Sindicato diz que Enel reduziu equipes de manutenção durante período chuvoso
Empresa nega e ressalta que ampliou investimento. Enel entra no processo de deixar o mercado goiano
A Enel reduziu o número de funcionários responsáveis pela manutenção da rede elétrica durante o período chuvoso. É o que afirma o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás (Stiueg). De acordo com a entidade, desde a mudança da titularidade, a empresa não tem feito os repasses às empresas terceirizadas, o que causou a diminuição do número de equipes responsáveis pela manutenção das redes.
Em entrevista ao Mais Goiás, o diretor do sindicato, Donizete Candido Vaz, ressaltou que as empresas que prestam serviços para a Enel não estão enviando trabalhadores e que alguns já receberam aviso prévio de demissão. A situação levou o sindicato a fazer uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
“Ela [Enel] deixou de passar os repasses para as empresas terceirizadas. Se o repasse acaba, as terceirizadas param de enviar os trabalhadores. A Enel não está mais preocupada com Goiás. Tchau, já era. Muitas terceirizadas já deram aviso prévio aos trabalhadores. Isso aumenta muito a pressão no trabalho”, disse Donizete.
Período chuvoso
De acordo com o Stiueg, essa situação acontece justamente no período chuvoso, momento em que as redes mais precisam de manutenção. Ainda segundo a entidade, técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tiveram que ser deslocados para Goiás.
“Com esse período chuvoso, a falta de manutenção tende a piorar. Esse período é o mais complicado para o fornecimento de energia. Na hora que precisa contratar eles fazem o inverso. Recebemos informações de que estão vindo técnicos da Aneel para resolver a situação”, disse Donizete.
O dirigente sindical afirmou ainda que essa situação está precarizando ainda mais as condições de trabalho dos funcionários. “A dificuldade dos trabalhadores é a precarização do trabalho. Esses dias um trabalhador se acidentou e veio a falecer. Eles cobram segurança, mas não dão segurança. Hoje os acidentes são causados pela pressão e pelo sufoco que as empreiteiras estão fazendo”.
Resposta
Por meio de nota, a Enel afirmou que segue trabalhando normalmente para garantir a confiabilidade do fornecimento de energia. A empresa ressaltou que não desmobilizou as operações da empresa e que não houve atraso nos repasses às empresas terceirizadas, que prestam serviços para a companhia.
A nota pontua ainda que o Estado tem sido fortemente impactado pela força das chuvas, “com ventos de 80km/h e descargas atmosféricas, que causaram severos danos à rede elétrica”. Segundo a empresa, o número de equipes em campo, para concluir os reparos necessários aumentou em 2,5 vezes com relação a 2019 e, “na manhã de ontem (25), mais de 99% dos clientes impactados já estavam com serviço normalizado”.
Por fim, a empresa ressaltou que ampliou o investimento, que “cumpriu com todos as ações previstas no termo de compromisso firmado com o Governo do Estado” e que o trabalho resultou “numa redução média de mais de 50% na frequência e 40% na duração das quedas de energia em Goiás”.
Privatização
A Enel comprou a Celg Distribuição (Celg-D) em 2016 por R$ 2,2 bilhões, cabendo a Goiás cerca de R$ 1,1 bilhão ou R$ 800 milhões líquidos, porém, deixando um passivo de R$ 12 bilhões ao Tesouro Estadual.
A Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR), responsável pela fiscalização do fornecimento de energia elétrica no Estado de Goiás, notificou a Aneel no último sábado (22/10). A sinalização pedia por uma análise aprofundada da situação criada no Estado de Goiás pela Enel, ao suspender ações preventivas do Plano Verão, a ser implementado no período chuvoso, que se intensificará a partir desta semana.
No mesmo ofício, a AGR pediu à Aneel a adoção de medidas conjuntas para garantir a adequada prestação dos serviços de energia elétrica à população goiana, com ênfase no cumprimento do programa de manutenção preventiva e emergencial durante todo o período chuvoso.
Com dificuldades em cumprir as metas estabelecidas pela agência reguladora e considerada uma das três piores concessionárias do país, a empresa entra no processo de deixar o mercado goiano. Em setembro, a Equatorial comprou o controle total da Celg-D por R$ 7,5 bilhões – sendo R$ 5,7 bilhões em dívidas assumidas e quase R$ 1,6 bilhão em pagamento.
Para o Stiueg, a troca de empresa não vai resolver o problema. “Depois da privatização, só piorou. Hoje o mundo privatizado não resolve. O que queremos é a reestatização da empresa. Muitos países estão fazendo isso e esse é o caminho. Todos precisam de energia, tanto as pessoas quanto as empresas, o agro, etc. A Equatorial, pelo que vemos no Brasil, não é muito diferente da Enel”, concluiu.