A confirmação do rompimento do PMDB com o governo da presidenta Dilma Rousseff acirrou os debates em torno da governabilidade e do impeachment da presidente. Para líderes da oposição, o afastamento reforça a crise política e aumenta as chances de afastamento de Dilma.
Em convenção que durou cerca de cinco minutos, o PMDB encerrou uma aliança de 15 anos com o PT. Para a oposição, o gesto abre caminho para outras legendas da base aliada abandonem o governo.
Um dos primeiros oposicionistas a comentar o fato, o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), foi taxativo. “Esse é um sinal de que a debandada começou”, afirmou.
O oposicionista vê na atitude do partido uma espécie de senha para que o parlamento avance no processo de impedimento da presidente Dilma. “A decisão do PMDB vai ajudar o país porque faz avançar o processo de impeachment e o Brasil precisa mais do que nunca resolver essa situação”, disse.
Um dia antes da decisão, a expectativa do rompimento do PMDB chegou a pelo menos dois partidos. O PSD, do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, anunciou que vai liberar a sua bancada, formada por 31 deputados, na votação do processo de impeachment.
O PP, que comanda o Ministério da Integração, com Gilberto Occhi, estuda liberar a bancada. Entretanto, parte dos deputados defende uma convenção para fechar uma posição a respeito da saída do governo e a favor do impedimento.
O deputado Jerônimo Goergen (RS) reuniu 22 assinaturas, dos 49 deputados, favoráveis ao rompimento. “Eu percebo que há todo o espaço no PP para fechar posição favorável ao impeachment”, disse.
A definição sobre a promoção da convenção será tomada amanhã durante reunião com o presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PI). Os deputados favoráveis ao afastamento defendem que a data limite para a convenção ocorra antes da votação do processo de impeachment no plenário da Câmara. “Precisamos da convenção para resolver diferenças internas”, avaliou Goergen.
O líder do PT, Afonso Florence (BA), minimizou o impacto da saída do PMDB da base do governo. Para o petista, é preciso aguardar a movimentação dos setores do PMDB que continuam apoiando o governo.
“Nem todo o PMDB estava lá [na reunião], tem que esperar o resultado político dessa decisão de afastamento, porque há ministros e deputados que têm que se pronunciar”, disse.
Florence criticou o vice-presidente Michel Temer que, segundo ele, deixou de defender a legalidade do mandato de Dilma para entrar no barco do impeachment. “O vice-presidente Michel Temer foi eleito e, em vez de preservar o mandato popular, defende o impeachment que não tem crime de responsabilidade”, disse.
Perguntado se o partido adotará uma posição belicosa em relação a Temer, Florence negou. “Não é guerra contra Michel Temer, é a defesa da legalidade democrática, coisa que ele não faz”, afirmou o petista. Ele espera que a decisão de hoje não interfira na avaliação do partido com relação ao impedimento.
O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), criticou a decisão do PMDB, que classificou como fisiologista. “Em minha opinião, isso faz parte da saída Temer e nós entendemos isso como um golpe”, disse Valente para quem não há comprovação de que Dilma cometeu crime de responsabilidade.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ironizou a saída do PMDB da base. “O PMDB está com a expectativa de, em vez de sete, ter 30 ministérios para distribuir. Só que o Michel Temer está sendo acusado na operação Lava Jato. As pedaladas fiscais, elementos fundamentais do impeachment foram feitas pelo governo do qual ele participa”, afirmou.
Centro dos debates políticos dessa terça-feira, o PMDB disse que adotará uma posição de independência em relação ao governo. Logo após o anúncio do rompimento, o senador e vice-presidente do partido Romero Jucá (RR) disse: “O que for de interesse do governo e importante para o Brasil nós votaremos. Se for algo que nós não concordemos, nós diremos claramente; não teremos mais atrelamento à base do governo”.
Para o presidente da Fundação Ulisses Guimarães, Moreira Franco, o PMDB terá cautela e não irá se precipitar em definir uma posição na questão do impeachment. “não tem uma unidade como tivemos aqui hoje que permita tomar uma posição por aclamação e nós queremos que a posição represente todo o sentimento do povo brasileiro”, disse.
Ao avaliar o desembarque do PMDB, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), que desde julho do ano passado defendia o fim da aliança com o governo, disse que o partido carregava o ônus da aliança, sem participar da formulação das políticas econômicas e de outra natureza. “Não tem sentido o PMDB ficar sócio de ônus de um governo impopular, com medidas com as quais nós não concordamos”, disse.
Cunha disse que, na sua avaliação, a saída da base aliada não tem relação com o processo de impeachment. “O PMDB tinha que sair de qualquer maneira, havendo ou não impeachment”, afirmou.