Risco de contaminar-se ao ar livre é quase zero, mas cuidado deve continuar
Especialistas afirmam que é importante saber que a pandemia não acabou, mas com precauções não há problemas em retomar as atividades liberadas
Os números de contaminados e de mortes por covid-19 seguem em queda no Brasil e as coisas cada vez mais parecem estar voltando ao “normal”, com vários estados flexibilizando as restrições sanitárias estabelecidas na fase mais crítica da pandemia. Na semana passada, por exemplo, 76% do estado de São Paulo entrou na fase verde —estágio que permite o retorno de quase todas as atividades, inclusive a reabertura de cinemas e teatros, com ocupação reduzida e diversos cuidados.
Mesmo assim, muita gente ainda fica em dúvida se está tudo bem retomar as atividades na rua ou se o melhor é continuar em casa, para não correr o risco de ser contaminado e também para evitar que os casos de covid-19 voltem a crescer.
Antes de tudo, é importante saber que a pandemia não acabou. Sendo assim, a flexibilização não significa que devemos deixar de nos prevenir. Mas, com precauções como higienizar bem as mãos, usar máscara, ficar cerca de 2 metros distante de outras pessoas e respeitar as regras de flexibilização, não há problemas em retomar as atividades liberadas. Inclusive, essa é a ideia. A questão é ter consciência. Por exemplo, atualmente, é melhor um passeio ao ar livre do que em local fechado, já que em lugares abertos a circulação de ar é maior e, por isso, há menos chance de contato com o vírus.
Para você entender melhor o momento que vivemos hoje e como se proteger, o VivaBem explica alguns pontos a seguir, com a ajuda de Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) e Igor Maia Marinho, infectologista da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador médico do Hospital AACD.
Risco é baixo ao ar livre, mas ainda requer cuidados
Um artigo publicado no final de junho, no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), destacou a importância do uso de máscara e indicou que a a principal fonte de disseminação do vírus é pelo ar.
A tese foi reforçada por um estudo preliminar publicado na plataforma MedRxiv (sem revisão por pares) e desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Flórida (EUA). Essa pesquisa mostrou que as partículas do vírus podem permanecer no ar como aerossóis, se espalhando rapidamente. E aqui vale lembrar que a transmissão por aerossol ocorre quando várias gotículas respiratórias produzem aerossóis microscópicos por evaporação e quando uma pessoa respira, tosse, espirra ou fala.
Por outro lado, de acordo com Rosana Richtmann, se você mantiver o distanciamento de cerca de 2 metros, o risco de ser contaminado por esses aerossóis em um local ao ar livre, como um parque, é praticamente nulo.
Se você estiver em um ambiente aberto com poucas pessoas, o risco, na minha opinião, é praticamente zero. Porém, se você estiver em um ambiente aberto, mas com muita gente cruzando com você e, em especial, se estiver sem máscara, o risco não é mais zero. Ele é muito menor do que em um ambiente fechado, mas não é zero.
O mesmo cenário serve para uma praia com poucas pessoas. “É um ambiente aberto, bem ventilado. Se você estive afastado e com máscara, o risco é muito, muito pequeno. No entanto, ele começa a aumentar, um pouco, se você estiver numa praia, mesmo com pouca gente, mas que tenha pessoas falando alto, cantando, gritando e próximas umas das outras. Então, mesmo num ambiente aberto, o risco já sobe”, explica Richtmann.
A especialista ressalta, ainda, que é muito difícil alguém permanecer de máscara na praia e, por isso, sugere quatro dicas para aproveitar os dias de calor:
- Evite aglomerações;
- Visite praias mais distantes;
- Mantenha o distanciamento social mínimo de 2 metros;
- Fale pouco, não cante nem grite.
Para avaliar os riscos de contágio na circulação de ar, aglomeração, tempo de exposição ao vírus, uso ou não de máscara, o que as pessoas estão fazendo (falando, cantando ou gritando), pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e do MIT, nos EUA, desenvolveram uma tabela.
De acordo com a tabela, por um período rápido, em um ambiente ao ar livre ou mesmo fechado, mas bem ventilado, com poucas pessoas, em silêncio e usando máscara, o risco de contágio é baixo. Em contrapartida, se tiver muita gente no local, mesmo sendo ao ar livre, por um período prolongado, o risco de contágio é iminente, embora as pessoas estejam usando máscara.
Saudades da família, né?
A maioria das pessoas se afastou da família por meses, especialmente dos idosos, para evitar a proliferação da covid-19, mas a saudade já apertou demais e a vontade de dar aquele abraço também.
E agora? Visitas estão liberadas com a flexibilização? Tudo depende do local, da quantidade de pessoas que estão ao redor e da forma como elas se comportam.
Considerando que, em meio aos familiares quase ninguém fica de máscara o tempo todo, segundo Richtmann, em um cenário perfeito, o ideal seria que as pessoas fizessem o teste para saber se estão infectadas, antes de visitar a família, sobretudo aqueles que têm uma rotina de trabalho fora e que, consequentemente, ficam mais expostos ao vírus. Essa medida ajudaria a prevenir novos contágios, uma vez que muitas pessoas são assintomáticas.
Saiba qual o risco de contágio que cada atividade oferece, segundo pesquisadores do Texas
“Continuo super-sensibilizada com a pandemia. Tenho diversos pacientes hoje, entubados, na UTI, em casa, apavorados com os reflexos da doença, cansados. Ou seja, a pandemia não acabou e você não imagina o número de pessoas que vão ter sequelas pós-covid”, diz Richtmann.
Caminhar, correr ou tomar um ar na rua sem máscara: pode?
Para fazer qualquer atividade em espaços públicos, a recomendação dos especialistas (e o que determina a lei no país) é que usemos máscara. Isso porque, mesmo que você esteja sozinho, o local é público e isso significa que mais pessoas podem aparecer a qualquer momento. Então, o problema não é o ambiente em si e, sim, a presença de outras pessoas.
“Existe, sim, o risco de contaminação, porque partículas com o vírus podem permanecer no ar por algum tempo, mas, principalmente, porque você pode se deparar com pessoas (que ao falar podem liberar gotículas). Então, criar o hábito de não usar máscara, no momento que a gente vive agora, pode acabar ocasionando a possibilidade de se infectar”, avalia Igor Maia Marinho.
Ambiente privado x público
“Se você está em um ambiente com a sua família, dentro de casa, na piscina ou num sítio, daí não importa mesmo. Mas ambientes abertos, de um modo geral, são compartilhados e públicos. E daí eu tenho que usar máscara? Sim, porque pode ser que outra pessoa sente perto, passe correndo ou de bicicleta”, enfatiza Marinho.
Por fim, a recomendação é aproveitar as conquistas obtidas até hoje conscientemente. Vai sair de casa? Use máscara. “O vírus continua circulando, felizmente numa quantidade menor e, sim, nós temos que manter o básico, porque a gente não está livre de ter uma segunda onda e ter que abrir mão de tudo que nós conquistamos até o momento, que não foi fácil. Não é agora que temos que baixar a guarda e correr o risco de voltar”, conclui Richtmann.