Operação Lava Jato

Schahin confirma a Moro propina de R$ 2,5 milhões a diretores da Petrobras

Um dos sócios do grupo Schahin, o executivo Milton Schahin, disse nesta quarta-feira (20) em…

Um dos sócios do grupo Schahin, o executivo Milton Schahin, disse nesta quarta-feira (20) em depoimento ao juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara Federal, em Curitiba, que pagou US$ 2,5 milhões em propina a diretores da Petrobras pelo contrato de operação e compra do navio-sonda Vitória 10.000. O executivo afirmou ainda que o empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai ao Banco Schain foi quitado como parte das negociações do grupo com a estatal.

Milton Schahin, réu na ação decorrente da 21ª fase da Operação Lava Jato, que apura desvio de recursos da Petrobras, disse que em 2011 foi procurado pelo lobista Jorge Luz para fazer uma negociação sobre o pagamento de US$ 2,5 milhões em propina a diretores da estatal. O pagamento, feito por meio de uma  offshore (empresa em paraíso fiscal), foi dividido em dez prestações. Milton entregou a Moro documentos que comprovariam o depósito em contas do ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa.

Musa já entregou à Lava Jato comprovantes de recebimentos da Schahin, em conta na Suíça. Um dos fundadores do Schahin, ao lado do irmão Salim Schahin, Milton disse também que o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada exigiu pagamento de propina no valor de US$ 5 milhões. O executivo da Schahin disse que não aceitou fazer o pagamento.

De acordo com o executivo, as conversas do grupo com representantes do Partido dos Trabalhadores e com o pecuarista José Carlos Bumlai começaram em 2004. Em 2006,ele procurou o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para que intermediasse politicamente a favor da Schahin para assinatura, com a Petrobras, de contrato relativo ao navio-sonda Vitória 10.000.

“Externei ao Vaccari a oportunidade de negócio. Coloquei para ele que a Schahin tem condições de fazer esse serviço, única empresa no Brasil com um navio em operação. Falei que o preço da proposta seria a mesma da Transocean, que já operava, mas que se não tivesse um apoio político não ia conseguir caminhar. Depois de alguns dias, ele [Vaccari] voltou e dizendo que talvez desse para ter esse apoio político. Nessas circunstancias, continuamos a conversa e veio a questão do empréstimo [de Bumlai]”.

Emocionado no fim do depoimento, o executivo disse que tinha orgulho de seu trabalho e que não deu prejuízo à Petrobras: “Eu não tive vantagem. Tive desvantagem em relação à Transocean”. O filho de Milton,  Fernando Schahin também prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro. O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que seriam interrogados hoje, optaram por ficar em silêncio e foram dispensados.

Fernando Schahin

O empresário Fernando Schahin negou envolvimento no empréstimo do Grupo Schahin a Bumlai. Em seu depoimento, Fernando afirmou que sua posição na empresa não era na área financeira e que, por isso, não participou de discussões envolvendo empréstimos.

Ele contou, no entanto, que se reuniu com Eduardo Musa, ex-diretor da Petrobras, para auxiliar na negociação do grupo com a estatal envolvendo o navio-sonda Vitória 10.000. Fernando Schahin disse que foi apresentado por Musa ao lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, em um almoço. Segundo Fernando Schahin, Musa tentou convencê-lo a incluir Soares na transação, para viabilizar o sucesso do negócio, alegando que o Grupo Schahin não teria condições financeiras para garantir o contrato com a Petrobras, com o que Fernando não concordou.

Fernando Schahin também negou ter negociado propina com Musa. “Eu não tratei com ele de propina. Não ofereci propina, não negociei propina, não discuti propina com o senhor Eduardo Musa. Eu simplesmente recebi um pedido dele nesse almoço, que eu relatei, com a participação do senhor Fernando Soares”.

O empresário contou ainda que teve um breve encontro com Bumlai em um evento social. Nesse evento, Bumlai teria perguntado como andava o negócio com a Petrobras. “Eu falei em linhas gerais que a negociação estava caminhando bem e depois me despedi. […] Ele também pediu para eu dar um recado ao pessoal lá que o presidente estava abençoando o negócio. Peguei a informação e me despedi dele”. Schahin pai confirmou a Moro a versão do filho.

Depoimentos

O lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano foi ouvido pela Justiça Federal do Paraná na segunda-feira (18).  Soares é réu em processo referente à 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Passe Livre.

Baiano relatou que o pecuarista José Carlos Bumlai pediu sua ajuda para garantir o acerto de um contrato entre a Petrobras e o Grupo Schahin, em 2006. Ele disse ter sugerido a Bumlai que fosse feita uma sociedade entre as empresas na construção do navio-sonda Vitória 10.000, que já estava sendo acertado pela Diretoria Internacional da Petrobras.

Assim como no depoimento de Cerveró, o nome do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, foi citado por Baiano como intermediário das negociações entre a Petrobras e o Grupo Schahin. Segundo o lobista, Bumlai disse que Gabrielli estava tentando garantir o acerto entre as empresas, mas não estava tendo sucesso.

Fernando Baiano relatou ter se reunido com a Diretoria Internacional da Petrobras, comandada à época por Nestor Cerveró, para propor a sociedade com o Grupo Schahin. Segundo ele, a diretoria disse que o acerto era possível, desde que a empresa apresentasse garantias financeiras para fechar o negócio.

Em uma conversa posterior, segundo o relato, Bumlai explicou a Baiano que o acordo entre a Petrobras e o Grupo Schahin serviria para quitar uma dívida do PT com o Banco Schahin referente à campanha política de 2002.

Garantias financeiras
O lobista revelou, ainda, que o Grupo Schahin não conseguiu comprovar as garantias financeiras em um primeiro momento e a sonda foi construída sem a participação da Schahin. Segundo o relato, apenas mais tarde o grupo entrou como sócio, mas não aceitou quitar toda a dívida do PT. Então, a Petrobras negociou a inclusão de uma cláusula de leasing que permitiria à Schahin comprar a sonda ao final do contrato por um valor abaixo do de mercado.

Baiano disse que não houve pagamento de propina pela Schahin no negócio com a Petrobras, pois o objetivo do negócio era liquidar a dívida do PT. Segundo o lobista, a propina já estava sendo paga pela Samsung, empresa que construiu o navio-sonda.

A Samsung foi procurada mas não foi encontrada para comentar o depoimento de Baiano.

Cerveró
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró também foi ouvido na segunda-feira pela Polícia Federal. Pela primeira vez Cerveró falou na condição de delator. O depoimento é referente à 21ª fase da Operação Lava Jato, que investiga contratos feitos pelo pecuarista José Carlos Bumlai para supostamente quitar empréstimos com o Banco Schahin.

Cerveró relatou detalhes sobre as negociações com o Grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000 em 2006. Ele contou que, na época, estava sendo pressionado pelo então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, para que ajudasse a liquidar uma dívida de campanha do PMDB de cerca de R$ 10 milhões.

O ex-diretor diz que pediu ajuda ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que teria proposto uma troca: resolveria o problema do PMDB se Cerveró resolvesse uma dívida de campanha do PT, de R$ 50 milhões, com o Banco Schahin.

O ex-diretor contou, então, que se reuniu de forma privada com Fernando Schahin, pois sabia da intenção do grupo de assumir a operação do navio-sonda. Ele disse ter falado ao representante do Grupo Schahin que a Petrobras contrataria a empresa para operar o Vitória 10.000 se o banco liquidasse a dívida do PT. Dias depois, segundo o relato, Gabrielli telefonou para Cerveró comunicando ao ex-diretor que a pendência “foi resolvida” e que ele poderia dar encaminhamento ao contrato.

Durante o depoimento, Cerveró disse que foi apresentado à época a Bumlai pelo lobista Fernando Baiano. O ex-diretor diz que foi Fernando quem lhe contou que Bumlai era o fiador da dívida do PT com o Banco Schahin e que, portanto, o pecuarista “tinha interesse” que a dívida fosse paga.

Cerveró reforçou o que havia dito em delação premiada no começo do ano, sobre a época em que foi alçado a diretor-financeiro da BR Distribuidora. Ele contou que ficou sabendo por meio do ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, que o cargo foi concedido como “reconhecimento” por ter resolvido parte das dívidas do PT.

Arrependido
Ao final do relato, Nestor Cerveró pediu desculpas pessoais ao juiz federal Sergio Moro, que estava conduzindo o interrogatório. Ele afirmou estar arrependido por ter mentido em depoimentos anteriores, quando negou ser proprietário de offshores e ter moeda corrente internacional.

O delator ressaltou que as mentiras foram orientadas por um “péssimo advogado”, referindo-se a Edson Ribeiro. O antigo defensor de Cerveró foi preso no fim do ano passado, após gravação de Bernardo Cerveró (filho de Nestor) revelar trama entre o advogado e o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) para manipular a delação premiada de Nestor.

O ex-diretor emocionou-se ao mencionar a atitude do filho e ao lembrar da família, que vive no exterior por orientação da Polícia Federal. Cerveró também pediu desculpas à sociedade pelos prejuízos que causou à Petrobras.

O ex-ministro Silas Rondeau e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli foram procurados mas não foram encontrados para comentar o depoimento de Cerveró.