados por algas, sugere estudo
Pesquisa prevê redução da diversidade de espécies nesses ecossistemas até 2050, gerando impactos para a pesca e o turismo da região
Com o aumento da temperatura dos oceanos, pode haver uma queda na quantidade de peixes herbívoros se alimentando nos recifes de corais do litoral brasileiro e do Caribe nas próximas décadas. A previsão é que a mudança faça com que esses ecossistemas percam sua grande diversidade de espécies e estejam tomados por algas em 2050. As informações são de um estudo publicado nesta terça-feira (6) na revista “Global Change Biology” e divulgado pela Agência Bori.
Realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a pesquisa tinha como principal objetivo entender como o aumento das temperaturas vai afetar as interações relacionadas à alimentação dos peixes no Oceano Atlântico.
Para isso, foram feitas projeções a partir de dados dos contatos de peixes em recifes localizados desde a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, até Santa Catarina, na região Sul do Brasil.
— Vimos que essas interações vão diminuir na maior parte do Oceano Atlântico ocidental e algumas vão mudar de distribuição geográfica. No caso dos peixes herbívoros, vão reduzir desde o sul de Santa Catarina até o Caribe, e vão ocorrer mais para o norte, em busca de temperaturas menos quentes — afirma Kelly Inagaki, principal autora do estudo, bióloga e mestre em Ecologia.
A pesquisadora explica que essa projeção chama bastante atenção, porque os peixes herbívoros são fundamentais para ambientes recifais por se alimentarem das algas, controlando sua quantidade e abrindo espaço para que outros animais vivam nesses locais.
— É como se eles fossem jardineiros, que têm que estar podando o mato para não crescer demais e acabar tomando todo o espaço. Com a projeção das interações desses peixes diminuírem, as algas vão conseguir crescer em maior abundância e ganhar competitivamente de outros seres vivos com quem convivem — diz a bióloga.
Inagaki afirma que essa transformação pode resultar em consequências como a redução dos corais e da diversidade de peixes, além de influenciar a turbidez da água.
— Pode haver o acúmulo de muitos sedimentos, fazendo com que a água não fique mais tão clara, e nem todo ser vivo gosta de viver em ambientes assim — explica a pesquisadora.
O estudo também projeta que as interações dos peixes comedores de invertebrados (como caranguejos e crustáceos) vão diminuir em toda a extensão analisada. Já as dos onívoros, que vivem mais para o sul, perto de Santa Catarina, e mais para o norte, perto de Carolina do Norte, vão diminuir nas duas áreas, mas devem mudar em direção à região tropical, o que pode ter relação com sua plasticidade alimentar — eles conseguem adaptar a alimentação em relação à temperatura de onde estão.
Impactos para pesca e turismo
Inagaki alerta que essas mudanças poderão trazer impactos para a atividade pesqueira nos recifes, pela possível redução da quantidade de peixes e também de seus tamanhos.
— Além disso, a mudança nos locais onde eles ocorrem pode fazer com que o pescador que estava acostumado a achar um determinado peixe ali, daqui a 30 anos não encontre mais — afirma.
Outro alerta é em relação ao turismo, que poderá deixar de ser tão atrativo nessas regiões. A pesquisadora cita o Caribe e o Nordeste do Brasil, lugares que as pessoas costumam visitar em busca de águas claras e com muitos peixes.
— Isso pode provocar grandes impactos para as cidades que dependem desse turismo. Aqui no Brasil temos Maragogi (AL) e Maracajaú (RN) no Nordeste, por exemplo, nas quais o turismo é baseado nesse tipo de atividade e pode ser afetado — destaca Inagaki.