Ibrahim Al Hussein foi o último colocado nas eliminatórias dos 100 metros livre para amputados, disputada na manhã desta segunda-feira, no Estádio Aquático Olímpico. Ele chegou mais de 23 segundos após o primeiro colocado em sua bateria – uma eternidade numa prova dessa distância na natação. Mas o desempenho não o incomodou. Ao contrário, ao deixar a piscina, Al Hussein era só sorrisos. Ele competiu nos Jogos Paralímpicos do Rio quatro anos após perder parte da perna direita em um ataque à bomba na Síria, onde morava. O acidente aconteceu quando ele tentava ajudar um amigo.
Após a recuperação, com a guerra civil que não cessava em seu país, Ibrahim tomou o mesmo rumo de milhares de refugiados sírios e fugiu para a Turquia. Há dois anos, ele atravessou o Mar Egeu num bote inflável e chegou à Grécia. Lá, começou vida nova como atendente de um café e voltou a praticar esportes, algo que fazia desde a infância.
Al Hussein, que completará 28 anos no fim do mês, é um dos dois atletas que disputam os Jogos Paralímpicos do Rio sob a bandeira do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). O outro é o iraniano Shahrad Nasajpour, que vive como asilado nos Estados Unidos.
O sírio perdeu a perna num bombardeio em 2012. Ele tentou ajudar um amigo e acabou atingido por estilhaços. Al Hussein não sabe o que aconteceu com o companheiro que tentou ajudar. “Eu não faço ideia de como ou onde ele está agora. Não tive mais nenhum contato, mas eu não olho mais para trás. Só olho pra frente.”
Ao competir pela primeira vez nos Jogos na manhã desta segunda-feira, ele afirmou que realizava um sonho. “Eu considero o esporte uma das coisas mais importantes da minha vida. É tão ou mais importante do que comida para minha vida”, disse ele. “Eu estou realizando um sonho. Meu sonho está se realizando após 22 anos, aqui no Brasil”, afirmou Al Hussein, que começou a praticar judô aos cinco anos.
Ele prometeu melhorar seu desempenho nas eliminatórias dos 50 metros livre, que disputará nesta terça. “Hoje eu não estava nas melhores condições para conseguir um tempo bom, mas amanhã vou fazer uma marca melhor”, declarou. “Fiquei muito tempo sem praticar esportes durante minha recuperação. Eu comecei a treinar de novo há um ano e meio.”
Além do período afastado dos treinos, ele apontou ainda para as dificuldades que teve para retomar os treinamentos. “No começo foi difícil de treinar no campo de refugiados, porque não tinha ninguém para me ajudar”, contou. “E a vida na Grécia não é fácil porque trabalho no café e tenho que conciliar com os treinos.”
Mesmo assim, Ibrahim Al-Hussein não reclama. Está feliz. E deixou uma mensagem a todas as pessoas que precisam enfrentar o mesmo drama que ele. “Eu gostaria de compartilhar este momento com todos os refugiados do mundo todo. Dizer para eles que eles são muito fortes”, declarou.