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Ambulantes lucram com cerveja a R$ 15 no Carnaval de São Paulo

Com a venda de cerveja a R$ 15 a garrafa long neck e a R$…

Com a venda de cerveja a R$ 15 a garrafa long neck e a R$ 10 a lata, a presença dos blocos no Carnaval de rua fora de época em São Paulo, ainda que tímida, trouxe alívio aos vendedores ambulantes. Trata-se de um grupo que trabalha de maneira informal e foi prejudicado pelas medidas restritivas durante a pandemia de Covid-19.

folia na rua e a Parada do Orgulho LGBT, prevista para o dia 19 de junho na capital paulista, são as festas mais lucrativas, segundo ambulantes ouvidos pela reportagem, nos dois primeiros dias de desfiles de blocos na cidade.

A dinâmica dos dois eventos, onde público e vendedores compartilham do mesmo espaço e debaixo de sol, contribui para o volume de vendas e, consequentemente, lucro.

Desta vez, como a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) cancelou o Carnaval de rua, coube aos líderes de alguns blocos organizarem toda a infraestrutura do cortejo e divulgá-la.

Com o evento sendo realizado de maneira informal, a Ambev, que pagaria R$ 23 milhões para patrocinar os desfiles de rua —cancelados em janeiro por causa da variante ômicron do novo coronavírus, que na época superlotou as unidades de saúde—, não teve exclusividade para vender os produtos de sua marca.

Na informalidade, há variedade de bebidas geladas e destiladas, assim como rótulos de cervejas, aos foliões. Entre elas, a Itaipava e a Heineken, que concorrem com a Ambev.

Em nota, a cervejaria que patrocinou os últimos Carnavais diz que segue estritamente o que está previsto nos editais de licitação e na legislação, inclusive para a relação mantida com ambulantes autorizados a atuar nos locais públicos. “Além disso, oferecemos a eles acesso a itens gratuitos de infraestrutura como caixas térmicas e guarda-sol, entre outros, além de facilidade logística para transporte dos produtos”, afirma.

“Muito folião gosta de outra marca. Quando é com a Ambev, fazemos um cadastro para trabalhar e só podemos vender pelo preço tabelado”, afirma Priscila Odete Barbosa, que agora diz calcular o preço que acha justo.

Ela e o marido deixaram a casa em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, para vender bebidas durante o desfile do bloco Baco do Parangolé, no bairro da Água Branca, zona oeste da capital. Eles levaram caixas de isopor lotadas de garrafas long neck, latas e gelo.

Priscila e Patrícia Rufino, outra vendedora ambulante, dizem que a margem de lucro quase dobrou. “A gente recebia de R$ 2 a R$ 3 livre para cada latinha vendida. Estamos tirando livre agora, pelo menos, R$ 6”, afirma Patrícia.

O valor líquido, segundo Priscila, é apurado após descontar os gastos com aquisição das mercadorias e o gelo. “Mas temos ainda as nossas despesas, a viagem de Itaquaquecetuba até São Paulo, a alimentação e, principalmente, nossa diária”, diz Priscila.

No bloco Feministas, na Barra Funda, também na zona oeste, o ambulante Victor Cotias afirma que o fluxo de vendas no feriado prolongado de Tiradentes está bom, mas ainda não supera o do Carnaval oficial. “Está bom, mas isso aqui é só um esquenta”, afirma.

Outro ponto positivo, na opinião dos vendedores, é o fato de conseguirem negociar com o cliente o preço, sem a necessidade cumprir à risca qualquer tabela.

A reportagem observou o momento em que uma foliona pediu por uma cerveja e perguntou o preço. Ao ser informada que custava R$ 15, a mulher argumentou que havia comprado antes três unidades por R$ 10 cada. Priscila, então, disse que a “casa abriria uma exceção”.

Para o vendedor Thiago Monteira, que trabalha nas ruas há 12 anos, apesar da vantagem de poder praticar o preço, há um clima de insegurança com a ausência de uma patrocinadora. “A Ambev, no caso, nos credencia, então a prefeitura não pode recolher nossos produtos. Estamos correndo um risco assim. A vantagem é somente a do preço mesmo”, diz.

A queixa, porém, é quanto ao esvaziamento da folia nas ruas. Com o receio de sofrer represálias por causa da falta de apoio da prefeitura e de operações especiais da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana), nem todos os blocos divulgam a sua programação, o que de certa forma resulta numa menor adesão de foliões, quando comparado às edições anteriores.

Em meio à falta de informações, os ambulantes compartilharam em grupos de WhatsApp a localização dos blocos mais animados para encostar o carrinho cheio de bebidas.

“A gente nunca vem na certeza. Sai procurando”, diz o ambulante Rafael Lima de Oliveira, 32. Já na rua, entra em ação o espírito de colaboração entre eles, maior do que a concorrência. “A gente se comunica bastante”, afirma.

Oliveira investiu R$ 2.000 em bebidas, que ganham gelo só no caminho entre a zona leste, onde mora, e o centro expandido, cenário do Carnaval. No feriado de quinta-feira (21), ele parou na rua Barra Funda, onde foliões se reuniram no Bloco do Amor.

A camareira Rosenilda Rosa, 49, aproveita o Carnaval para complementar a renda. Ela soube por um grupo de WhatsApp que o Bloco do Amor tinha gente suficiente para compensar a viagem de metrô desde a zona leste. “A gente precisa se virar. Fiquei desempregada durante um tempo”, afirma.

Vendedores de cerveja gostariam de divulgação

Para alguns dos ambulantes, o lucro seria maior se houvesse mais divulgação, como costumava acontecer em outros Carnavais.

“Quando acontece o Carnaval oficial, tudo é divulgado, é evento de grande porte e você ganha porque tem muito público”, afirma Abel Costa, que aguardava na região da Barra Funda a indicação do melhor bloco para se instalar.

Apesar da solidariedade entre parentes, amigos e alguns grupos maiores formados no aplicativo de mensagens, também há disputa feroz por espaço ao redor dos blocos.

Nesta sexta-feira (22), por exemplo, dezenas de vendedores já disputavam espaço no entorno da praça Olavo Bilac, no centro, à espera dos foliões do Bloco Feminista. A rede de informações de cada um dos grupos já dava conta de que ali seria o desfecho da festa.