‘Tudo acertado, sem problema nenhum’, diz Bolsonaro sobre Mandetta
Ministro da Saúde adota tom pacificador e diz que Bolsonaro é o comandante do time
f. Bolsonaro disse, em entrevista à Band, que os dois estão estressados devido ao trabalho, mas negou-se a responder se cogitou demitir Mandetta. O ministro, por sua vez, adotou um tom pacificador em relação ao presidente e fez questão de demostrar uma reaproximação entre os dois, ressaltando que Bolsonaro é o comandante do time.
— Foi acertado. É comum, Datena, alguma coisa…Até em casa, a gente tem problema muitas vezes com a esposa, com o esposo, né? É comum acontecer no momento em que todo mundo está estressado de tanto trabalho, eu estou, ele está. Mas foi tudo acertado, sem problema nenhum, segue a vida — disse Bolsonaro.
Questionado se pensou em demitir o ministro, como revelou o GLOBO, Bolsonaro desconversou e fez piada com o apresentador José Luiz Datena:
— Um beijo para você, Datena. Um abraço hétero para você, Datena.
Depois, sem referir-se diretamente a Mandetta, o presidente criticou subordinados que tentam impor sua vontade e aparecer muito na televisão:
— O que não pode acontecer é você ter um subordinado aí na televisão pra cima de você e tu não pode viver sob tensão com essa preocupação, tá certo?
Após Datena afirmar que a falta de resposta parecia uma confirmação, Bolsonaro disse, entre risos:
— Então você vai falar “pensou”. Pô, Datena, eu penso cada coisa, é bom você não perguntar o que eu penso de você, não, Datena.
De acordo com o presidente, Mandetta “se convenceu” a flexibilizar sua posição sobre a utilização da cloroquina, e o parabenizou por isso.
— Ele, inclusive, a questão da hidroxicloroquina de ontem para hoje ele decidiu aí também fazer com que as pessoas, no início da manifestação possam ser atendidas, foi muito bem-vindo da parte dele. Então eu o parabenizo no tocante a isso. Isso tinha um ponto de atrito entre nós. E ele, como médico, entendeu perfeitamente e se convenceu disso.
‘Aqui tá tudo bem’
Se, na última segunda-feira, após ter sua demissão preparada e depois suspensa, o ministro falou à imprensa sem citar nominalmente o chefe, hoje ele fez questão de demonstrar uma reaproximação entre os dois, ressaltando que Bolsonaro é o comandante do time.
— Aqui tá tudo bem. Vamos olhando pelo pára-brisa e essa estrada terá dias muito duros, muito difíceis. E quem comanda esse time aqui é o presidente Jair Messias Bolsonaro. Vamos gradativamente deixando todos muito tranquilos para que a gente gente possa fazer um bom trabalho, cada um na sua área — disse Mandetta, admitindo a existência de rusgas, mas minimizando-as:
— Tivemos nossas dificuldades, tivemos. Isso é público. Porém, estamos prontos, cada um ciente do seu papel.
Ele deu as declarações após voltar a dizer que o uso da cloroquina em massa ainda não tem evidências científicas. O presidente Bolsonaro tem defendido o remédio como forma de enfrentar a pandemia da Covid-19. A substância se tornou mais um ponto de divergência entre os dois, além da questão do isolamento. Enquanto o ministério vinha defendo um distanciamento social mais abrangente, Bolsonaro queria um formato seletivo (só idosos e doentes crônicos).
Mandetta afirmou, ainda no pronunciamento de hoje, que o Ministério da Saúde tem “total tranquilidade” para tomar as medidas necessárias. Os acenos explícitos a Bolsonaro ocorrem após uma conversa particular entre o presidente e Mandetta, na manhã desta quarta-feira.
Na segunda-feira, quando sua demissão quase foi efetivada, ele deixou o Palácio do Planalto em clima de mal-estar e falou à imprensa, cercado de quase todos os seus secretários e de servidores da pasta que o aplaudiram. Na ocasião, Mandetta deu recados, de forma indireta, ao presidente, reafirmando com ênfase que se pautaria em dados científicos e que o isolamento era necessário.