Servidores da Anvisa denunciam tentativa de intimidação após aprovação da vacina para crianças
Servidores destacam que falas de Bolsonaro podem endossar um clima de ameaças, que já estava ocorrendo com funcionários da agência
Servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) relatam uma tentativa de intimidação após a aprovação da vacina da Pfizer para ser aplicada em crianças de 5 e 11 anos, ocorrida na última quinta-feira (16/12). Tudo ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro dizer, em uma rede social, que iria divulgar o nome dos responsáveis pela liberação do imunizante ao novo público-alvo.
“Existe um certo temor na equipe que está envolvida com a avaliação das vacinas das consequências dessa fala”, afirmou uma servidora ao Fantástico, da TV Globo, que preferiu não se identificar.
“Eu acredito que esse tipo de comportamento na democracia, no regime democrático, ele tem que ser enfrentado com muita coragem, porque nós não podemos ficar reféns do medo”, disse um outro funcionário.
Os especialistas reforçam que a vacina é segura e eficaz. “Infelizmente, mais uma vez, o negacionismo frente às vacinas vem preponderando no país. Insinuações de que o órgão não tem uma decisão qualificada, pressão, querendo saber os nomes de quem aprovou a vacina. São medidas contra a saúde pública e contra a saúde das crianças brasileiras”, afirma Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Relembre toda polêmica sobre aprovação da vacina
“A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão”, declararam, em nota, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e os quatro diretores da agência.
Os servidores já haviam recebido ameaças por causa da temática. Em outubro, um homem do Paraná enviou um e-mail em que ameaçava de mortes os diretores. Dias depois, uma nova mensagem eletrônica, desta vez anônima, estendeu a ameaça a todos os funcionários, até para quem serve café na agência.
O presidente da Anvisa foi pessoalmente à Polícia Federal para pedir proteção aos diretores da empresa. Um inquérito segue em sigilo e foi encaminhado à Justiça Federal.
Veja a nota completa da Anvisa após ameaças de Bolsonaro
“Nota Anvisa
Em relação às declarações do Sr. Presidente da República durante “Live” em mídia social no dia 16 de dezembro de 2021 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária comunica:
A Anvisa, órgão do Estado Brasileiro, vem a público informar que seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas.
O serviço público aqui realizado, no que se refere à análise vacinal, é pautado na ciência e oferece ao Ministério da Saúde, o Gestor do Plano Nacional de Imunização – PNI, opções seguras, eficazes e de qualidade.
Em outubro do corrente ano, após sofrer ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos, por parte de agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Agência Nacional se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento.
A Anvisa é líder de transparência em atos administrativos e todas as suas resoluções estão direta ou indiretamente atreladas ao nome de todos os nossos servidores, de um modo ou de outro.
A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão.
Antonio Barra Torres, Diretor-Presidente
Meiruze Sousa Freitas, Diretora
Cristiane Rose Jourdan Gomes, Diretora
Romison Rodrigues Mota, Diretor
Alex Machado Campos, Diretor”
*Com informações do G1