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Só 37% dos restaurantes doam sobras de comida próprias para consumo

Com o retorno do Brasil ao Mapa da Fome das Nações Unidas, indicador de que mais de…

Com o retorno do Brasil ao Mapa da Fome das Nações Unidas, indicador de que mais de 2,5% da população enfrentam falta crônica de comida, o percurso da doação de alimentos que não foram comercializados e que estejam dentro da validade ainda é tortuoso: apenas 37% dos estabelecimentos doam os excedentes próprios para consumo. É o que revela uma pesquisa da Ticket, marca de benefícios ao trabalhador da Edenred Brasil, a qual o Prática ESG teve acesso com exclusividade.

Em estabelecimentos como restaurantes, lanchonetes e bares, 61,5% dos locais geram sobras de comida diariamente. Ainda assim, em 31,7% a doação ocorre eventualmente e quase o mesmo percentual sequer faz isso.

“Apesar da aprovação em 2020 do Projeto de Lei [número 1194/20] que permite a doação do excedente de comida, muitos comerciantes ainda se sentem inseguros. Uma parcela afirma que a doação pode acarretar problemas para o local e alguns chegaram a questionar se é permitido doar. Isso é consequência da falta de informação e de conscientização”, comenta Felipe Gomes, diretor-geral da Ticket.

Os dados foram levantados em 175 locais em parceria com a Comida Invisível, startup social que oferece uma plataforma completa com métricas e indicadores de ESG.

-Sabemos que o desperdício está fortemente ligado aos hábitos de compra, armazenamento, preparo e reaproveitamento da comida. Decidimos fazer um levantamento que nos ajudasse a assimilar quais práticas contribuem para o desperdício dentro do ecossistema da alimentação fora do lar para desenvolver ações de melhoria – explica Jean Castro, Diretor de Rede de Estabelecimentos da Ticket.

Incentivo fiscal estimularia doações

Segundo o levantamento, 73% consideram que um eventual incentivo fiscal a quem combate o desperdício seria muito importante para estimular a doação. Além disso, a cessão de um selo que identifique a loja como sustentável é apontado como muito importante por metade dos respondentes.

– O comércio está disposto a mudar esse cenário do desperdício, mas para isso seria fundamental o investimento em iniciativas públicas que criem mecanismos que estimulem a destinação mais correta para as sobras de comida, que seria o prato de pessoas carentes e em situação de rua – avalia Gomes.

A incipiência das doações reflete o atraso que persiste no Brasil em relação ao tratamento dos alimentos, na opinião de Cleide Moretto, economista e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF). Gestões com uma visão unificada e ampla baseada na chamada “hierarquia de recuperação de alimentos” são determinantes para enfrentar a perda de recursos naturais escassos e horas de trabalho empregados na produção.

– O conceito amplo de desenvolvimento sustentável chega para o mercado através do ESG. O desafio agora é superar o modismo e envolver o ambiente e o social conectado ao setor produtivo para uma mudança completa de comportamento. Para que as pessoas possam olhar para o cotidiano e questionar suas escolhas – pondera.