‘Todes’ não pode: governo proíbe uso de linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet
Portaria assinada pelo secretário especial de Cultura do governo Bolsonaro, Mário Frias, e publicada na…
Portaria assinada pelo secretário especial de Cultura do governo Bolsonaro, Mário Frias, e publicada na edição desta quinta-feira (29) do Diário Oficial da União proíbe o uso da chamada “linguagem neutra” em projetos financiados pela lei Rouanet. Esta linguagem é marcada pela substituição de artigos e desinências masculinos e femininos pelas letras “x” e “e”.
“Fica vedado o uso e/ou utilização, direta ou indiretamente, além da apologia, do que se convencionou chamar de linguagem neutra”, diz a portaria. A linguagem neutra — também chamada de “pronome neutro”, “linguagem não binária” ou “neolinguagem” — é a proposta de adaptação da língua portuguesa para que as pessoas não binárias (quem não se identifica nem com o gênero masculino nem com o feminino) se sintam representadas. Assim, “amigo” ou “amiga” virariam “amigue” ou “amigx”, segundo uma das propostas. As palavras “todos” ou “todas” seriam substituídas, da mesma forma, por “todes” ou “todxs”.
Frias comentou o assunto no Twitter e disse que a linguagem é, na opinião, ameaça que pode “destruir” a língua portuguesa. “O objetivo (da portaria que proíbe o uso da linguagem neutra) é garantir a ampla fruição dos bens culturais, não permitindo que uma imposição de cima para baixo inviabilize ou dificulte o acesso à cultura”, escreveu osecretário em outro tuíte.
Já existem propostas que impedem o uso desse recurso nas escolas em 14 estados. Em Santa Catarina, a ideia já virou até decreto.
O braço-direito do secretário Mário Frias, André Porciuncula, afirmou também no Twitter que “a linguagem neutra (que não é linguagem) está destruindo os materiais linguísticos necessários para a manutenção e difusão da cultura”.
“O uso de signos ininteligíveis, cujo objeto é mera bandeira ideológica, impede a fruição da cultura e seus produtos, pois interrompe o processo de comunicação da língua”, frisou ele, ao justificar a medida.
Porciuncula defende, no mesmo tuíte, que a linguagem neutra exclui a população, “principalmente aqueles que são deficientes visuais e auditivos, os quais não podem contar com a tradução dos programas de computação, que permitem a acessibilidade, uma vez que os mesmos não são capazes de identificar o expediente da ‘linguagem’ neutra”.