Seca no Rio Paraguai pode comprometer reestruturação de porto para escoamento
Baixa histórica pode comprometer um investimento de cerca de R$ 6 milhões na reestruturação do Porto Fluvial de Cáceres
A baixa histórica no nível das águas do rio Paraguai pode comprometer um investimento de cerca de R$ 6 milhões na reestruturação do Porto Fluvial de Cáceres, cidade do Mato Grosso que fica na fronteira com a Bolívia.
A estrutura estava desativada há mais de dez anos e foi reformada por meio de um termo de cooperação entre a Companhia Mato-Grossense de Mineração (Metamat), ligada ao estado, e a Associação Pró-Hidrovia do Rio Paraguai (APH), formada por produtores da região.
A intenção é que o porto volte a servir para escoamento de boa parte da safra de grãos das regiões oeste e sudoeste do estado.
Segundo o presidente da APH, Vanderlei Reck Junior, além de algumas licenças, a entidade aguarda o período de safra e de cheia do rio para colocar o porto em operação, o que está previsto para o início de 2022.
Mas a previsão pode ficar comprometida, a depender das chuvas esperadas a partir de outubro na região, quando se encerra o período da vazante. O receio é que o volume não seja suficiente para garantir a navegabilidade no rio, que forma com o Paraná uma das principais vias fluviais da América do Sul, usada no escoamento de grãos tanto da produção brasileira quanto dos vizinhos Paraguai e Argentina -onde a seca já compromete as exportações.
“É o terceiro ano consecutivo que não há inundação da planície pantaneira. Já no ano passado, quem é da navegação já sabia que o fenômeno ia se repetir esse ano porque o Pantanal não iria recuperar de um ano para outro a condição de nível tendo baixado tanto”, aponta o pesquisador do CPRM, Marcelo Henriques Parente.
O último Boletim de Monitoramento Hidrológico da bacia do rio Paraguai, divulgado pelo SGM (Serviço Geológico do Brasil), aponta que o nível d’água registrado na estação de Cáceres está atingindo os menores valores mínimos já observados para esse período do ano, considerando toda a série histórica de dados, iniciada em 1965.
Nesta quarta-feira (4), o nível chegou a 54 cm, quando o esperado seria de 1,73 m. Na mesma época do ano passado, o rio marcava 85 cm.
Outras estações, como de Ladário e Porto Murtinho (ambas em MS), estão na zona de atenção para mínimas. Ladário registra 84 cm de nível d’água, quando o esperado para a época seria de 4,15 metros, segundo o SGM.
O boletim destaca que, como as chuvas previstas para as próximas semanas não serão significativas, o nível d’água do rio tende ao declínio na maioria das estações de monitoramento.
“Estamos caminhando para o terceiro ano consecutivo com déficit significativo de chuvas”, diz o pesquisador do SGB Marcus Suassuna.
No ano passado, as secas que atingiram a região impediram que embarcações navegassem com a capacidade máxima de carga, sob risco de encalharem em trechos mais rasos. Em Ladário, em agosto de 2020, o nível estava a menos da metade do registrado um ano antes, quando as chuvas já tinham sido abaixo da média histórica.
Parente, do CPRM, ressalta que não é possível definir quanto tempo a seca deve prevalecer na área e se o período chuvoso vai garantir que o porto possa operar. “Pela magnitude do fenômeno neste ano, me arrisco a dizer que no ano que vem não recupera, a não ser que haja uma anomalia de chuvas”, aponta.
De outro lado, a presidente do Sindicato Rural de Cáceres, Ida Beatriz Machado de Miranda Sá, diz que o fenômeno de seca intensa já foi observado na região na década de 1960 e que os produtores esperam que o ciclo também retorne à normalidade com o período de chuvas.
“No Pantanal, o clima tem essas oscilações e, pelos estudos que temos, pudemos constatar esse movimento, mas acredito que vá se normalizar, até porque em outros períodos já tivemos essa oscilação climática”, avalia. Mesma previsão faz o presidente da APH.
“Pelo histórico que já vivenciamos, parecido com o que estamos vivendo agora, acreditamos que esse ciclo esteja terminando, vamos torcer para isso até para a retomada dos níveis dos rios e do bioma do pantanal”, diz Reck.
Em nota, a Metamat afirmou que o porto ainda depende de licença ambiental da hidrovia para entrar em operação e que, atualmente, o nível da água impacta “de forma moderada” alguns trechos da hidrovia em Cáceres, até a localidade de Porto Morrinho.
Procurada, a Agência Fluvial de Cáceres, organização subordinada à Marinha e responsável pela segurança do tráfego aquaviário na região, não respondeu.