Incêndio

Um ano após tragédia, sobreviventes do prédio no Largo do Paissandu não receberam novas moradias

Quase um ano após o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do…

Quase um ano após o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, os sobreviventes estão dispersos pela cidade. Recebendo um auxílio-aluguel de R$ 400, insuficiente para alugar outro imóvel na região, muitos se mudaram para comunidades próximas ou casas de parentes.

— Muitas famílias estão espalhadas. Poucas ficaram em abrigo. Outras estão na rua. Algumas pessoas foram para casas de parentes ou favelas da região — afirma frei Agostinho, da Pastoral da Moradia, que acompanha o caso desde o ano passado.

Fabia Rodrigues da Silva, de 35 anos, morava com dois filhos em um quartinho no terceiro andar do prédio do Paissandu. Desde o desabamento, a família vive em um espaço de um cômodo no Centro. O auxílio-aluguel, diz, não cobre as despesas.

— Não sabemos como vai ficar. Já faz um ano e ainda esperamos uma casa. Enquanto isso, cada um se vira como pode — conta.

A igreja luterana que ficava ao lado do prédio e que foi atingida pelo desabamento começou a ser restaurada. Os andaimes ficam junto ao terreno, hoje vazio, e com um muro onde, volta e meia, surgem cartazes e dizeres que lembram o ocorrido.

— As famílias estão inseguras. Recebem auxílio, mas não sabem quando vão ter casa. Algumas foram para a periferia, outras moram de favor ou em cortiços — diz Benedito Barbosa, advogado da União dos Movimentos de Moradia.

Ocupado por centenas de famílias, o prédio de 24 andares caiu após um incêndio em 1º de maio do ano passado. Sete moradores morreram, e dois foram dados como desaparecidos.

Na época, 435 famílias se apresentaram como vítimas e moradoras do prédio. Apenas 291 comprovaram vínculo com a ocupação e recebem auxílio-aluguel do estado. A partir do próximo mês, a prefeitura assumirá os repasses, “até o atendimento habitacional definitivo”, segundo a Secretaria Municipal de Habitação.

Meta de 25 mil moradias

A secretaria municipal diz que trabalha com um programa de metas para entregar 25 mil moradias em quatro anos na cidade.

Desde 2017, foram entregues 4.939 unidades, e outras 17 mil estão em obras. O déficit habitacional em São Paulo é estimado em 368 mil moradias, segundo o Plano Municipal de Habitação. Outros 830 mil domicílios estão em assentamentos precários.

Construções ocupadas são um desafio na capital paulista. Depois da tragédia no Paissandu, a prefeitura afirma ter visitado 75 imóveis — 51 deles eram efetivamente ocupados. Destes, 35 são prédios particulares.

Para as ocupações de propriedades públicas, a prefeitura informou que prevê transformar 11 delas em moradia popular ou equipamento público. Para isso, disse, em nota, ter iniciado negociação com a Caixa Econômica Federal.

Na mesma época do Paissandu, quatro edifícios foram interditados e outros três desocupados após decisão judicial de reintegração de posse.

O edifício Wilton Paes de Almeida já havia recebido um posto do INSS e foi sede da Polícia Federal. Nos anos 2000, os dois órgãos públicos deixaram o edifício para que ele fosse colocado à venda pela União. Com o prédio vazio e a demora em dar um novo destino, foi ocupado.

Três coordenadores da ocupação foram responsabilizados criminalmente por suspeita de não tomarem as medidas de segurança necessárias para evitar riscos de incêndio. Moradores dizem que eles cobravam taxas mensais que seriam para manutenção, conservação e limpeza. Não havia extintores de incêndio, e eram conhecidos os casos de “gatos” de energia nos corredores do edifício, apelidado como “prédio de vidro”.

Novas regras podem ajudar a prevenir casos como esse. A partir deste mês, o Corpo de Bombeiros do estado poderá aplicar multas a quem não cumprir normas de segurança contra incêndio.