Avifavir, o antiviral que a Rússia aponta como esperança no combate à Covid-19
'É uma droga muito promissora, que serve para o tratamento de vários outros vírus que a gente conhece bem por aqui', diz virologista brasileiro
A Rússia anunciou que na próxima semana disponibilizará aos pacientes seu primeiro remédio aprovado para tratar casos de Covid-19, uma medida que espera-se que permita a redução da pressão sobre o sistema de saúde do país e a aceleração do retorno das atividades econômicas.
Os hospitais russos poderão começar a dar o remédio antiviral, registrado com o nome Avifavir, aos pacientes infectados pelo novo coronavírus a partir de 11 de junho, segundo afirmou a agência de notícias Reuters citando informações dadas pelo chefe do fundo soberano RDIF. Ele contou que a empresa responsável pelo medicamento o fabricará em quantidade suficiente para tratar cerca de 60 mil pessoas por mês. O anúncio foi feito na segunda-feira (1/6).
De acordo com Rodrigo Brindeiro, virologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Avifavir, com o nome genério de favipiravir, é um antiviral que foi desenvolvido por quatro cientistas japoneses em 1990 para prevenir que acontecesse uma futura pandemia semelhante à da Gripe Espanhola de 1918, que tirou a vida de aproximadamente 50 milhões de pessoas ao redor do planeta na época.
— Depois que passou aquela epidemia de H1N1 de 2009 e 2010, essa droga ficou meio esquecida na prateleira, mas os testes clínicos continuaram — conta Brindeiro — Para uma remédio ser aprovado, ele precisa passar por longos testes, e ser aprovado nas fases um, dois e três. É por isso que ele está pronto agora, porque já passou por todos esses estudos clínicos.
Inicialmente usado para tratar casos de pacientes contaminados por Influenza, que têm como característica RNA como material genético, o antiviral passou a ser testado por outros pesquisadores japoneses contra patógenos do mesmo grupo genômico, como os da dengue, zika, chicungunha e outros. Ao final dos estudos, os cientistas obtiveram resultados bem-sucedidos na inibição da replicação desses vírus em células humanas infectadas, sendo algumas delas submetidas somente a ensaios feitos em laboratório.
Na sequência, os pesquisadores começaram a expandir os estudos para testar o efeito do medicamento sobre o novo coronavírus, já que o Sars-Cov-2 também é um vírus RNA.
— É uma droga muito promissora e realmente muito boa, serve para o tratamento de vários outros vírus que a gente conhece bem por aqui no Brasil — assegura o virologista.
Kirill Dmitriev, chefe da RDIF, disse à Reuters que cientistas russos otimizaram o remédio para usá-lo no tratamento de pacientes com Covid-19, e que Moscou compartilhará os detalhes dessas modificações dentro de duas semanas.
Os testes clínicos do remédio na Rússia foram realizados em 330 pessoas, e teriam mostrado que o remédio combateu o vírus com sucesso dentro de quatro dias na maioria dos casos. O Avifavir apareceu em uma lista de medicamentos aprovados pelo governo russo no sábado.
O Japão vem testando o mesmo medicamento, conhecido lá como Avigan. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, concedeu o equivalente a 128 milhões de dólares de financiamento estatal para continuar os ensaios clínicos, mas ainda não aprovou seu uso.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a droga ainda não foi registrada no Brasil.