Marina Silva, que ficou em terceiro na disputa presidencial, encontra dificuldades de convencer a Rede Sustentabilidade de apoiar a candidatura do tucano Aécio Neves. Apesar da cúpula do seu projeto de partido já ter decidido que esse seria melhor caminho, dado o cenário atual, a base da Rede, em grande parte formada por pessoas mais jovens, ainda resiste em se aliar ao PSDB.
Em reunião da Executiva Nacional da Rede na noite de ontem, que durou mais de quatro horas, o único consenso a que conseguiram chegar é que não há como apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). “A posição é pela não continuidade do atual governo. Nós queremos uma mudança, mas uma mudança qualificada, com conteúdo, com substância”, disse o deputado licenciado Walter Feldman, que coordenou a campanha e é porta-voz nacional da Rede.
Feldman disse também que neutralidade não é uma opção, pois o grupo entende que a alternância de poder é algo fundamental à democracia e que o PT deu golpes muito duros ao atacar Marina durante a campanha e ao evitar a criação formal da Rede Sustentabilidade, no ano passado. “Não podemos deixar em aberto também, como se querer o PT fosse uma opção. Temos que tirar uma posição”, afirmou.
Se, para quem olha de fora do grupo, rejeitar Dilma e descartar a opção de neutralidade seriam uma indicação evidente em direção ao apoio a Aécio, essa visão não foi aceita ainda na reunião da Executiva de ontem. Feldman admitiu que ainda há uma resistência forte à menção direta do nome do tucano, tanto que não foi possível colocar o nome de Aécio no documento indicativo que será levado da Executiva, composta por 24 membros, para o Diretório Nacional da Rede, de 120 membros, na reunião de hoje à noite. “A decisão não está madura para isso”, avaliou Feldman. Além da Rede, os demais partidos que compuseram a coligação de Marina no primeiro turno também tiram suas posições individuais hoje para levar a uma reunião das lideranças da coligação nesta quinta-feira, 9.
Os principais argumentos de resistência ao tucano são a consideração de que o partido não sinaliza avanços na área social e o argumento de que os tucanos, assim como os petistas, trabalharam para desconstruir a imagem de Marina durante a campanha. Além da questão central de a coligação de Marina e a própria Rede terem se fundado no conceito de terceira via, contra a polarização tradicional de PT e PSDB.
Nos bastidores, membros da Rede ligados à cúpula marineira admitem que a demora em haver uma definição mais clara se deve aos processos internos de decisão – o grupo trabalha com o conceito de consenso progressivo, em que se chega às decisões por convencimento em torno de ideias e não por votação tradicional, mas que a tendência é a Rede acabar seguindo Marina no apoio ao tucano. “Há toda uma ‘ritualística’, mas é apenas uma questão de tempo o apoio ao Aécio”, disse um membro da Executiva.