DEMOCRACIA

Tentativa de barrar eleição configura crime de responsabilidade, diz Barroso

Presidente do TSE afirmou que declarações do presidente Bolsonaro são 'lamentáveis'

Barroso diz que Brasil tem déficit de civilidade após ser interrompido em palestra em Oxford - (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta sexta-feira (9) que qualquer tentativa de impedir a realização de eleições em 2022 “configura crime de responsabilidade”.

Na quinta-feira (8), o chefe do Executivo voltou a defender a implementação do voto impresso no país e disse que em 2022 “ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições“.

Nesta sexta, Bolsonaro chamou Barroso de “idiota” e “imbecil”, voltou a criticar as urnas eletrônicas e disse que “a fraude está no TSE”.

“A fraude está no TSE, para não ter dúvida. Isso foi feito em 2014”, declarou o mandatário, repetindo a acusação infundada de que o então candidato Aécio Neves (PSDB) teria vencido o pleito contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Por meio de nota, o magistrado classificou as afirmações do presidente como “lamentáveis”, afirmou que Bolsonaro foi instado a apresentar as provas de fraudes que diz ter sobre as eleições e que nada apresentou. Acrescentou que a realização de eleições “é pressuposto do regime democrático”.

“Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade”, disse Barroso.

Em relação à afirmação de Bolsonaro de que as eleições de 2014 foram fraudadas e de que o atual deputado Aécio Neves (PSDB-MG) teria vencido o pleito, Barroso afirmou que até o PSDB fez auditoria no resultado em busca de irregularidades e que nada encontrou.

A afirmação de Bolsonaro foi contestada pelo próprio Aécio, que disse não acreditar que tenha existido fraude naquela eleição.

O magistrado citou ainda que também os ministros do STF Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Weber presidiram o TSE de 2014 para cá e que as acusações de Bolsonaro contra a corte eleitoral atingem a todos.

“A acusação leviana de fraude no processo eleitoral é ofensiva a todos”.

Segundo o ministro, desde a implementação da urna eletrônica, em 1996, nunca se documentou qualquer episódio de fraude.

“Nesse sistema, foram eleitos os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Como se constata singelamente, o sistema não só é íntegro como permitiu a alternância no poder”, disse.

Na última quarta-feira (7), após o chefe do Executivo levantar suspeita contra o TSE, Barroso havia afirmado que estava em um compromisso fora do Brasil e que não queria ser incomodado com “mentiras e miudezas”.

De lá para cá, a temperatura entre o Palácio do Planalto e o TSE também esquentou devido a uma decisão da corte que dificultou a filiação de Bolsonaro ao Patriota.

O presidente da República tem feito recorrentes afirmações falsas sobre as eleições no Brasil, com acusações infundadas de que pleitos passados foram fraudados e que ele só será derrotado em 2022 caso haja irregularidade semelhante —pesquisas recentes apontam o favoritismo do ex-presidente Lula (PT).

O próprio Bolsonaro, porém, foi eleito para o Legislativo com base no sistema em diferentes ocasiões, assim como venceu o pleito para o Palácio do Planalto em 2018 da mesma forma.

Bolsonaro defende a adoção do voto impresso —segundo ele, auditável. Tramita no Congresso uma proposta nesse sentido, mas a ideia conta com oposição de uma coalizão de partidos, alguns deles da própria base de Bolsonaro.

Nesta sexta, após apresentar a apoiadores uma teoria para justificar sua alegação de fraude, Bolsonaro criticou o relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu provável principal adversário na eleição ano que vem.

O mandatário repetiu ainda ameaças de que, no sistema atual, o Brasil pode não ter eleições em 2022.

“Então isso é fraude, é fraude, é roubalheira. Vocês acham que o Renan Calheiros, por exemplo, se pudesse fraudar a votação ele fraudaria pelo caráter que ele tem? A única forma de bandidos com Renan Calheiros se perpetuarem na política, entre outros que estão do lado dele, o nove dedos, é na fraude”, afirmou Bolsonaro, referindo-se mais uma vez de forma pejorativa a Lula.

​”Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma [atual], corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, acrescentou.