Tratamento contra câncer no sangue entra em fase de testes, em São Paulo
Pesquisa será conduzida em parceria com a Faculdade de Medicina de São Paulo e o Hemocentro de Ribeirão Preto
Pesquisadores brasileiros preparam-se para testar — a partir do primeiro semestre do ano que vem — uma nova alternativa para tratamento de um tipo de câncer no sangue, o linfoma não Hodgkin de células B
Trata-se de uma terapia com as chamadas CAR-T Cells — que são linfócitos (células de defesa) modificadas em laboratório para se tornarem capazes de identificar o tumor e atacá-lo com maior potência.
A estratégia de tratamento em uso para esse estudo foi desenvolvida por especialistas do Instituto Butantan em parceria com o Hemocentro de Ribeirão Preto e alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O mesmo mecanismo desenvolvido por esses pesquisadores paulistas já foi utilizado por brasileiros, porém, através de “testes compassivos”, quando médicos — de maneira independente – decidem optar por uma terapia experimental ao se depararem com quadros em que as estratégias conhecidas de cuidado com o paciente estão esgotadas.
Agora, porém, a vontade dos centros de pesquisa é entender melhor o mecanismo das CAR-T Cells para tornar mais difundidas no país terapias com as mesmas .
— Quando realizamos um estudo clínico, pensamos além da saúde daquele único paciente participante, miramos adiante, para que aquela terapia seja melhor estudada e possa ser aplicada em escala, para mais pessoas — diz Gil Santis, um dos pesquisadores do estudo e médico do hemocentro de Ribeirão Preto.
A ideia é que a nova terapia entre em estudo no primeiro semestre do ano que vem. O teste engloba por volta de 30 pacientes com idades entre 18 e 70 anos. A pesquisa será bastante específica: terá foco em pacientes que tiveram retomada da doença após os tratamentos convencionais. Também participarão do estudo os pacientes que não preenchem os requisitos para o transplante de medula óssea.
— Nosso objetivo é oferecer esse tratamento a quem não tem esse recurso. Recebemos mensagens de pessoas desesperadas procurando por essa alternativa — afirma o pesquisador.
A duração da pesquisa será de um ano. Ao longo desse período, será avaliada a segurança do tratamento — isso é, se seus efeitos adversos podem ser tolerados pelos pacientes. Ainda será observada a resposta clínica do grupo de pesquisados, 30 e 90 dias após a infusão das células “turbinadas”. A ideia é observar também o impacto do tratamento na redução da doença e a sobrevida do paciente. Embora o estudo tenha previsão de apresentar resultados em 12 meses, os pacientes, por sua vez, serão acompanhados ao longo de 12 anos.
O Instituto Butantan informa que o custo do tratamento com as CAR-T Cells é bastante elevado – dada a complexidade de “preparo” das células. A estimativa de cada tratamento, nos modelos atuais, é de R$ 500 mil. Uma produção em escala, porém, poderia baixar esse custo. A ideia da nova pesquisa clínica é incluir o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo está de mãos dadas com a criação de dois novos centros de terapia gênica, em São Paulo e Ribeirão Preto. As instalações, de acordo com o Butantan, incluem laboratórios de controle de qualidade, salas de produção de vírus e de armazenamento dos produtos a serem aplicados nos pacientes.