Trabalho no Censo do IBGE vira oportunidade para aposentados e estudantes
Ainda sem experiência profissional, o jovem Miguel Patriota Panza, 20, viu no Censo Demográfico 2022…
Ainda sem experiência profissional, o jovem Miguel Patriota Panza, 20, viu no Censo Demográfico 2022 uma oportunidade para ingressar no mercado de trabalho.
Morador da Vila da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, o estudante de comunicação social avançou no processo seletivo com 183 mil vagas temporárias para recenseadores.
São esses profissionais que terão a tarefa de visitar 75 milhões de domicílios espalhados pelo país em breve, a partir de 1º de agosto, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) planeja iniciar as entrevistas do levantamento.
O Censo é considerado o trabalho mais detalhado sobre as características demográficas e socioeconômicas da população brasileira.
“Sempre achava maneiro quando via os dados do IBGE e do Censo na escola”, diz Panza. “Trabalhar no Censo também é uma oportunidade para ter o meu próprio dinheiro”, acrescenta o jovem, que vive com os pais.
Assim como os outros candidatos que avançaram no processo seletivo para as vagas de recenseadores, Panza participa nesta semana de um treinamento presencial promovido pelo IBGE.
Essa etapa de preparação começou nesta segunda-feira (18) em cerca de 10 mil salas de aula espalhadas pelo Brasil. A capacitação dos recenseadores vai até sexta (22). Quem coletará dados de povos como indígenas e quilombolas terá um dia a mais de aula, na segunda (25).
Aposentado volta após Censo de 1970 O economista e contador aposentado José Roberto Castro, 72, também participa das atividades. Em uma situação bem diferente da registrada por Panza, Castro enxerga no Censo uma porta de retorno para o mercado de trabalho.
“Estou aposentado e vi que surgiu a prova para recenseador. Fiz a avaliação para ver se passaria e se conseguiria trabalhar um pouco. Com 72 anos, a gente não consegue emprego”, afirma.
Morador de Copacabana, zona sul do Rio, Castro diz que não trabalha desde 2004, quando deixou uma vaga de contador para se aposentar.
A função de recenseador não chega a ser novidade, já que ele desempenhou a mesma tarefa no Censo de 1970, aos 20 anos de idade. O que mudou de lá para cá, reconhece, foi o uso da tecnologia para a pesquisa.
“Em 1970, não tinha celular, nem computador, nada disso. Você recebia uma pilha de papel com os questionários e saía para fazer as entrevistas”, recorda.
Na visão de Castro, o maior desafio para o recenseador é convencer parte da população a responder às perguntas do IBGE, mesmo que as informações coletadas sejam de caráter confidencial e protegidas por sigilo.
“O difícil hoje, devido à violência, é chegar aos domicílios. Em 1970, já era difícil, mas não tive tanta dificuldade. Tinha até pessoas que falavam: ‘Vem cá, vamos tomar um uísque’. Eu dizia: ‘Não, estou trabalhando'”, lembra, sorrindo.
Oportunidade para quem não conseguiu emprego
Andrea Antunes Lopes, 49, também participa do treinamento para trabalhar como recenseadora pela segunda vez.
A moradora do Morro do Cantagalo, zona sul do Rio, ocupou a função na edição mais recente do Censo, realizada em 2010. À época, ela visitou moradias em comunidades da zona sul carioca.
Conforme Andrea, o que pesou na hora de fazer a inscrição de 2022 foi a dificuldade de encontrar emprego, além da experiência vivida 12 anos atrás.
Andrea conta que trabalha, de maneira informal, em aulas de reforço escolar para crianças. Porém, a quantidade de alunos diminuiu nos últimos tempos.
“Não consegui emprego com carteira assinada”, relata. “A oportunidade do Censo foi aquela que surgiu para eu conseguir alguma renda”, completa. Ela diz que é preciso ter “jogo de cintura” para trabalhar como recenseadora.
O levantamento conduzido pelo IBGE também serve como oportunidade de renda para Sérgio de Oliveira Lima, 44. Morador de Copacabana, ele afirma que atuou como vendedor em uma loja de eletrônicos até 2019. Com a chegada da pandemia no ano seguinte, não conseguiu novo emprego.
“O primeiro ponto que pesou para a inscrição foi o financeiro. Estou sem trabalho desde o início da pandemia. Não consegui voltar para o mercado, e essa oportunidade acabou pintando”, conta.
“Estudei geografia e história e me formei em comunicação social. Gosto muito desse tipo de pesquisa, já fiz trabalhos parecidos em outras ocasiões”, emenda.
Lima entende que “a receptividade” dos moradores é o maior desafio para o trabalho do recenseador. “A questão da violência fica muito na cabeça das pessoas. Mas uma boa divulgação sobre o Censo ajuda nesse ponto”, analisa.
Como identificar os recenseadores Em uma tentativa de auxiliar a população, o IBGE apresentou uma cartilha de como identificar os recenseadores e evitar eventuais contratempos.
Os profissionais usarão um boné do Censo e um colete do instituto. O colete terá um crachá de identificação exposto na parte frontal, à esquerda para quem observar a peça de frente.
Além disso, os agentes contarão com um DMC (dispositivo móvel de coleta), o equipamento eletrônico que registra os dados das entrevistas.
Entrevistas presenciais, pela internet ou pelo telefone
O Censo 2022 contará com três formas de abordagem para preenchimento dos questionários. Além da presencial, haverá as opções pela internet e pelo telefone. As duas abordagens alternativas, contudo, não dispensarão algum contato presencial.
Para responder pela internet, o informante deverá aguardar a visita do recenseador, que irá cadastrar email e celular. Nessa modalidade, o morador terá sete dias para preencher o questionário.
Já a coleta por telefone será uma solução nos casos em que os moradores não forem encontrados na residência durante a visita do recenseador, diz o IBGE.
Essa modalidade poderá ser utilizada também quando o informante não puder receber o agente no momento da entrevista. Assim, poderá ser feito um agendamento para a coleta presencial das informações ou por telefone.
Os salários dos recenseadores são variáveis, dependem da produção individual. Quanto mais entrevistas eles fizerem, mais recebem. É possível simular a remuneração no site do Censo 2022.
A carga horária semanal é indicada em 25 horas de trabalho. A estimativa de duração dos contratos é de até três meses, mas há possibilidade de prorrogação, se isso for necessário.
“Começaremos a etapa presencial do treinamento dos recenseadores, mas eles já estão sendo treinados há tempos”, disse Cynthia Damasceno, gerente de treinamentos de censos do IBGE, em nota divulgada na manhã desta segunda.
“Preparamos um curso em EAD (ensino a distância) com conceitos fundamentais do Censo e esse conteúdo caiu na prova do processo seletivo simplificado”, apontou.
“Os recenseadores passaram também por uma etapa autoinstrucional com a leitura prévia do Manual do Recenseador e do Manual de Entrevista, disponíveis no site do Censo 2022. Eles já iniciaram o treinamento bem antes de estarem em sala de aula”, completou.