Três semanas após atos, secretário relata cotidiano de quase 1 mil golpistas que seguem presos no DF; veja
Em entrevista exclusiva, o delegado Wenderson Souza e Teles falou sobre a logística para alocar tantas pessoas de uma só vez nas cadeias; apenas 7% do total são moradores de Brasília
Em dezembro de 2021, o delegado Wenderson Souza e Teles foi nomeado secretário estadual de Administração Penitenciária do Distrito Federal após uma operação do Ministério Público e da Polícia Civil apontar suposto superfaturamento em contrato de aluguel da pasta. Foi, no entanto, no último dia 8 que o servidor recebeu um dos mais importantes desafios de sua carreira: alocar, de uma só vez, 1.398 presos nos atos golpistas e encaminhadas aos presídios de Brasília, onde já estavam 15.273 pessoas.
Atualmente, com 457 liberdades provisórias deferidas durante as audiências de custódia, 925 permanecem nas unidades, que abrigam 16.204 encarcerados no total.
— Até então, o fluxo estabelecido era de receber da carceragem da Polícia Civil uma média de 120 pessoas presas por semana, divididas em dois grupos, às terças e sextas-feiras. Na noite de domingo, 8 de janeiro, a partir das prisões nos atos da Praça dos Três Poderes, já começamos a atuar para administrar o aumento significativo desse número. Foram inaugurados blocos no presídio masculino, deslocados efetivos e designados mais de 900 policiais penais para realizar o acolhimento de todos — contou, em entrevista exclusiva ao GLOBO.
As 308 mulheres que continuam detidas desde aquele dia estão na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, que tem 1.028 vagas e 900 presas. Já os 617 homens foram levados para uma ala separada do Centro de Detenção Provisória II, que conta com 980 vagas e 1.485 presos – um excedente de 51% da capacidade. Um levantamento feito pela própria Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seape) mostra que apenas 71 deles, o que representa 7% do total, são moradores de Brasília. A maioria veio de São Paulo (177), Minas Gerais (141) e Paraná (93).
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Na última semana, a juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais, pediu que os presos sejam transferidos aos seus estados de origem. Em ofício enviado ao desembargador José Cruz Macedo, presidente do Tribunal de Justiça do DF, a magistrada mencionou a superlotação do sistema carcerário e pediu que ele “envide esforços” junto ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a fim de que seja providenciado o chamado “recambiamento definitivo”.
— Antes da alocação desses presos, já sofríamos com o déficit de vagas nos presídios. Mas hoje, a situação está controlada e sustentável, e, ainda que com mazelas, posso afirmar que o sistema penitenciário do Distrito Federal é um dos melhores do Brasil, sobretudo nos quesitos segurança e organização. Aqui, por exemplo, temos um controle efetivo das facções criminosas e conseguimos também impedir celulares dentro das unidades prisionais — pontua o delegado.
Segundo a Seape, nos últimos 22 dias, os presos receberam 1.769 atendimentos de advogados e as presas, 1.731. Neste mesmo período, foram feitos atendimentos de saúde, grande parte deles com psiquiatras e psicólogos, e três pessoas chegaram a ficar internadas. A partir da próxima quarta-feira, eles passam a poder receber também visitas agendadas por familiares. Até o momento, no entanto, apenas nove parentes se cadastraram para frequentar as cadeias.
Aos presos, são ofertadas duas horas de banho de sol no pátio das unidades prisionais e fornecidas quatro refeições diárias. No café da manhã, eles comem pão com manteiga ou margarina e um achocolatado. No almoço e no jantar, são servidos 150 gramas de proteína, 150 gramas de guarnição, além de feijão, arroz e um suco de caixinha. Já na ceia, eles recebem um sanduíche e uma fruta:
— Contamos com o apoio de outras áreas do governo, como as secretarias estaduais de Desenvolvimento Social e Saúde, e ainda conseguimos disponibilizar em tempo recorde 1.200 camisetas e bermudas, 800 escovas e pastas de dente, sabonetes, desodorantes e rolos de papel higiênico, 300 pacotes de absorvente, além de sabão em pó e água sanitária. Apesar de todas as dificuldades, os presos estão tendo seus direitos garantidos e respeitados.