Entenda

Crianças negras morrem mais do que as brancas após cirurgias, indica estudo

De acordo com os pesquisadores, as crianças negras estão mais propensas a ter riscos de complicações pós-operatórias

Um novo estudo publicado segunda-feira (20) na revista Pediatrics apontou que as crianças negras, aparentemente saudáveis ou com um nível mínimo de comorbidades, tem 3,5 mais chances de morrer dentro de 30 dias após uma cirurgia do que as crianças brancas.

De acordo com os pesquisadores, as crianças negras estão mais propensas a ter riscos de complicações pós-operatórias, mas isso não é nenhuma novidade. “O fato de os pacientes afro-americanos terem resultados cirúrgicos piores em comparação aos pacientes brancos foi estabelecido há muito tempo”, disse em um comunicado à imprensa, Olubukola Nafiu, anestesista pediátrico e vice-presidente de assuntos acadêmicos e pesquisa do Nationwide Children’s Hospital e principal autor do estudo.

Os pesquisadores do estudo salientam também que a carga de comorbidades no pré-operatório pode ser um dos fatores que desencadeiam mais riscos. Isto é, as crianças negras podem apresentar algumas doenças que tendem a prejudicar a cirurgia, mas isso ainda precisa ser melhor estudado.

Vale ressaltar que não foram avaliados os hospitais onde ocorreram essas cirurgias, portanto, as condições às quais as crianças foram submetidas ainda são uma incógnita.

Como o estudo foi feito?

A equipe analisou de 2012 a 2017 um banco de dados pediátrico nacional (EUA) de melhoria da qualidade cirúrgica. Para a pesquisa foram utilizados os dados de mais de 172 mil crianças aparentemente saudáveis. Elas foram avaliadas de acordo com suas condições físicas para procedimentos cirúrgicos.

“Geralmente, esperamos que pacientes mais saudáveis se saiam bem com cirurgias. A expectativa deve ser que as taxas de complicações e/ou mortalidade entre crianças saudáveis não variem com base na categoria racial – o que descobrimos é que elas variam”, ressalta Nafiu.

Quais foram os resultados?

A estatística dos resultados mostrou que, em geral, cerca de 14% das crianças desenvolveram complicações pós-operatórias durante esse período. E só o fato de serem negras, conferiu a elas 27% mais chances de desenvolver complicações pós-operatórias do que as brancas.

As crianças negras também tiveram chances 8% maiores de desenvolver problemas graves após a cirurgia. Por fim, em comparação com seus pares brancos, as crianças afro-americanas tiveram chances 3,43 vezes maiores de morrer dentro de 30 dias após a cirurgia.

Esses resultados não mudaram significativamente após o ajuste para variáveis como sexo, idade, ano do procedimento, urgência do caso e tempo de operação.

É importante ressaltar que essas descobertas são de dados observacionais. A raça não causa esses resultados, mas está fortemente associada a eles”, afirma Nafiu.

O próximo trabalho dos pesquisadores, acrescentou, é analisar quais complicações pós-cirurgia estão direcionando os padrões de doença e morte, para que eles possam determinar o que pode ajudar.