FALTA DE DINHEIRO

Sem dinheiro, 17% dos brasileiros deixaram de comer na pandemia, diz Unicef

41% das famílias entrevistadas diminuíram o consumo de frutas e verduras

OMS pede reação equilibrada à nova variante da Covid-19 - (Foto: Reprodução/Freepik)

Cerca de 27 milhões de brasileiros com mais de 18 anos ficaram sem comer desde o início da pandemia, segundo dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgados hoje. A informação faz parte da terceira rodada da pesquisa “Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes”.

Os participantes da pesquisa responderam se “desde o começo da pandemia, ou seja, desde o Carnaval de 2020, você ou alguém que mora com você deixou de comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida”. Ao todo, 17% responderam que sim. Para pessoas pretas ou pardas, a taxa ficou em 19%, e no caso das classes C e D, em 33%.

A pesquisa também afirmou que 13% das pessoas que moram com crianças ou adolescentes disseram que elas deixaram de comer durante a pandemia da covid-19 por falta de dinheiro. Nas casas com crianças brancas, a taxa ficou em 8%, contra 17% para crianças negras ou pardas.

“Uma família que não consegue se alimentar adequadamente está vivendo na mais absoluta privação de direitos”, afirma Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil. O fechamento das escolas contribuiu, segundo ela, para a piora do cenário, já que muitos alunos dependem da merenda escolar para se alimentar.

Dados do Painel de Monitoramento da Educação Básica no contexto da pandemia, da UFG (Universidade Federal de Goiás), com apoio do MEC (Ministério da Educação) apontam que mais de 650 redes municipais não oferecem alimentação aos seus estudantes.

Segundo a pesquisa, 41% das famílias entrevistadas diminuíram o consumo de frutas, verduras e outros alimentos não industrializados.

Renda diminuiu na pandemia

Segundo a Unicef, 56% dos entrevistados disseram ter sofrido uma queda na renda salarial desde o início da pandemia. No caso de pessoas que recebem até um salário mínimo, a diminuição aconteceu em 80% dos casos, contra 31% em pessoas que recebem mais de 10 salários mínimos.

Em novembro do ano passado, o percentual de famílias com até um salário mínimo que afirmaram ter sofrido uma diminuição na renda desde o início da pandemia foi de 69%.

As principais causas de diminuição foram:

  • Redução de salário de alguém da família (56%);
  • Diminuição em vendas ou clientes (55%);
  • O trabalho de alguém da família foi suspenso temporariamente (52%);
  • Redução das horas de trabalho de alguém da família (46%).

“Isso mostra o aumento das disparidades e a importância das políticas para essa população. Sabemos que houve auxílio emergencial, e sem esse tipo de políticas a situação seria ainda pior para populações mais vulneráveis”, aponta Florence.

O Unicef fez outras duas pesquisas do tema em novembro e julho de 2020 com mulheres e homens das diferentes regiões do país.

“É fundamental continuar investindo e reforçar as políticas de transferência de renda, oportunidades de emprego para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, reabertura segura das escolas e outras políticas sociais voltadas a essa parcela da população”, finalizou.

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