Video games

The Legend of Zelda completa 30 anos

Uma das franquias de jogos mais bem sucedida de todos os tempos acaba de fazer aniversário

No dia 21 de fevereiro de 1986, a Nintendo lançava no Japão para NES (Nintendinho, para os íntimos) o primeiro jogo do que se tornaria uma das suas franquias mais conhecidas: The Legend of Zelda. Atrás em popularidade, talvez, apenas do rechonchudo Super Mario, a roupa verde e a espada do protagonista Link já são imagens naturalmente associadas ao mundo dos video games. E não, o nome dele não é Zelda. Zelda é a princesa. Ao longo de trinta anos a série já lançou dezenas de títulos para praticamente todas as plataformas Nintendo: Super Nintendo, N64, Game Boy, Game Boy Color, Game Boy Advance, DS, 3DS, Wii, Wii U… Mesmo tão esparramado, cada jogo sempre gira em torno dos mesmos personagens e elementos: o herói Link, a princesa Zelda, o reino de Hyrule, a Triforce, a relíquia dos deuses, e o terrível vilão Ganon.

Criada por Shigeru Miyamoto, Takashi Tezuka e Eiji Aonuma (este responsável pela série até hoje), o primeiro jogo da franquia foi o primeiro jogo da Nintendo a vender mais de um milhão de cópias nos EUA mesmo sendo lançado por lá apenas no final de 1987 e progrediu para vender mais de seis milhões de unidades pelo mundo. O sucesso fui inesperado e grandioso, catapultando uma sequência já em 1988: The Legend of Zelda II: The Adventure of Link, que vendeu mais de 4 milhões de unidades. Mas foram os jogos lançados em 1991 para Super Nintendo e em 1998 para N64 que viriam a definir a série: The Legend of Zelda – A Link to the Past e The Legend of Zelda – Ocarina of Time.

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Zelda original de 1986

Nestes 30 anos, foram mais de 75 milhões de cópias vendidas no mundo todo. A Nintendo não costuma divulgar os valores arrecadados, então basta dizer que a franquia está entre as 20 mais bem-sucedidas de todos os tempos. Ela está atrás apenas de outras séries da Nintendo (como Pokémon e Super Mario) e algumas franquias modernas, como Assassin’s Creed, Final Fantasy e Call of Duty. Nós conversamos com alguns fãs para saber o que torna a franquia tão especial após tantos anos e que eles esperam dela.

“Eu acho que a grande graça do Zelda é o fato de ter as qualidades de um RPG, como a exploração de uma área vasta e uma progressão de equipamentos e dificuldade, e um ambiente imersivo muito forte. E, claro, tem uma história que consegue atrair basicamente pessoas de todas as idades. Mas vai além, pois os jogos se encaixam em uma linha do tempo contínua: então jogar um Zelda é conhecer uma pequena peça de um quebra-cabeças que já vem sendo montado há 30 anos por várias gerações”, conta o advogado Edson Amaral. Ele resume bem o que parece encantar os fãs. Narrativa e jogabilidade foi o que chamou a atenção da jornalista Ana Maria Antunes: “eu sei que existem outros critérios para se gostar de um jogo, mas sempre o que eu mais levo em conta é a narrativa. Também gosto bastante da dinâmica de derrotar inimigos e resolver puzzles nas dungeons”. Já para a estudante Amanda Măslin, o enredo sempre é a melhor parte: “A graça pra mim no geral é que a franquia é muito rica em história, mas cada jogo tem suas particularidades”.

Exatamente por sua variedade e alcance, cada um dos três entrevistados conheceu a série por uma plataforma diferente. Edson jogou uma fase de Ocarina of Time na casa de um amigo e se apaixonou; Amanda jogou A Link to the Past no Super Nintendo abandonado pelas irmãs mais velhas e Ana Maria jogou Oracle of Sages e Oracle of Seasons no Game Boy Color quando ela e o irmão mais velho enjoaram de Pokémon. Logo, a pegada clássica de aventura somada a elementos básicos de RPG e exploração acabou cativando os três. Porém, com o passar dos anos, a série dá sinais de desgaste. Embora Twilight Princess, penúltimo jogo da franquia, tenha vendido mais de oito milhões de unidades, o jogo mais recente, Skyward Sword, não vendeu nem quatro milhões.

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Zelda: Skyward Sword, último jogo lançado pela franquia

 

Muitos, inclusive os fãs, culpam a Nintendo, por não tentar inovar para renovar: “Pra mim é até piada que quando a Nintendo vai anunciar jogos novos o pessoal já ta tipo ‘ok, vai ter um Zelda novo, Mário novo… Outro Pokémon.. E mais personagens no Smash Bros talvez?'”, critica Ana Maria. “Mas o problema recai principalmente a Nintendo. A Nintendo morre de medo de sair do padrão”, completa Edson. Ele acredita que a empresa se foca mais em tentar repetir os sucessos do passado do que criar coisas novas: “Eu penso que o Legend of Zelda passa por um problema sério de perspectiva. Como o Ocarina of Time foi um jogo que, em diversos sentidos, inovou e alterou pra sempre os jogos de RPG/aventura em alguns de seus sistemas, sendo inclusive considerado por muitos o melhor jogo da história. Os fãs sempre usam o Ocarina of Time como um parâmetro inatingível e não importa o esforço dos desenvolvedores eles nunca vão alcançar aquele jogo”.

Mesmo assim, ele tem esperança no até agora chamado de ‘Zelda U’, jogo que sairá eventualmente para o Wii U: “existe muita esperança de mudança no novo Zelda, que, segundo o Aonuma, chefe de desenvolvimento da série, vai se inspirar em Skyrim e terá um mundo incomparável até então. A expectativa com o Zelda U é alta. Espero que eles realmente façam um mundo amplo, com mais possibilidades de side-quests e, principalmente, que façam a mudança que os fãs de Zelda mais esperam: o fim da linearidade do jogo. Que o jogo seja realmente livre e possa ser completado como cada um quiser”. Já Amanda gosta tanto da série que não acha os jogos repetitivos: “Eu não acho que seja o mesmo jogo sempre, porque eu tenho um carinho pela franquia, o jogo foi um marco na minha infância. Pra quem não tem essa ligação talvez tenha ficado maçante depois do décimo título, vai saber”.

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Ana Maria Antunes

Outro ponto é que a série passou a ser bombardeada por acusações machistas por repetir a fórmula da ‘donzela em perigo’. Ela já variou em alguns episódios da franquia, com uma participação mais ativa da princesa Zelda e de outras personagens femininas. Até uma versão feminina do herói Link acaba de ser criada, Linkle, mas que não irá – pelo menos até agora – estrelar um jogo da série principal. O tema gera divisão entre os fãs. Edson acha que um jogo protagonizado pela Linkle – ou a opção de escolher o gênero do protagonista – seria interessante: ” Em alguns gêneros de jogos isso pode ser desnecessário, mas em um RPG/Adventure, onde é muito importante que o jogador se sinta representado in-game, a limitação do personagem ao Link é muitas vezes uma situação frustrante”.

Já Ana Maria e Amanda discordam. Elas acham que não precisam trocar os gêneros de Link e Zelda em um jogo, mas usar melhor as personagens femininas já criadas – inclusive a Linkle: “Eu imagino que existam fãs pedindo por isso para terem uma protagonista feminina, e representação é algo importante. Acho que já foi um grande avanço terem criado a Linkle no Hyrule Warriors e gostaria de ver essa personagem em outros jogos da franquia”, opina Ana Maria. Amanda completa: “Tipo fazer um Link mulher? Se for assim eu não acho legal. Mas um game onde se jogue com a Zelda, Saria, Impa.. Tem muitas personagens femininas interessantes na franquia, não é necessário sacanear o Link”.

Amanda não acha que a franquia seja machista: “Não acho que Zelda seja machista, rola mesmo um mimimi sobre a mocinha indefesa e o herói, mas isso é papo de quem nunca jogou. A Zelda tá sim em perigo algumas vezes, mas de indefesa ela não tem muito. Ela é f#da pra cara###!”. Ana Maria acha que a série tem traços machistas sim, mas acredita que rolou uma mudança com o passar do tempo: “Embora o nome da princesa esteja no título, a Zelda é deixada em segundo plano sim. A franquia é boa parte ‘donzela em perigo’ principalmente nos jogos mais antigos. Em Ocarina of Time mesmo, sempre que Zelda aparece de vestido ela está em problemas: durante o ataque de Ganondorf à cidade durante a infância, e quando ela é seqüestrada adulta após revelar sua identidade. É frustrante ver que ela só tem mais presença e atitude no jogo quando está com um disfarce masculino. Acho que não atingimos um ponto de falar ‘olha, personagem feminina ficou bacana, nem tenho o que reclamar’, mas já sinto progressos vendo a Tetra em Windwaker e a Zelda de Twilight Princess. Como qualquer franquia grande de jogos The Legend of Zelda escorrega em representação feminina, mas acho que já evoluiu bastante”.

 

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Amanda e sua tatuagem temática de Zelda

E para a última polêmica, muito se brinca sobre um filme o série de TV baseada nos jogos. Isso é uma boa ideia? “Filme de jogo é uma faca de dois gumes. Quando eu era criança achava o máximo os filmes de Tomb Raider. Hoje eu assisto e fico meio chocada. Zelda tá muito bonitinho nos consoles, deixa ele lá”, declara Ana Maria. “E eu gostaria de ver um seriado do Zelda, talvez com 10 episódios, no esquema de Marco Polo do Netflix”, disse Edson, ligeiramente mais esperançoso. Já Amanda está em cima do muro como a maior parte dos fãs, mas não resistiria: “Sobre um filme de Zelda eu tenho medo, vejo a indústria cinematográfica acabando com coisas que eu amo (O Último Mestre do Ar, vamos combinar). Prefiro que não façam, mas se rolar eu estarei na pré-estreia com certeza (risos)”.