Silvio Santos depõe no caso do rombo no Panamericano
Por 55 minutos, Silvio respondeu às perguntas dos advogados dos acusados, do procurador da República Rodrigo de Grandis e do juiz que conduz o processo, Marcelo Cavali.
O empresário e comunicador Silvio Santos depôs, na terça-feira, 19, na Justiça Federal como testemunha de defesa de um dos réus na ação penal sobre o rombo de R$ 4,3 bilhões no Banco Panamericano, que um dia fez parte do seu conglomerado e quebrou em 2010. “Me diziam que o banco era uma maravilha”, afirmou Silvio, ao ser indagado se tinha conhecimento das fraudes.
Chegou quase uma hora antes do início da audiência, foi tietado pelas moças da limpeza do fórum e por servidores, mas desta vez não distribuiu aviõezinhos de notas de R$ 100 e pouco exibiu o sorriso que o acompanha desde sempre na TV.
Por 55 minutos, Silvio respondeu às perguntas dos advogados dos acusados, do procurador da República Rodrigo de Grandis e do juiz que conduz o processo, Marcelo Cavali. O animador foi evasivo e recorreu, muitas vezes, à expressão “não me lembro”. O magistrado o advertiu, nas formas da lei, sobre falso testemunho que é crime. “Claro que vou dizer a verdade”, jurou Silvio.
A sessão foi marcada por indagações sobre o depoimento que ele próprio prestou à Polícia Federal em 2011. Na ocasião, disse acreditar que o presidente do banco, Rafael Palladino, era o “autor intelectual” da estratégia que levou ao rombo. Ontem, em Juízo, declarou: “Acho que o Rafael deve ter concordado, mas não que tenha sido o autor intelectual. O cérebro era o Wilson (de Aro, ex-diretor financeiro do banco), esse era até professor de Finanças. O Rafael não é tão competente quanto o Wilson. Não é possível que o Rafael tenha sido o autor intelectual, não creio que tenha competência para isso. O Rafael é cunhado, sei lá.” Foi exibida a Silvio cópia daquele depoimento. O magistrado perguntou se ele confirmava o teor do relato à PF. “Tem um bocado de coisa aqui, não há necessidade de eu ler, deve ser tudo verdade.”
Foi admoestado. “Não cabe ao senhor avaliar, responda ou não.” Perguntado se foi coagido ou se acrescentaram detalhes ao seu relato, declarou: “Provavelmente, o delegado não pôs nada na minha boca, até porque não é tão fácil alguém colocar alguma coisa na minha boca”. Indagado sobre a informação de que um executivo do grupo teria deixado a sede da instituição financeira com “recursos em espécie”, disse: “Falaram alguma coisa, que alguém levou R$ 16 milhões para a garagem, um de nome italiano. É tanta coisa que falam que eu não me lembro. Se você vai se preocupar com fofoca, é melhor ser funcionário do que ter empresa”.
Sobre saques em espécie no banco, esquivou-se. “Eu não sei nem onde é a tesouraria.” Silvio disse que “não sabia” dos bônus para os executivos da instituição – expediente que, para a PF e para a Procuradoria, sangrou o caixa do banco. “Minha função é só animador de programa. Não recebi nenhum dividendo do banco, nada, zero.”
Sobre a situação deficitária do Panamericano, afirmou: “Me diziam que o banco sempre apresentava uma situação maravilhosa. O Rafael (Palladino) era o presidente, dizia-se dele que era o melhor executivo que eu tinha. Eu só me reportava ao Sandoval (Sebastião Sandoval, então presidente do Grupo Silvio Santos) com muita competência. Não acredito que ele esteja envolvido em qualquer situação irregular no banco. Auditorias e a fiscalização do BC, lamentavelmente, falharam”.
Contou que recebeu os executivos da holding no SBT, quando foi comunicado sobre “o tumulto”. “Eu disse: ‘vocês que se virem’. Eu creio que nenhum deles, à exceção do Rafael sabia o porquê (do rombo).” À saída, Silvio manteve a estratégia. “Quem foi o responsável pelo rombo?”. “Eu sei lá, você pergunta pra polícia, eu não sou policial.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.