São Paulo registra protestos contra a fome em pelo menos 15 bairros
Os participantes dos atos carregaram panelas, ossos e faixas em protesto contra a fome no país
Quinze protestos simultâneos contra a fome, o desemprego e o encarecimento do custo de vida foram realizados em diferentes pontos da capital paulista na tarde desta terça-feira (21).
As Marchas Contra a Fome, organizadas por entidades como a Central de Movimentos Populares (CMP), acontecem próximas a supermercados na região central, no Butantã, nas favelas de Heliópolis e Paraisópolis e nas regiões de São Mateus, Grajaú, Capão Redondo, Jardim Caraguatá, Vila Prudente, Tucuruvi, Sapopemba, Cidade Ademar e Brasilândia.
Um protesto foi organizado também na cidade de São José dos Campos (SP), na Praça Afonso Pena, região central.
Os participantes dos atos carregaram panelas, ossos e faixas em protesto contra a fome no país. Uma carta aberta que alerta para a desigualdade no país foi entregue para comerciantes de cada região e lida para o público ao final das marchas.
“É nas periferias e nas comunidades favelizadas onde a fome mais pesa e impacta as pessoas. O povo não suporta mais tanta miséria, não aguenta mais ver aumentar a quantidade de bilionários enquanto passa fome. Comida tem, os supermercados estão cheios, o que falta é dinheiro para comprar e justiça social”, dizia o manifesto.
No centro da capital, o protesto começou por volta das 15h, em frente à Bolsa de Valores. O local recebeu em novembro o Touro de Ouro, espécie de réplica da estátua encontrada em Wall Street, no distrito financeiro de Nova York. A escultura foi alvo de protesto contra a fome e retirada após oito dias. No início de dezembro, uma vaca magra, em alusão a fome e miséria, foi colocada no mesmo local.
“Entre o boi gordo e a vaca magra, o que está sobrando para as famílias são os ossos”, diz Carmen Ferreira, uma das organizadoras do ato no centro. “Natal é época de consumo, mas o que estamos vendo são pessoas com geladeira vazia, diminuindo refeições e nos ligando pedindo ajuda para completar a cesta básica.”
Vanessa Serra, 26, orientadora em um centro de acolhida, compareceu ao ato no centro para protestar também contra a inflação dos alimentos. “Mesmo quem está trabalhando, quando chega no caixa do mercado tem que deixar metade dos itens, de tão caro que está tudo. Voltamos para casa sem saber se teremos o que comer.”
Os atos foram organizados também em regiões periféricas e no final da tarde para facilitar a participação dos trabalhadores dessas regiões, segundo Raimundo Bonfim, coordenador da CMP.
“Infelizmente durante o Natal e o Ano Novo milhões não tem sequer o alimento básico. As pessoas estão finalizando 2021 com muita dificuldade, dado o aumento do preço do botijão de gás, da tarifa de energia, do arroz, feijão e do óleo, além do desemprego e a perda de renda”, diz Bonfim.
Os manifestantes protestam também contra o que consideram como um desmonte promovido pelo governo Bolsonaro das políticas de combate à fome, como a extinção do Consea (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), encerrado no primeiro dia do mandato, em janeiro de 2019.
Em novembro, a primeira Marcha da Panela Vazia foi realizada na favela de Heliópolis, a maior da capital paulista. Nesta terça, a comunidade realizou novo ato. Uma faixa da Estrada das Lágrimas, uma das principais vias de acesso à comunidade, foi fechada pelos manifestantes.
Professora em creche da região, Marta Ribeiro, 29, diz que os pais de alunos têm reclamado do preço dos alimentos. “Eles falam da dificuldade em comprar o arroz, o feijão.”
O ato foi acompanhado por representantes da comissão de direitos humanos da OAB. Segundo Flavio Straus, representante da comissão que acompanhou o protesto em Heliópolis, o avanço da fome no país viola direitos fundamentais, como a segurança alimentar prevista no artigo 227 da Constituição de 1988.
Em 17 de dezembro, protestos contra a fome também aconteceram em supermercados de pelo menos nove capitais do país.