POLÍTICA

Saiba quem é a advogada à frente do cofre de R$ 1 bilhão do novo partido União Brasil

Discreta e pouco conhecida no meio político, Maria Emília de Rueda é irmã do vice-presidente da sigla, criada a partir da fusão entre PSL e DEM

Maria Emília de Rueda, tesoureira do União Brasil Foto: Divulgação

Na primeira convenção do União Brasil, o superpartido criado a partir da fusão entre DEM e PSL, a advogada Maria Emília de Rueda passou quase despercebida no fundo do auditório e não teve assento na mesa diretora, apesar de ostentar um dos cargos mais importantes da nova legenda — o de tesoureira. No palco estavam o presidente, Luciano Bivar, o secretário-geral, ACM Neto, ministros do governo Bolsonaro, governadores, senadores e deputados.

Distante da ribalta, Maria Emília vai comandar um dos maiores cofres da política, estimado em R$ 1 bilhão. Esse valor considera o saldo dos fundos partidários do DEM e PSL, acrescido do fundão eleitoral, cujo reajuste é esperado para o Orçamento de 2022. Atualmente, a verba pública destinada às duas siglas está na casa de R$ 460 milhões. Caberá à advogada agora organizar a distribuição da dinheirama do novo superpartido, que, neste primeiro momento, almeja lançar um candidato à Presidência, 12 nomes a governos estaduais e mais uma penca de postulantes ao Senado e à Câmara.

Apesar da importância da cadeira que ocupará e de fazer parte da Executiva do PSL desde 2015, Maria Emília ainda é uma desconhecida entre seus correligionários.

— Como é o nome dela mesmo? — perguntou um dirigente e deputado do PSL, durante a convenção, ao ser questionado sobre o que achava da nova tesoureira.

Um dirigente do DEM respondeu:

— Vou ser sincero. Eu não sei nada sobre ela. Só que é a irmã do Rueda.

A advogada chegou ao posto por indicação do seu irmão, Antônio Rueda, braço direito de Bivar e vice-presidente do União Brasil. Maria Emília e o irmão são sócios em oito escritórios de advocacia espalhados pelo país, além de duas empresas de compra e venda de imóveis com capital superior a R$ 600 mil.

Ao desenharem a fusão do PSL com o DEM, Bivar e Rueda não quiseram arriscar e optaram por uma solução caseira nas indicações da Executiva — ou melhor, consanguíneas. Além da irmã de Rueda, figura como vice da legenda o filho de Bivar, Cristiano. O DEM, por outro lado, priorizou a nomeação de figurões da política como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho.

Sem experiência política, Maria Emília fez carreira no meio jurídico. Formada em Direito e Relações Internacionais e com especialização em inteligência artificial, ela comanda sozinha o escritório de advocacia Rueda & Rueda, que tem filiais em 11 estados. Ela assumiu o posto depois que o irmão passou a se ocupar com as articulações políticas do PSL. Focado em “contencioso de massa”, a banca fez fortuna atuando na defesa de grandes operadoras de seguros, planos de saúde e telefonia.

— É a Dilma dos Rueda — compara um funcionário, fazendo referência ao estilo exigente da chefe.

Diferentemente do irmão, conhecido pelas festanças que promove em Brasília com parlamentares e empresários, a tesoureira do União Brasil tem um perfil mais discreto. Mãe de duas filhas, ela pretende continuar morando com a família em São Paulo e viajar esporadicamente a Brasília, onde enfrentará uma longa fila de políticos interessados em obter recursos para financiar campanhas.

Ascensão feminina

Maria Emília se recusou a dar entrevista, mas disse por meio de nota que se afastará do escritório de advocacia assim que for formalizada como tesoureira. Afirmou também que pretende implementar um “controle mais rígido sobre as contas do partido”, além de “participar ativamente” de um movimento que coloque mulheres em “espaços relevantes nas estruturas partidária, eleitoral e política”.

Sabendo que o cofre bilionário do União Brasil pode se tornar alvo de disputas e fontes de problemas, Maria Emília recebeu a missão de contratar auditorias para fiscalizar as contas do superpatido e evitar dores de cabeça que assolaram o PSL no passado. Nas últimas prestações de contas, o partido comandado por Bivar usou verba pública para bancar o aluguel de sua sede em um dos prédios mais valorizados de Brasília, ao preço de R$ 30 mil por mês, além do custeio de mobílias de alto padrão e refeições em alguns dos restaurantes mais nobres da capital.