Coronavírus: Ministério da Saúde desconhece resultados de mais de 100 mil testes da rede privada
Secretário disse também que cerca de 90 mil exames aguardam processamento, segundo balanço de três dias atrás
Cerca de 90 mil testes para Covid-19 estão em fila de espera aguardando processamento e outros mais de 100 mil realizados em serviços privados não tiveram seus resultados compartilhados com o Ministério da Saúde. Os problemas na testagem e nas notificações foram comentados por Wanderson Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde da pasta, nesta terça-feira em coletiva de imprensa.
– Sabemos que pelo menos as grandes redes (de laboratórios privados) têm mais de 100 mil exames que não entraram nos sistemas (do Ministério da Saúde). E não sei precisar quantos são positivos -afirmou Wanderson.
De acordo com ele, a notificação nesses casos está prevista em legislação da década de 1970 e tem de ser cumprida por parte dos laboratórios. Ele disse ainda que o dado apurado três dias atrás apontava 93 mil testes aguardando processamento no país.
Um outro problema de falta de informações precisas, segundo Wanderson, está na aplicação dos testes rápidos disponibilizados pelo governo, que ele afirmou serem 3 milhões:
– Distribuímos os testes rápidos. Os dados de quem usou e deu negativo, ou de quem usou e deu positivo não estão chegando ao Ministério da Saúde – afirmou.
Santa Catarina, devido ao crescimento da curva de casos, que se assemelha à trajetória de São Paulo, segundo Wanderson, tem chamado atenção do Ministério da Saúde. Segundo ele, a população idosa expressiva do estado “preocupa” a pasta, ressaltando, porém, que os gestores locais estão adotando medidas, como ampliação de leitos.
– Isso não quer dizer que no estado de Santa Catarina haverá situação de dificuldade estrutural – ponderou.
O secretário destacou ainda que os jovens também podem ser afetados pelo novo coronavírus, sendo 54% dos diagnosticados no país. Mas quando se fala em óbitos, segundo ele, “o padrão se inverte”, com 69% das vítimas com idade superior a 60 anos.
– É importante que todos saibam que os jovens também podem ser afetados. E precisam tomar as precauções que a gente vem relatando sistematicamente: lavar as mãos, usar máscara, fazer as medidas de etiqueta respiratória – afirmou Wanderson.
De acordo com o secretário, um relatório do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, de 16 de março, mostra que 38% de uma amostra de hospitalizados por Covid-19 (508 pessoas) tinham entre 20 e 54 anos. França e Holanda, ainda conforme Wanderson, também já estão observando que metade dos casos graves são em pessoas com menos de 50 anos.
Wanderson destacou que as diretrizes sobre distanciamento social elaboradas pela pasta para ajudar gestores locais “estão sendo concluídas” e deverão ser anunciadas “amanhã ou depois”. O ministro Nelson Teich declarou, na semana passada, que temia que as regras sejam alvo de polarização política.
– Essas diretrizes estão sendo concluídas. Estamos validando com secretarias estaduais dentro do COE (Centro de Operações de Emergência). Creio que que nos próximos dias divulgaremos isso. Nao sei se amanhã ou depois – disse Wanderson.
Sobre medidas de lockdown, que é o fechamento total do espaço para diminuir a transmissão, Wanderson evitou tecer comentários mais aprofundados, mencionado ser uma medida difícil para o gestor local. São Luís, no Maranhão, já adotou a medida rígida. Belém e outros municípios paraenses também iniciarão a estratégia de lockdown.
Wanderson adiantou que o governo federal deverá anunciar em breve uma estratégia, em parceria com os estados, de monitoramento eletrônico de pessoas com sintomas de Covid-19 e de seus contatos, além do rastreamento que já vem sendo feito por telefone pela pasta.
A medida será importante, de acordo com o secretário, para medir o impacto do distanciamento social, sem dar mais detalhes.
– É preciso também deixar claro que as medidas de distanciamento social não são lineares. Posso ter local que não fechou e que não vai precisar fechar em nenhum momento. Pode ter local que fechou, vai abrir e vai continuar aberto. Outros em que fechará, vai abrir, e depois vai ter que fechar novamente em alguns setores – disse.