OPERAÇAO LAVA JATO

STF deve confirmar em plenário decisão que anula condenações de Lula

ntendimento de que processos não poderiam ter sido julgados em Curitiba tem apoio até mesmo entre ministros favoráveis à Lava-Jato

Plenário do Supremo Tribunal Federal (Foto: divulgação/STF)

O Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara nos bastidores para confirmar, no julgamento em plenário, a decisão do ministro Edson Fachin que anulou as condenações impostas pelo ex-juiz Sergio Moro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O argumento é de que a 13ª Vara Federal de Curitiba, antes conduzida por Moro, não era o foro adequado para conduzir os processos. Esse resultado não anula a decisão tomada na terça-feira pela Segunda Turma, de que Moro agiu com parcialidade na condução do processo sobre o tríplex no Guarujá (SP), já que as ações são diferentes.

O julgamento em plenário ainda não foi agendado, mas deve ocorrer no início de abril. Será analisado um recurso da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a decisão de Fachin, tomada em 8 de março. O ministro declarou, na ocasião, que a Segunda Turma não precisaria mais julgar a suspeição de Moro. No entanto, o colegiado decidiu julgar e concluiu que o ex-juiz foi parcial na condução de um dos processos contra Lula. Se essa questão voltar a ser discutida em plenário, o mais provável é que a maioria dos ministros declare a validade da decisão da Segunda Turma.

Se o plenário confirmar a decisão de Fachin, estará praticamente selando o destino político de Lula. Sem as condenações, o petista ficará habilitado para concorrer nas eleições de 2022 – uma hipótese improvável de inelegibilidade, em função do tempo escasso, é a condenação em duas instâncias em algum dos processos que restaram . Antes da decisão de Fachin, Lula estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura de condenados por decisão colegiada.

Enquanto a decisão da Segunda Turma tratou apenas do processo do tríplex, o caso a ser examinado em plenário diz respeito a todos os quatro processos contra Lula – entre eles, o do tríplex e o do sítio em Atibaia, que resultaram em condenação.

Entre os ministros do STF, há uma divisão entre defensores da Lava-Jato, com aval à conduta dos investigadores e do ex-juiz Sergio Moro. Do outro lado, há críticos da forma como os procuradores e o magistrado conduziram os processos. Dos dois lados, há apoio à decisão tomada por Fachin. O primeiro grupo baseia-se no argumento técnico de que os processos contra Lula não tinham relação direta com a Lava-Jato. O segundo grupo também defende essa tese, mas é também motivado pela análise de que a operação cometeu excessos.

O presidente do STF, Luiz Fux, é um dos maiores defensores da Lava-Jato. Sempre que pode, defende publicamente os investigadores da operação em Curitiba e também aprova a conduta do ex-juiz Sergio Moro. Em plenário, no entanto, o ministro poderia confirmar a decisão dada por Edson Fachin para anular condenações impostas por Moro a Lula. Isso porque estará em jogo não a suspeição do ex-juiz, mas se a Justiça Federal em Curitiba era ou não o foro adequado para conduzir as investigações. O mesmo pode acontecer em relação a Luís Roberto Barroso e Rosa Weber, também tidos como lavajatistas.

Dúvida sobre Cármen e Nunes Marques

Carmen Lúcia costuma defender a Lava-Jato também. A mudança de atitude, porém, ficou clara na terça-feira, quando mudou um voto proferido em 2018 para, agora, declarar que Moro foi parcial na condução de um dos processos contra o ex-presidente. Disse, porém, que sua interpretação se limitava ao caso concreto e não necessariamente poderia se alastrar para outras situações. Portanto, não é possível prever como votaria em plenário, em outra ação.

Kassio Nunes Marques é outra incógnita. O mais novo integrante do STF ainda não havia se manifestado em voto sobre questão relevante da Lava-Jato até a última terça-feira. Ministros garantistas da Corte tinham esperança de que ele declarasse Moro suspeito na condução de processos contra Lula. No entanto, o novato se apegou a um aspecto técnico e declarou que o habeas corpus não era o tipo de ação adequado para se questionar idoneidade de magistrado. Se posicionou, portanto, pela imparcialidade de Moro. Em plenário, não se sabe se votará contra ou a favor da decisão de Fachin, já que a parcialidade do ex-juiz não estará em jogo.

Entre os ministros garantistas – ou seja, que priorizam os direitos individuais dos investigados em detrimento do punitivismo imediato –, destacam-se Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Os três não poupam críticas públicas a Moro e aos procuradores da Lava-Jato. Portanto, a expectativa é que também sigam o posicionamento de Fachin em plenário para manter anuladas as condenações a Lula.

Marco Aurélio Mello, como de costume, poderá destoar da maioria. Ele compõe a Primeira Turma, e não a Segunda Turma, não costuma dar decisões ou opinar sobre a Lava-Jato. No entanto, já disse publicamente que o foro para processar as ações contra Lula é mesmo o Paraná – portanto, a expectativa é que vote para derrubar a decisão de Fachin e manter as condenações contra o ex-presidente.