GUERRA

Rússia ameaça usar ‘todos os tipos de armas’ se Ocidente cruzar ‘linhas vermelhas’

O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, alertou o Ocidente para não acuar a Rússia, lembrando que…

O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, alertou o Ocidente para não acuar a Rússia, lembrando que há uma razão pela qual Moscou tem armas nucleares. Em uma entrevista à imprensa americana, o aliado de Vladimir Putin alertou que, se os Estados Unidos e seus aliados cruzarem as “linhas vermelhas”, os russos poderão usar “todos os tipos necessários de armas”.

Lukashenko gravou uma entrevista para o canal americano NBC, cujos trechos foram antecipados pela mídia estatal bielorrussa. Afirmando que “todas as armas nucleares são criadas para algo”, ele disse:

— A coisa mais importante: não acue seu interlocutor, ou até seu oponente. Você não deve cruzar essas linhas, essas linhas vermelhas, como dizem os russos — disse ele. — A Rússia delimitou claramente sua posição: Deus me livre, mas se houver um ataque ao seu território, a Rússia poderá usar todos os tipos necessários de armas.

Ele referia-se às ameaças feitas por Putin e dos aliados do Kremlin de que Moscou pode recorrer ao seu arsenal atômico, o maior do planeta, para proteger o que considera ser seu território. Os alertas se intensificaram após a contraofensiva que Kiev realiza desde agosto, o melhor momento para os ucranianos em meses de conflito.

Em resposta, Putin anunciou a mobilização parcial de cerca de 300 mil reservistas e autoridades pró-Moscou convocaram referendos para a anexação dos territórios de Kherson e Zaporíjia, no Sul, além de Luhansk e Donetsk, no Leste. Com resultados questionados internacionalmente, as votações deram a vitória maciça pela anexação.

Putin confirmou a incorporação em uma grande cerimônia no fim de setembro em Moscou, apesar de as quatro regiões, que juntas correspondem a cerca de 15% do território ucraniano, registrarem conflitos ativos — em Kherson, inclusive, civis foram orientados pelo Kremlin a evacuar da região. Na quarta, a manobra de Putin foi condenada por uma resolução na Assembleia Geral da ONU.

Teme-se, contudo, que Putin use ataques ucranianos aos territórios anexados como pretexto para lançar mão de armas atômicas estratégicas. Os equipamentos são de menor potência e alcance que as armas tradicionais modernas, mas ainda assim seria uma quebra de status quo, já que nenhum armamento atômico é usado desde que os EUA lançaram as duas bombas sobre o Japão em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Desde o início do conflito, a Bielorrússia, cuja economia é visceralmente ligada à da Rússia, serve como ponto de apoio para a invasão russa, através do posicionamento de tropas usadas em avanços terrestres e do uso do território para o lançamento de mísseis contra a Ucrânia. Apesar disso, Minsk não forneceu tropas ou recursos para uso direto no conflito e Lukashenko aparentemente não tem voz nas decisões vindas de Moscou.

O líder bielorusso também disse que pôs seu país no que chamou de um estágio acentuado de alerta para ataques terroristas devido a “ataques na sua fronteira”. A mudança, disse ele, é relacionada à criação da força militar conjunta com Moscou em meio a ‘deterioração’ nas fronteiras.

Anunciada na segunda, a falta de detalhes sobre o tamanho ou a finalidade da iniciativa gerou uma série de especulações. Frente às críticas, os bielorrussos disseram apenas que a força militar é “puramente defensiva” e negou ter planos de participar ativamente do conflito no país vizinho.

Com 9,3 milhões de habitantes, a Bielorrússia faz fronteira com a Rússia, sua principal aliada, no leste, com a Ucrânia no sul e com os membros da União Europeia (UE) e da Otan Polônia, Lituânia e Letônia no oeste.