O homem apontado como suspeito de agredir a modelo transexual Alice Felis foi preso nesta quinta-feira (20) no Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na zona sul do Rio. Lucas Brito Marques deve responder por tentativa de latrocínio, motivado por transfobia. A defesa do suspeito diz que ele contestará a tese de transfobia, mas confirma que houve “mútuas agressões”.
Ele foi considerado pela polícia um homem perigoso, que tinha mais de 20 anotações criminais e estava foragido. A advogada da modelo, Feh Oliveira, disse também que ele é conhecido por aplicar golpes em trans e homossexuais.
Alice conheceu o suspeito em um bar em Copacabana na noite de domingo. Os dois decidiram seguir para o apartamento dela no mesmo bairro, local onde aconteceram as agressões. A modelo afirmou ter sido espancada e roubada. Ela teve o nariz e o maxilar quebrados. Levou pontos no queixo, testa e no pé, além de ter perdido ao menos cinco dentes.
A vítima ainda está muito machucada e relata não conseguir comer nem dormir com medo. “Eu não estou aguentando dormir, não estou aguentando tanta dor, estou com medo de dormir, tô em pânico, tô com medo de alguém entrar no apartamento. Eu fecho o olho e me vem na cabeça tudo o que aconteceu comigo”, disse a modelo na madrugada de hoje nas redes sociais.
Após o anúncio da prisão, Alice foi à delegacia e confirmou a identidade do suspeito. Ela já havia feito anteriormente o reconhecimento por fotos durante o seu depoimento.
“Vou começar a me tratar psicologicamente, fisicamente e mentalmente, de todas as formas que eu puder. Tenho só gratidão a todo mundo que está me ajudando. A gente tem que ser forte e não desistir nunca (…) Graças a Deus ele foi preso. Nunca tinha sido vítima de agressão. É a pior situação, nunca pensei que fosse passar por isso”, disse a modelo na saída da delegacia.
Para a advogada da vítima, Feh Oliveira, o caso pode servir para ajudar a mudar o pensamento de parte da população sobre transexuais.
“As pessoas estão acostumadas a ver transexual na posição de ladra, de agressora em razão dos estigmas e da marginalização que essa população sofreu ao longa da história. As pessoas tendem a desconfiar da Alice, acham que ela está mentindo, fazendo isso para aparecer. Para vocês verem, os médicos legistas ficaram impressionados com a brutalidade, em situações normais de violência doméstica, a vítima vai uma vez ao IML, Alice vai ter que voltar mais três vezes, além de ser submetida a uma série de cirurgia”, desabafou a advogada.
Segundo a delegada Bianca Lima, no momento da prisão o homem confirmou que esteve com a modelo, mas deu uma versão diferente sobre o fato.
“Ele confirmou que estava com ela, mas narra versão diferente. Não foi um depoimento, foi uma conversa breve que tivemos, mas confirmou que esteve com ela”, explica.
Suspeito responderá por tentativa de latrocínio
Ele vai responder por tentativa de latrocínio motivada por transfobia, já que além de agredir a vítima, o autor teria roubado R$ 3.600 da casa dela. “A gente percebe pelo depoimento que teve discriminação em relação à identidade de gênero dela”, diz Bianca.
Há um mandado de prisão temporária de 30 dias expedido contra o suspeito. Lucas tem passagem pela polícia por roubo, tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e homicídio.
“Os próximos passos são: aguardar os laudos, pedimos exames de local e papiloscópico e laudo de reconhecimento facial do IFP (Instituto Félix Pacheco). Esse laudo já está pronto e foi feito com base nas fotos que a vítima nos forneceu e confirmaram a identidade do Lucas”, explica a delegada.
Lucas deve prestar depoimento amanhã à polícia na presença do seu advogado. O advogado do suspeito, Thiago José Ferreira Rocha Fernandes, afirmou que tentará desqualificar a denúncia.
“A estratégia se baseia na desclassificação do latrocínio motivado por transfobia para lesão corporal”, explicou. Segundo ele, Lucas não agrediu a trans motivado por ódio, o que ocorreu foram mútuas agressões durante um desentendimento motivado pelo consumo de bebidas alcoólicas e substâncias ilícitas.
Vítima ganha apoio nas redes
A agressão à modelo contou uma rede de solidariedade. Uma vaquinha online foi feita para ajudar a modelo a fazer as cirurgias necessárias no rosto e reorganizar o apartamento que foi destruído pelo agressor. O imóvel onde Alice mora é alugado.
Alice ganhou apoio de inúmeras pessoas na internet, incluindo famosos como as cantoras Pabllo Vittar e Preta Gil e o youtuber Felipe Neto.